Entro na galeria Arto. Noite de festa. As paredes brilham com as cores das obras exibidas. Um a um reconheço os artistas ali representados. Percorro com o olhar o ambiente e vejo a homenageada da noite de boina vermelha, sorriso travesso e o olhar brilhante, atento sob as luzes do cinegrafista.

É difícil escrever sobre ou descrever essa incrível criatura chamada Aline Figueiredo que fez da arte seu propósito de vida.

Talvez a arte a tenha escolhido para abrir caminhos onde não havia caminhos. Ou a vida, ah! A vida a levou a isso, rabiscando no chão da Terra pantaneira uma trajetória incansável de sensível percepção estética.

E lá se vai meio século de um fazer constante.

Gerações passaram nessas décadas e ela permaneceu em seu propósito, propiciando a magia provedora da arte. Ouvi-la nos faz as vezes sonhar, outras vezes nos acorda para a dura realidade de que nada, nada virá sem esforço.

Comparo sua energia à força das correntezas profundas dos rios que cortam a planície e se espalham em vazantes cristalinas inundando de vida a paisagem.

Eu também diria que ela se parece muito com uma onça brava. Penso que se as onças falassem a linguagem humana teriam a voz de Aline.

Brigou como uma fera pelas artes plásticas e artistas brotaram feito mato no terreno fértil de um imaginário popular.

Aline Figueiredo é, me atrevo a dizer, como a figueira mãe da floresta. A gigante da mata que abriga entre seus ramos a diversidade de centenas e centenas de espécies.

Ao longo desse percurso de um meio século, a história registrou o movimento que fez das artes plásticas a manifestação cultural orgânica legítima da terra. Este é o lugar que ocupamos na geografia da nossa existência.

Como sempre disse Aline, não há história sem geografia, o espaço que nos propicia a substância do existir. Esse é o legado. Essa é a lição. No DNA dessa arte está registrada a pata da onça brava, a Figueiredo, que abrigou e alimentou, entre cores e formas, a força e a beleza pictórica de uma arte que aqui é mato.

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