Por Larissa Campos*

Like any uncharted territory
I must seem greatly intriguing
You speak of my love like
You have experienced love like mine before
But this is not allowed
You’re uninvited
An unfortunate slight 

(Uninvited – Alanis Morissette)

Imagine que a vida é um imenso mar. Dia desses estava pensando nisso. Quando você se depara com o mar, sente aquela mistura de sensações, de sentimentos. Dá vontade de correr e se entregar. Mas o medo também te segura, te impede de se atirar do jeito que gostaria. Então, aos poucos, você se aproxima dele, ganha confiança, sente a água fria tocar os pés, subir rumo aos joelhos, coxas, alcançar a cintura e, quando percebe, praticamente todo o corpo está embaixo d’água.

E então? O que fazer? Você pode optar por ficar ali, no lugar que te traz segurança: os pés ainda tocam a terra e basta ter cuidado para não ser arrastado por uma ou outra onda mais forte. Admirado, até olha o horizonte, todo aquele mar a sua frente, tantas possibilidades, mas é melhor não se arriscar.

No entanto, há pessoas que possuem um instinto mais aventureiro ou corajoso (como preferir). Esses não pensam muito e logo se atiram ao mar, nadam para todos os lados, exploram o que for possível e parecem não ter medo. Ou fingem bem. Não se apegam a locais específicos, não criam raízes e aproveitam a experiência de maneira mais desprendida. Gostam da superfície. Já me disseram que essa maneira de agir diante do mar (VIDA) talvez seja a mais inteligente. Será?

Uns têm medo, ficam à margem, olham o mar e até se contentam em molhar só os pés. Outros nadam sem parar, se lançam sem medo, mas ficam apenas na superfície. Mas além desses, há os que desejam conhecer o fundo do mar. Gostam de profundidade. Não podem viver sem saber o que está submerso, quais as surpresas, os desafios e as belezas que as águas profundas escondem.

Para esses não bastam apenas coragem e um bom preparo físico. É preciso equipamento, máscara, roupa apropriada, cilindro de ar, treinamento. Isso já é suficiente para perceber que ir ao fundo exige aparatos especiais, preparação, afinal, se trata de uma atividade mais arriscada, ou seja, mais perigosa. Na vida, quem se dispõe a mergulhar com profundidade precisa estar ciente dos riscos que corre. Mas também deve saber das recompensas que vai encontrar no caminho.

Quando mergulhar, muitas espécies de animais e plantas marinhas estarão diante dos teus olhos. Os corais mais lindos vão te encantar e a perfeição de tudo aquilo certamente vai te fazer pensar: Viver é maravilhoso! Mesmo diante de tanta beleza, é importante não perder o foco. Alguns perigos podem se apresentar e, nesse caso, estar atento vai fazer toda a diferença. Sem falar da importância de controlar o tempo, para não ficar sem ar e morrer afogado (o que seria um fim bem trágico).

É lógico que essa alegoria não é rígida. Em alguns assuntos queremos aventura, para outros desejamos cautela. Há momentos e questões que despertam nosso desejo pela profundidade, outras vezes queremos que as coisas aconteçam da maneira mais superficial possível. E assim alternamos nossos comportamentos, nossas decisões.

Recentemente compartilhei essa reflexão com uma pessoa. Ela, imediatamente, me situou no grupo das pessoas que vivem com profundidade. Confesso que, em muitos aspectos, realmente repito esse padrão, especialmente quando se trata de mim mesma. Não consigo imaginar quão chato seria viver um relacionamento superficial com si próprio. Já faz um tempo que decidi mergulhar em mim, me conhecer melhor e quem faz isso sabe os frutos que pode colher.

Quando se trata das relações interpessoais, a situação não é tão fácil. Mergulhar no mundo do outro exige muita disposição e abertura. Não adianta estar disposto, se o outro não der a permissão para que isso aconteça. Quando acontece, é como magia, criando laços e sintonia inexplicáveis entre aqueles que vivenciam a experiência. Mas não se esqueça: o mergulho sempre oferece algum risco. Conhecer a fundo as qualidades e os defeitos de alguém não é tarefa das mais simples. Pode ser que você deseje voltar imediatamente à superfície e correr para casa, porque não quer mais se deparar com o que viu. Mas pode ser que, mesmo diante dos defeitos e dificuldades, você deseje apenas mergulhar mais e mais.

Talvez por isso seja tão importante reconhecer quando se tem (ou não) permissão para mergulhar. Às vezes a gente realmente se fecha e não quer se mostrar além do básico, do superficial. E essa decisão precisa ser respeitada. E o mesmo acontece com aqueles com quem convivemos. Não dá pra forçar a barra. Se não te deram permissão, não mergulhe! Ou ainda, pode ser que você se conheça tão bem a ponto de saber que não deve mergulhar. Aí é mais sério: se nem você se deu permissão, seja fiel a esse sentimento e NÃO MERGULHE!

*Larissa Campos é jornalista e vive em Cuiabá.

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