Se há algo que marca esses tempos de contemporaneidade é a obsessão das pessoas com a construção de suas próprias imagens. Obsessão que não se limita a fisicalidade do desejo pelos padrões estéticos inalcançáveis, mas que atravessa para um plano mais subjetivo, da imagem que se constrói sobre aquilo que está além da carne, os valores, o estilo de vida, o poder de consumo.

Nas leituras em que investiguei o significado de “moral” a pergunta que delineia esse conceito é sempre essencialmente a mesma: o que você faz quando ninguém está olhando?

Mas hoje, em um contexto de explosão do uso das redes sociais, da consolidação do que se tornou a sociedade do espetáculo, me deparei com a procura de um novo conceito. Um que fosse capaz de responder uma outra face dessa mesma pergunta: o que você faz quando todo mundo está olhando?

Na ausência de resposta continuo pelo caminho dos questionamentos. Se a era digital levou o gerenciamento da própria imagem pra outro nível, em que cada um se tornou o editor da timeline da própria vida, quais são os valores que regem as decisões sobre o que mostrar ou o que esconder? O que existe fora do quadro? E não é a própria fotografia uma arte que caminha nesse mesmo território? A decisão sobre o que mostrar ou o que esconder não está no cerne do trabalho do fotógrafo? Seria possível encontrar uma imagem sequer que possa ser considerada um fragmento não intencionado?

A inquietação com essas questões é o motor dessa série fotográfica (A imagem que habito), um convite à subjetividade do leitor para mergulhar nesses mesmos questionamentos, em busca da construção de um olhar mais atento às intenções por trás desses recortes e posicionamentos visuais.

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