Foi assim: noite de festa, a lua cheia brincando de esconder entre as nuvens de um céu chuvoso. O mau-humor teimando em se manter aceso. Mas era-me imprescindível sair do meu confortável sofá para prestigiar a exposição fotográfica “Entre Instintos”, de Daniel Yonekubo e Marcelo Sant’Anna, que até então, para minha humilde pessoa, chamava-se Marcelo Almeida.

Ao chegar ao Metade Cheio, uma chuva desabou. Choveu a cântaros, a água escorrendo luminosa pelo chão alagado. Gosto de chuva, pensei, não me importo que chova muito, desde que eu possa apreciar sua graça pela janela.

Logo na entrada me deparei com uma “vitrine” de estantes cheias de livros, fiquei curiosa ao perceber as raridades que havia ali. No interior do cubículo duas moças bonitas conversavam entretidas com fábulas, contos e literaturas afins.

O pequeno hall também estava “vestido” com mobília e objetos bonitos, com cara de coisa antiga, o que me deixou bem feliz. Gosto de ver quando um ambiente adquire personalidade e passa aquela sensação de plenitude como quando as coisas encontram seu lugar.

Ao entrar no salão, ah! Grata surpresa, uma geladeira da Heineken repleta de adoráveis garrafas verdes. E gente. Muita gente que nunca vi. Um cheiro delicioso vinha da cozinha garantindo que as comidinhas deveriam estar muito palatáveis. Sempre dá uma fome nessas ocasiões.

Subi as escadas para o andar superior, e antes de entrar na sala onde estava montada a exposição, dei de cara com um moço simpático e gentil organizando as roupas de um brechó, e devo dizer, tudo muito elegante e de bom gosto, encantador. A essas alturas o meu humor havia mudado drasticamente.

A sala retangular estava iluminada com luzinhas de gambiarra e um vento fresco soprava pelas amplas janelas do casarão, fazendo oscilar a borda da cortina azul. Nas paredes, os misteriosos personagens das fotografias me olhavam do fundo escuro entre molduras numa composição claro escuro que me lembrou imediatamente as pinturas de Caravaggio.

O surrealismo das imagens estabelecia uma conexão mágica com um momento de profunda beleza, reparei no tom sépia e na textura aveludada da superfície das fotos. “Como será que ele conseguiu essa textura?”, me questionei intrigada. Depois ele me falou, mas não vou revelar aqui. É bom que uma parte do mistério permaneça.

Aí a noite virou festa mesmo, muita música boa com Cris Chaves, sua convidada passarinho Sabiá cantante, Caio Ribeiro com seu telefone mágico falando poemas em nossas cabeças, Karola Nunes e dj Chabo. Veio também o teatro Fúria com suas invenções interventivas desfilando cenas na calçada da rua. E o Spektrolab saracoteando performances lúdicas pelo Metade Cheio agora repleto de arte e gente até as bordas. Até transbordar.

Preciso voltar lá antes que a preguiça volte e eu desapareça entre as almofadas do meu sofá.

Até!

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