Acabei de chegar! Respondi meio ríspido. Isso não é hora de perguntar nada. Essa interrogação vai ficar sempre aí martelando em sua cabeça. A crença religiosa ou a comprovação científica vão sempre se debater diante do mistério do infinito. Só a ideia de infinito já é o indício de que à compreensão do todo jamais chegaremos. O tempo se alarga, assim como o espaço, a mente, nossa percepção.

Nesse lugar temos a sensação extrema de leveza, essa memória de tudo.

Aqui, na Terra, parece que estamos sempre sentindo a necessidade de estar na ponta do tempo, tentando espiar futuro e passado e ao mesmo tempo espiar pelo buraco das dimensões, observando as conexões de todos os fatores conjugados numa mesma esfera de existência.

Não existe essa noção de tempo terráqueo nesse não-lugar. Nem corpos, nem matéria, o nada é o Paraíso, totalmente zen, aquela coisa de grau zero, de esvaziamento da mente para atingir a Leveza Suprema. Você nem consegue imaginar o grau de êxtase que a gente experimenta. Lembrei-me de todos e todas vocês. Mas não senti saudade nem dor. Sei que isso tudo que vivemos, essa existência diminuta, terrena, passa rápido e logo (tempo?) estaremos todos juntos novamente, na realidade (termo que não se aplica aqui também!) a gente nunca se separa. Somos parte desse algo incompreensível.

Você se inquieta, eu sei, dá agonia pensar no que vem depois. É que lá não existe antes e nem depois. É tudo no instante já, eternamente. Garanto que não é tedioso. É um êxtase constante, só energia, pura, cintilante.

Interessante é a viagem de ida. Percebemos detalhes até dos átomos em movimento constante. Ao voltar não lembramos de nada, normalmente é um apagão. Só lembramos da viagem muito depois, em torno de vinte e quatro horas depois. Mas, a ida é fenomenal, a gente percebe quando estamos saindo do corpo, a consciência vai saindo, literalmente vamos saindo do corpo, nesse instante adquirimos a consciência de que o corpo é apenas matéria que abriga nosso ser em estado puro de energia. Você ainda pode voltar. Até um certo ponto você controla, mas ao ir saindo dá vontade de experimentar se deixar ir mais um pouco, até quando não dá mais pra segurar. Se tiver coragem solte-se, é uma experiência incrível. Você entra num corredor de luz, e voa, voa numa velocidade impressionante, inimaginável, a gente chega a perceber os átomos nas laterais, cortados, saltitantes, a gente vê todos os elementos, nada está vazio.

Ao chegar ao lugar que chamei de O Grande Abrigo das Almas, percebe-se que fazemos parte de um aglomerado que contém toda forma de consciência, individual, mas ao mesmo tempo parece ser uma bola de luz ou de muitas luzes ocupando a totalidade, fora do espaço e do tempo. Mas, qual totalidade? É uma questão vital. Se não há espaço não há medida para caber a totalidade. Se não há tempo não permanece, não há medida para escapar. E aí?

É só êxtase. Leve, como não podemos saber aqui e sequer imaginamos tamanha possibilidade. Somos apenas sendo.

Acabei de chegar! Respondi meio ríspido. Ela me sacudia, chamando pelo meu nome. Tão longe meu corpo… Ao acordar só consigo lhe dizer que não é hora de perguntar nada. Essa interrogação vai ficar sempre aí martelando em sua cabeça.

 

 

3 Comentários

Deixe um comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here