Por Glauber Lauria*

Translado, memória e sedição. Aventuras dadas ao acaso como postais que marcam livros, como flores velando silenciosas a beleza rara poesia. Cartas desespero não endereçadas, choradas sozinhas em cantos ônibus, a atitude salutar partir, queimar dinheiro e inventar sonhos como quem contempla antigas arquiteturas, deslindando de memória cornijas, rosáceas, volutas. Ser esse ser estranho, que dado a lapsos, viceja sem rubor, escarlate do sol das ruas, vermelho do álcool das esquinas, em frangalhos e constante, sempre em fuga, escapismos das horas rubras. Criar lares, laços, passagens, ser em si a própria metáfora, fugidia obra, que ao escorregar dos dias, faz-se em letras, imagens, frágeis ao menor estilo. Honrar em maiúsculas todas as horas, como antigo adágio latino, como um escritor, que a sua revelia, ousa a vida. Ser em si um flagelo, mesmo um castigo, mas apostar alto, perder todas as fichas e sair sorrindo, contente do próprio crime. Um absurdo ambulante, quebrando regras, escadas, expectativas. Um transtorno que sorri, deitando olhares, mulheres, bebidas. Esta mágica, esta trágica, esta tática, esta estética, que com livros alicerçada, ameaça, a própria vida, é um carnaval de invernos, um vendaval de insetos, uma proliferação catártica, um ataque cardíaco levado à sério. O caos como ária segura, uma cantata nos lábios e um sax alto a confundir tudo, hard bop para surdos. Estilhaça desmorona soçobra, cai aos pedaços e cuspindo poeira acorda, chutando vigas, vagas, rasgando olhares, e dando à lembrança mares, algas e águas-vivas.

Olhar a plácida pasmaceira da vida alheia e pensar que o outro extremo da linha é o fim da mesma, onde as perguntas jazem sepultas por um odor puritano que a tudo infecta. Ser deus em voz baixa lamentando a humana desgraça onde flores são dilaceradas para que os seres consumam morte. Tudo isso por entre estrebarias, prados e partos, tudo isso em meio a pseudo ativistas e fardas militares. A política pinga como piada em websites, a nova tortura ascendente. Ah, os seres que creem, esses intoxicados de um messianismo sem cura, crentes da própria crença, falando em deus como de um amigo intimíssimo. São lastros de arraigada violência, séculos de desmandos por conquistas, o consumir antigas raças como se delas não houvessem notícias.

Reinventar o refrão lucidez, dar aos pasmos um pouco de cultura, tocar com a ponta da faca a ferida dupla, medo e culpa. Ferir de forma despudorada a falsa moralidade que quer com falácia a reforma dos costumes. Ostentar pecados. Ser um desfrute. Enquanto a falsa moralidade se desilude, orquestrar, a nível de desbunde, uma resposta, a este absurdo.

 

Glauber Lauria é poeta mato-grossense e mora no mundo. 
Nascido em 1982, publicou de forma independente o livro Jardim das Rosas em Caos, 
já participou de três antologias em diferentes estados brasileiros 
e possui poemas publicados nos seguintes periódicos Sina, Acre, Fagulha, Grifo, 
Expresso Araguaia e A Semana.

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