“Meu grande e querido amigo Pedro Pianzo! Fizemos outros trabalhos juntos no teatro, mas esse foi especial, pois tínhamos uma grande vontade de nós três mato-grossenses, fazermos uma tournée na nossa terrinha. Conseguimos e foi tão prazeroso tudo isso. Você sempre de bom humor. Nós três juntos e cúmplices nessa jornada. Só alegria. Nos divertimos bastante. Um vazio reina em meu peito, mas sei que o Pai todo Poderoso o recebeu de braços abertos. Você foi e será eternamente lindo em meu coração!”

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Os atores, Athaíde Arcoverde, Valéria Balbino e Pedro Pianzo

Com essas palavras e a foto postados no Facebook, minha prima, Valéria Balbino, despertou em mim recordações que estavam bem adormecidas. Foi assim que soube do falecimento de Pedro Pianzo.

Pedro Aurélio. Pepê. Pedro Pianzo.

pedroEsse cara foi genial. Tem uma trajetória riquíssima na vivência cultural radical da década de 1980. Militante agudo do teatro. Desprezou a TV. Disse não à Rede Globo quando foi cotado para atuar como protagonista da novela de sucesso mais estrondoso na época: Dancing Days. Ao recusar o papel, despontava no teatro do Rio de Janeiro. Frequentou o Teatro Tablado que era o point da galera mais antenada da capital carioca. Pedro não quis a TV. Queria o teatro. Ali sim, no palco podia conceber sua arte de representar em comunhão com as forças divinas e profanas do templo do ator. O teatro é a Grande Casa do ator!

Nascido na nossa pequena Guiratinga (MT), Pedro sempre foi um cara que se diferenciava, aliás, como diz meu “compa” Paulo de Tarso, “Guiratinga tem alguma coisa estranha, sempre encontro ou conheço pessoas de muito talento que nasceram lá e sempre são ligadas a arte, cultura e comunicação.”

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Ricardo Kosovski, Pedro Aurélio Pianzo e Ovídio Abreu, O Cavalinho Azul, 1979, Teatro Tablado (RJ)

Formávamos uma comunidade de Guiratinga no Rio de Janeiro em plenos anos de 1980. Todos estudantes, uma velha prática dos mato-grossenses, ir estudar no Rio de Janeiro. Alguns tentavam paralelamente o teatro, a música, o cinema, as artes em geral. Uns foram em frente, outros recuaram, mudaram de assunto. Ataíde Arcoverde conseguiu se firmar como ator, atuando na Rede Globo, com uma atividade regular no teatro e também no cinema. O Pedro Pianzo andava sumido e fazia tempo que não ouvia falar dele, teve problemas de saúde, mas soube que havia se recuperado e retornou para São Paulo onde residiu durante muitos anos. Voltou a trabalhar com teatro, lugar de onde nunca saiu. O palco, a produção, o debate, a reflexão, Pianzo era chegado em todas as questões que envolve a realização do teatro. Era um apaixonado pelo que fazia.

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Pedro Pianzo com Paulo Autran

Ele voou alto nos palcos do Brasil, atuou em praticamente todas as peças escritas por Paulo César Coutinho, na década de 80, um grande dramaturgo brasileiro que se revelou na época. Em São Paulo atuou sob a direção de Fauzi Arappi, Bia Lessa, dividiu palco com Fernanda Montenegro, Paulo Autran e outro monstros do teatro.

pepeSempre digo que precisamos registrar essas histórias para criarmos uma rede de memórias que sustentem nossas vidas. Precisamos recorrer a essas histórias para criar sentidos.

Pedro me recebeu bem demais quando pedi abrigo por uma noite em São Paulo, pois fomos totalmente sem grana fazer umas gravações em São Paulo do primeiro disco, compacto com cinco músicas, do bando Caximir. Não tinha onde dormir e fui cair lá em seu apartamento. Ele era de uma generosidade acima de qualquer suspeita.

pedro-pianzo_a242869_jpg_640x480_upscale_q90Ele era grande aos meus olhos, frequentou o que havia de melhor no teatro brasileiro na época. Era um gigante a desfilar sua elegância, beleza e força de interpretação. Ao atuar se elevava. Era um cara muito bacana. Inteligente, com um percepção incrível da vida, da arte, da cultura, do papel do artista questionador, transgressor. E viveu a loucura deliciosa dos rebeldes anos 80. Rio de Janeiro. Baixo Leblon: esbórnia, álcool, arte maldita, teatro, música, roquenrrol. De repente deu uma baita saudade de tudo isso!

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