Conheci Agostinho Bizinoto quando fiz uma entrevista para a TV Cidade Verde, SBT local na época, por volta de 1991, e confesso, logo vi que ele era uma figura ímpar, completamente comprometido com o ser humano e suas possibilidades de desenvolvimento, ou seja, com as potencialidades latentes que estão aí para serem oportunizadas, trabalhadas e passíveis de serem investidas. Pode-se dizer que era um sujeito ser humano que amava o outro sem restrições, em sua plenitude. É tão raro isso que ele me pareceu um cara muito especial e tenho plena convicção que não me enganei em relação àquela percepção inicial que tive.

Encontramo-nos algumas outras vezes em eventos culturais, sempre nesses eventos, e a intensidade desses encontros compensou o pouco tempo que tivemos de compartilhar esperanças e ideias para avançar no desenvolvimento de políticas para a cultura como princípio fundamental para o desenvolvimento humano, eram sentimentos e coisas que comungávamos de forma absoluta, coisa de irmandade e cumplicidade acima de qualquer suspeita. Certas pessoas são capazes de se entregar de forma tão intensa que não importam seus defeitos ante essa qualidade de se entregar com a visão impregnada do que o outro representa na escala das relações humanas. Isso se torna mais importante ainda nos dias de hoje quando observamos as relações tão individualistas e desprovidas de humanidade – a era da extrema humanimaldade de e.cummings.

586174O amor pelo teatro e pela cultura em sua totalidade como expressão humana capaz de transformar vidas foi a tônica na vida desse cara, desse guerreiro. Amor por Alta Floresta e trabalho incessante pelo desenvolvimento da região foram marcas que ele imprimiu no coração dessa porção amazônica. Isso ninguém tira, nunca vai apagar, foi um trabalho para sempre e no futuro será história. Já é, eu diria, pois história é coisa que se faz no dia a dia, nas lutas que travamos para reconhecermos nossos papéis na produção da vida e memória afetiva que carregamos.

Senti necessidade de falar do Agostinho, como senti em relação ao Pedro Pianzo, como uma forma de inseri-los no contexto do teatro de Mato Grosso que está em franca expansão. São pessoas que fazem parte de um legado histórico que não podemos deixar cair no inferno do esquecimento.

Mineiro de Araporã, Agostinho Bizinoto, morreu  aos 64 anos, vítima do câncer. Deixou quatro filhos e a esposa, Elisa Gomes, vereadora em Alta Floresta.

apuracaoEm Alta Floresta chegou em 1987 e, desde então, promoveu animação cultural das mais notáveis que deixou legados inquestionáveis, como o Teatro Experimental de Alta Floresta, em atividade há 29 anos e a Praça do Avião, espaço que acolheu diversas manifestações culturais. “Era grande sua fé na cultura, não dá para pensar no Teaf, sem pensar em Agostinho”, emocionou-se o ator e diretor de teatro, Ronaldo Adriano.

182445Atuou como produtor cultural, escritor e editor de livros, ator, diretor, dramaturgo, músico, roteirista e diretor de cinema. Exerceu também o cargo de presidente da Federação Mato-grossense de Teatro.

Contribuiu para criar o Conselho Municipal de Cultura, implantar a gestão pública de cultura, provocar o engajamento de Alta Floresta com instituições e movimentos culturais estaduais e nacionais, bem como empenhar-se incansavelmente pela criação de legislação para o setor cultural (Lei Municipal de Apoio e Incentivo à Cultura, Lei Municipal do Patrimônio Histórico-Cultural de Bens Materiais e Imateriais). Criou ainda, entidades artístico-culturais das mais diversas linguagens, como música, dança, artes plásticas e artesanato, dentre outras iniciativas.

Comportou-se como importante porta-voz, que possuía um conhecimento incalculável sobre a cultura de Alta Floresta. “Minha preferência, em toda a minha trajetória foi pelo teatro de grupos que trabalhassem com a linguagem popular, primando pela proximidade com as comunidades de bairros periféricos das cidades”, disse certa vez.

Colhi alguns depoimentos sobre Agostinho Bizinoto que considero mais importantes e repasso aqui:

Ronaldo Adriano

Agostinho Bizinoto é um Mestre do setor cultural em Alta Floresta. O trabalho desenvolvido por Agostinho ao longo de quase três décadas é tão valioso e importante que a própria cidade se perdeu no sentido de não conseguir dar o devido valor. A cidade não acompanhou e ou não conseguiu acompanhar seus ideais, suas visões e seu próprio esforço em favor do setor cultural e artístico.

ronaldo-150x150

Ronaldo Adriano: Artista formado por Agostinho Bizinoto – Ator, diretor Teatral e membro do Teatro Experimental de Alta Floresta.

 

 

Elenor Cecon

Quando fui convidado a escrever este depoimento fiquei lisonjeado obviamente, mas ao mesmo tempo apreensivo, pois como frisei na ocasião, não sou eu quem detém o dom das ‘letras’, mas sim este cara a quem devo agradecer sempre.

Aliás, escrever, ensinar, partilhar, cuidar… Estes são apenas alguns adjetivos de tantos outros que poderia atribuir ao Agostinho Bizinoto. Como uma boa mãe e pai, como professor, como mestre, Bizinoto mostrou-me as possibilidades infinitas que podemos tomar nesta nossa existência humana na Terra.

untitled1-150x150Júnior Cecon – Produtor, Gestor Cultural e Ator.

Renan Dimuriez

Conheço Agostinho Bizinoto há 30 anos, ele é uma grande ícone da cultura do Estado de Mato Grosso. Fundou o primeiro grupo de teatro em Alta Floresta, implantou o Festival de Cinema na mesma cidade, foi 6 vezes consecutivas Secretário de Cultura. E sempre um grande ganho, um grande privilegio ter o Agostinho Bizinoto num projeto de Cultura. Grande Ator e grande pessoa de uma sensibilidade fantástica.

renancircular-150x150Renan: Coordenador de Desenvolvimento de Cultura de Guarantã, produtor, ator e apresentador de televisão.

 

 

Amauri Tangará / Tati Mendes

Conheci Agostinho Bizinoto, dramaturgo, ator, poeta, músico, compositor, editor, escritor e provocador cultural, lá pelos idos da década de oitenta do século passado. Desde então, pra mim ele é “meu cumpadi Agostinho”! Quando eu e Tati estivemos com nosso “Cafundó – Onde o Vento faz a curva” em Alta Floresta e inauguramos o palco do Lions Club em l989, ele já havia fundado, juntamente com sua companheira Elisa, o TEAF (Teatro Experimental de Alta Floresta) e tivemos longas conversas sobre o presente e o futuro do teatro em Mato Grosso. Foi aí que nossos laços de amizade se estreitaram ainda mais e nunca mais nos perdemos de vista. Eu, andando pelo mundo com minha companheira Tati, levando às costas, literalmente, nosso baú do Cafundó e meu cumpadi mais a Elisa escrevendo a história de um dos mais importantes movimentos culturais de Mato Grosso e da Região Centro Oeste com o TEAF, encravado em plena Selva Amazônica.

amauri-tangara-1-200x140Amauri Tangará – Cineasta, Dramaturgo, Diretor e Ator de Cinema e Teatro.

tati_timor_peq-e0174bb5c2bffa7153f4e674d86cdd00    Tati Mendes – Produtora Cultural de várias modalidades                 artísticas no Brasil e noutros países

 

 

*Fontes: Site da Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso/ Blog de Agostinho Bizinoto

Deixe um comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here