Araras voam e pousam nas árvores esquálidas
Não chove há mais de 60 dias nessas terras; o chão está seco
eles gostam de observar as araras e não entendem que são os culpados pela morte dos bichos e das florestas e das chuvas
eles jogam água para molhar o verde e refrescar o ar que as araras respiram
não entendem que são os culpados pela morte de tudo que vive
seguem plantando soja e milho e algodão e rezam para que a chuva molhe suas lavouras de monocultura
rezam para que suas gigantescas extensões de terra sejam pulverizadas pelas gotas de água que caem do céu e escorrem o agrotóxico que jogaram para abater as pragas minúsculas, que devoram seus grãos
eu sou como Galeano disse, caçadora de palavras,
prefiro caçar palavras do que bichos, árvores ou gente,
aqui me refugio da secura que me pega,
volto para aquele lugar árido e o Sol estala em cima da minha cabeça
me sinto amaldiçoada por eleger pessoas que matam a natureza que é o que eu sou;

sou maldita por matar o que me dá a vida;

sou maldita por caçar palavras em troca de dinheiro, essa moeda suja que move o mundo em direção ao nevoeiro de areia, de sangue, e de veneno.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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