O compositor e pianista francês Erik Satie nascido em 1866 foi um dos precursores do minimalismo na música, despojadas e simples na forma, suas peças desafiavam as convenções musicais da época, abolindo todas as estruturas complexas e sofisticadas da música clássica romântica. Era um músico cult, cujas idéias radicais influenciaram outros grandes compositores, como John Cage, Gilberto Mendes e toda a vanguarda parisiense do início do século XX, inspirava seus contemporâneos na música, Claude Debussy, Maurice Ravel e nas demais artes, citado como um precursor do dadaísmo e do surrealismo.
Excêntrico e irreverente, só usava ternos de veludo cinza (tinha vários), chapéu coco e guarda-chuvas, essa era a sua vestimenta diária, gostava de tocar nos cabarets de Paris e beber absinto.
A convite de Jean Cocteau, em 1917, compôs PARADE para o Ballet Russes de Serguei Diaguilev, uma música bem original/inovadora e com caráter anarquista, onde se ouve sons de tiros de pistola, sirene, máquina de escrever, garrafas com diferentes alturas de água e que foi apresentada pela primeira vez no Theâtre du Chatelet de Paris, causando um escândalo na sociedade burguesa parisiense.
Com roteiro de Jean Cocteau o ballet Parade teve cenário e figurino criados por Pablo Picasso que a partir daí se tornou um grande amigo de Satie. A música Parade trouxe para Erik Satie grandes amizades e colaborações com as figuras do dadaísmo como Man Ray, Marcel Duchamp, Tristan Tzara, do cubismo, Georges Bracque e Pablo Picasso.
Guillaume Apollinaire (escritor, poeta, crítico de arte e talvez o mais importante ativista cultural do início do século XX) citou pela primeira vez a palavra “surrealismo”, ao comentar sobre a obra Parade, a definindo como “uma espécie de surrealismo”, uma criação artística que explora o mundo dos sonhos e do subconsciente. Mais tarde, 3 anos depois, o surrealismo surgiria como um movimento artístico e literário.
Essa é a interpretação da Moveo Dance Company (fundada em 2005, é uma das principais companhias de dança de Malta) para o ballet Parade.
“Monsieur le Précurseur” era como Debussy o chamava, por ser uma influente figura da vida cultural parisiense na virada do século XIX para o século XX, e Ravel também reconhecia o seu pioneirismo.
A verdade é que Erik Satie realizou uma das mais significativas revoluções estéticas (forma, conteúdo e estilo musical) do século XX influenciando o curso da música ao longo deste século, mas foi a partir do século XXI que o seu pioneirismo foi mais facilmente apreendido.
Não permitia visitas ao seu apartamento. Quando morreu, com 59 anos, (de cirrose hepática), seus amigos o encontraram no seu miserável e caótico apartamento, dois pianos de cauda (um em cima do outro), o de cima usado como um móvel que guardava sua coleção de cartas, papéis e partituras inacabadas. Encontraram também uma coleção de guarda-chuvas, seus vários ternos de veludo cinza, desenhos, anotações, peças para piano…
Em 1888 Satie compôs “Trois Gymnopédies”, um belíssimo tema minimalista (usado como trilha sonora em vários filmes bacanas), dividido em 3 partes: Gymnopédie N.1, N.2 e N.3, amo profundamente a melodia simples, serena e melancólica que interpreto com muito gosto no meu velho piano, meu companheiro de toda minha vida!
“Tenho um pouco de medo: medo ainda de me entregar pois o próximo instante é o desconhecido. O próximo instante é feito por mim? Ou se faz sozinho? Fazemos-los juntos com a respiração. E com uma desenvoltura de toureiro na arena”. Clarice Lispector