na minha tela de liquidez rostos derretem-se em flashs e selfies, um like para afagar meu ego, um curtir para demonstrar interesse, compartilhar para mostrar que se importa, tirar a máscara social, despir-se das convençoes impostas, permitir ser o que se é, lembrando que discurso de odio não é liberdade de expressao, que fingir amor não é o mesmo que amar, que mentir não se justifica como proteçao, e seguimos assim, distantes como astros que nunca se esbarram, conectados a nossa ilusao de sermos constantes, eternizados nas telas lcd, troco likes, sigo de volta, me comunico, te contacto pelo inbox, te juro que nao sou spam, podemos ser eternos em nossos cookies, minhas abas abertas no meu navegador pirateado, as falsas emoçoes escondidas pelo skype, seu sms falhou, o banco cobrou uma taxa pelo uso do app, eu tô online mas vida só se vive no offline, eu me desconecto para te encontrar mas te sigo no instagram, te replico no twitter, te guardo nos meus contatos, na minha caixa de mensagens só tem voce, nas minhas fotos vejo seu rosto me fitando pela tela de 4.7 polegadas, voce no HD, em alta definiçao, sem precisar solicitar amizade e nem pedir para ser incluso nesse jogo de likes, eu quero só o que é real, o que posso tocar para além desse smartphone pago em dez prestaçoes sem juros e sem correçoes monetarias, fico sem 4g, sem rumo e sem gps, sigo meus instintos, me desconecto, de novo, vou ao encontro dos meus sonhos, mas volto para compartilhar a ultima serie consumida no momento, uma foto com meu sorriso mais forçado, uma dose de alcool ou um cigarro entre os dedos, arregalo meu olho pintado de maquiagem, o rimel borra meu corretivo, as compras online chegando e o cartao de credito vencido sem saldo sem debito, transformo meus problemas em emojis e se estiver na internet tá tudo bem, tô feliz, é verdade que nao tem panelas batendo, que ninguem me conta dos indios morrendo, que eu to seguindo minha vida de uber, pq o unico caos que enxergo é o transito elevando a fatura da corrida, tô imersa nesse mundo de aparencias ate o pescoço, corro da superficialidade para me debater na sua rede.

Compartilhe!
Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

Deixe um comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here