Imagine que você está escrevendo uma história. Um conto, uma novela, um romance, qualquer coisa assim.

Então você traça um roteiro, um esqueleto da história para servir de guia, com início, meio, e fim.

Aí você pesquisa, vai atrás de notícias, de desentranhar fatos, observa comportamentos de animais e humanos, presta atenção aos fenômenos naturais, às pessoas e compõe personagens com determinadas características de personalidade, aparência, status social, descreve cenários, lugares específicos, ambientes, geografias, climas e uma infinidade de elementos para construir a tal história de ficção, pensada, sonhada, desejada e se põe a escrever.

De repente, surpresa! Uma personagem morre, outra muda de sexo, outra se perde pelo caminho, outra se droga, outra estuda e prospera, outra se torna assassina, outra se revela esquizofrênica e vira mendiga.

Logo mais adiante quando você finalmente começa a entender os dramas pessoais de cada uma, surgem outras, que nem estavam na história, mas que magicamente aparecem e fazem outros percursos e outros fatos acontecem.

Não, você não previu nada disso, você nem sequer cogitou a aparição dessas outras pessoas. Como assim, que elas surgiram do nada e mudaram tudo?  E porque aquele fio condutor inicial se desfez? Mistério.

A história começa a ficar estranha, toma outros rumos, e você percebe que não tem mais nenhum controle sobre aqueles personagens da sua ficção.

Eles ganharam vida própria, não te obedecem mais, na verdade eles nem sabem que você existe e que você, se julgando deus tinha programado um determinado destino para eles, uma trajetória específica, uma vida inteira em detalhes e pretensões.

Percebe? A ficção tomou conta de si mesma, você é apenas um escriba, e no final de tudo, essas personagens que você tanto prezou e zelou pela sua existência nem vão te reconhecer.

No final você estará sozinho, frente a uma tela de computador obsoleto, murmurando pragas por ter deixado a história escapar do teu controle, e não, não se iluda, nada disso vai ser tão diferente da vida real.

Afinal, vivemos uma ficção, ou será que você acha que isso aqui é de verdade mesmo?

 

2 Comentários

  1. Espetacular. Eu nunca conseguiria explicar tão bem esse mistério de ser literalmente “povoada” por idéias e palavras que caem de paraquedas dentro da minha cabeça.

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