Por Glauber Lauria*

acabara de acordar no meio da noite, lúcida. ainda bebida no copo. havia dormido quantas horas? o quarto cheirava fortemente à cigarro. computador, luz, tudo ligado. sede, um gole d’água. o silêncio da casa. louça na pia. fome dos gatos. mais água. a madrugada era isso, uma lucidez desorganizada. gatos com fome. bebidas no copo. livros pela casa. sabia que havia escrito. havia escrito algo. o que havia escrito? palavras. cem palavras. “sans parole”. como o alcóolatra do Verlaine. a queda da casa de Usher. Warpaint. música para o silêncio. quebra de existência. rumor na madrugada. acender um baseado. são quantas horas mesmo? cristãos não estão acordados. escultura Karajá. Freud, cinzeiro, ipês em florada. o quarto anda quase à roda, melhor sentar. facebook? uma passada. ela respondeu, mas quase nada. abrir o sebo, mudar de casa. ser em outro estado.  o jornal. a profecia do Ruy, a crônica do Ruy, oferecimento, disponibilidade. existem substitutos sim. por que não moças Castro? a delicadeza dos livros. as encadernações desejadas. um Xenofonte, por que não Sartre, conheces Lautreamont? fique a vontade. sim. como no final em Joyce. sim. como Molly. rs. vender livros tarados ou colecioná-los? literatura erótica? D.H. Lawrence. Anaïs Nin, literatura pornográfica. rótulos para sabrinas júlias e bárbaras. a escrava Isaura, Helena, Senhora, Moreninha, mas ordinária. rs. Carne Doce, Warpaint, outro cigarro. feminista é quem lê Camille Paglia. puta ninguém se intitula. e vamos todos ouvir Elza Soares. o problema não é ter eleito um babaca, o problema é sermos o babaca. as mulheres em geral são tão idiotas, os homens nem se fala. eles falam? bobagens. canalhas. a humanidade, essa piada. e aqui Bataille, Byron, Eliot. esses caras. livros tateiam outra humanidade. a madrugada passa. eu, sem ler Ana Cristina Cesar. Hilst em sua roça. Cora em sua quinta. liberdade a todas as meninas. o baseado apaga.

Glauber Lauria é poeta mato-grossense e mora no mundo. 
Nascido em 1982, publicou de forma independente o livro Jardim das Rosas em Caos, 
já participou de três antologias em diferentes estados brasileiros 
e possui poemas publicados nos seguintes periódicos Sina, Acre, Fagulha, Grifo, 
Expresso Araguaia e A Semana.

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