Pensar o conceito de educação ambiental não é um exercício tão simples quanto o nome sugere. A maioria das pessoas está familiarizada com o que os termos “educação” e “ambiental” implicam quando separados, mas é a junção deles que dificulta um olhar mais aprofundado. Afinal, não se trata apenas de distribuição de panfletos sobre coleta seletiva de lixo na rua ou de cartazes nas escolas com orientações para o racionamento de água. Falar de educação ambiental é um exercício complexo que inclui uma série de ações políticas pedagógicas, culturais e até religiosas, envolvendo uma extensa esfera organizacional de grupos e atores sociais, desde o jornalista até o padeiro do bairro.

A Rede de Sementes do Xingu realiza um trabalho de reflorestamento de áreas degradadas por meio da semeadura direta de sementes. Na foto, da direita para a esquerda, as coletoras Milene e Vera selecionam sementes de jatobá. O trabalho é um dos exemplos de práticas de educação ambiental, pois capacita pessoas a um olhar ecológico e sustentável. (Foto: Alessandra Marimon)

Para exercer efetivamente a sustentabilidade, Jacobi et al. (1998) explicam que é preciso compreender a existência de uma íntima ligação com essa prática e a busca por uma melhora na qualidade de vida de todos, além da luta contra os atuais padrões predatórios de desenvolvimento econômico que afetam principalmente as populações mais pobres. E tudo isso está ligado à uma educação ambiental coletiva e acessível. Uma das principais dores de cabeça contemporâneas a combater em favor do meio ambiente e das pessoas é a lógica do consumismo, estimulado por uma produção a qualquer custo. O resultado disso é o esgotamento de recursos naturais.

Segundo Campos (2008), nós deveríamos ter em mente, por exemplo, algumas perguntas básicas como, “Estou fazendo a minha parte? É o suficiente? O que mais posso e devo fazer?”. Fechar a água da torneira quando escova os dentes, utilizar o transporte público, optar por sacolas de pano nas compras do mercado, evitar ou diminuir o consumo de carne podem ser passos importantes para responder algumas dessas perguntas, mas as ações não param por aí. A formação de um pensamento ético e questionador se mostra um passo significativo. É um ciclo com infinitas possibilidades.

As instituições de ensino são instrumentos primordiais na difusão da educação ambiental. Evidentemente, o papel dos professores como mediadores e transmissores de conhecimento, tanto teórico quanto prático, tem grande influência na construção cidadã desde os níveis escolares mais básicos até a universidade. Ao estimular debates, eventos, oficinas, implementação de disciplinas, bolsas de pesquisa e ações comunitárias, essas instituições estão auxiliando no surgimento de um “sujeito ecológico”, como nomeia Carvalho (2001).

Apresentação durante o projeto Museu da Cidadania, realizado pela UNEMAT (Campus de Nova Xavantina/MT) dos princípios que regem a temperatura do planeta e a umidade relativa do ar. A explicação é feita por meio de brincadeiras de espirrar água na plateia de Porto Alegre do Norte, uma cidade do interior de MT. (Foto: Divulgação/Cortesia Museu da Cidadania)

Esse sujeito pode ser indígena, ribeirinho, quilombola, negro, mulher, branco… o que importa é que seja atuante em prol de um bem comum, a conservação ambiental, que precisa ser acessível e não elitizada. O interior e as periferias dos grandes centros são alguns dos lugares mais carentes em acesso à ciência e educação ambiental. Levar esse conhecimento a essas partes poderia possibilitar uma mudança radical de vida nas pessoas, como já demostraram alguns projetos.

Vale lembrar que a arte também tem o potencial de transbordar uma gama de valores ecológicos e de despertar a reflexão. As obras artísticas capacitam uma leitura crítica e o diálogo arte-educação se faz dentro das salas de aula, dos museus, teatros, cinemas e praças. O meio ambiente inspira a arte e a arte nos inspira.

Exposição de feira de ciências demonstra o funcionamento de uma bomba d’água em Nova Xavantina/MT (Foto: Divulgação)

Só que levar essa problemática à esfera pública não é só responsabilidade das escolas ou da arte. Os meios de comunicação também exercem uma missão fundamental ao colaborarem para a difusão de conhecimentos ambientais. Como já dizia McLuhan (1968) antes mesmo da criação da internet, a quantidade de informações encontradas na televisão, rádio, filmes, jornais e revistas é incontavelmente maior do que aquelas proferidas atrás dos muros escolares.

Nesse sentido, Sulaiman (2010) demonstrou que o jornalismo precisa desempenhar com eficiência o papel de divulgador e educador ambiental. Infelizmente, no entanto, a divulgação científica no jornalismo brasileiro ainda se dá, em grande parte, de forma precária, resumida ou distorcida. É preciso alterar essa lógica, a começar pela valorização de jornalistas ambientais e científicos.

É importante o aprofundamento dessas questões para levar o conhecimento científico a público. Para isso ser alcançado, existe outro ator que entra na dança. De acordo com Carvalho (2001), as ONGs, cooperativas, projetos comunitários e movimentos socioambientais detêm um compromisso histórico com ideias políticas emancipatórias.

Tanto a militância ambiental quanto o trabalho de base dessas organizações precisam ser levados a sério para obter amplo apoio midiático e social. Uma maneira de manter essas ações vivas é participar voluntariamente ou financeiramente dessas associações. Elas são inúmeras, basta pesquisar.

Jovens indígenas da etnia Karajá observam fósseis durante exposição do Museu da Cidadania em Santa Terezinha/MT. À direita, Cacique Karajá analisa com desconfiança o modelo de cadeia de DNA. (Foto: Divulgação/Cortesia Museu da Cidadania)

O termo “ecologia” vem do grego “oekologie” e significa literalmente “estudo da casa”. Portanto, se a crise ecológica impacta diretamente na biodiversidade, na qualidade do ar, da água, das florestas e do clima, então estamos a falar de um perigo que abala os alicerces da nossa própria casa. Refletir sobre o lugar em que vivemos e que queremos no futuro é o nosso dever. Não dá pra esperar as paredes ruírem para sermos soterrados.

Se o objetivo é, por exemplo, frear o desmatamento na Amazônia porque há um perigo iminente no colapso dos estoques de carbono, então precisamos dar as mãos e ouvidos à ciência, aos jornalistas compromissados, às entidades socioambientais, movimentos sociais, povos tradicionais e cobrar mudanças imediatas das autoridades políticas.

A mobilização social é o mais eficiente dos processos de transformação. Hoje, mais do que em qualquer época da história, o ato de construir a cidadania deveria estar diretamente ligado a nossa consciência com a atuação socioambiental. E é nesse ponto que precisamos nos focar, porque sem a prática cidadã não há pensamento coletivo e, consequentemente, não há ações transformadoras. A educação ambiental segue fazendo o seu papel, mas é o poder do povo e tão somente dele que levará a uma mudança radical de valores e pensamentos. Democracia é isso. Educação ambiental é isso.

Referências

CAMPOS, P. C. Jornalismo Ambiental e Consumo Sustentável (O aquecimento global também tem origem no consumo desenfreado). Anuário Internacional de Comunicação Lusófona, v. 1, p. 219-248, 2008.

CARVALHO, I. A Invenção ecológica. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2001.

JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998.

McLUHAN, M. Revolução na comunicação. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968.

SULAIMAN, N. S. Educação Ambiental à luz da análise do discurso: do conhecimento científico à formação cidadã. 2010. Universidade de São Paulo, Mestrado em Educação, 2010.

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Jornalista mato-grossense formada pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e aluna de mestrado no programa de Divulgação Científica e Cultural da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

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