O que você faria se acontecesse algo inusitado, algo aparentemente misterioso, incomum, como ouvir as batidas no caixão durante um enterro e a voz do morto surgir do nada, pedindo para abrir o caixão, para tirá-lo dali? Certamente o susto e o espanto seriam as primeiras sensações até você perceber que aquilo é uma pegadinha. Pois então, isso aconteceu na Inglaterra e fez parte do lado cômico e genial daquilo que parecia ser só um enterro. Mas não, o morto, quando ainda vivo aprontou essa, em conluio com seu filho, gravou uma mensagem em áudio, pelo celular, e o combinado era que o filho soltasse a gravação no decorrer do enterro, quando o caixão fora depositado no fundo dos famigerados sete palmos.

Imediatamente lembrei-me do conto do Edgar Alan Poe, O Enterro Prematuro. O personagem sofria de catalepsia, uma doença que aparenta a morte, e seu médico, era o único que sabia de tal enfermidade, ao voltar de uma viagem de três dias soube que o mesmo fora enterrado, correu ao cemitério e ao seu comando, nervosamente, abriram a tumba, e lá estava confirmado o seu maior temor: ao sofrer um ataque seu cliente fora enterrado vivo e, dentro do caixão, pasmem, as unhas estavam cravadas na tampa do mesmo, os olhos esbugalhados e a expressão de terror cobria toda sua face agonizante. Esse conto me impressionou demais, a narrativa é envolvente parece colocar a gente ali na situação do personagem. Como a literatura é capaz de provocar tamanhas sensações! Deve ser pelo conceito de verossimilhança, aquilo que pode ser real, nos colocando na pele e na alma dos personagens. Ponto pra literatura. Ponto para Edgar Alan Poe, um gênio na seara do terror.

Sei que a notícia do enterro do inglês viralizou nesses tempos de informação rápida, real no tempo e no espaço. Viralizou, virou meme, virou ponto de discussão entre amigos nas mais diversas rodas que se formam no mundo. Um amigo, na rádio, o João Azevedo já tascou essa: já falei pra minha esposa, pro meu filho e pra minha mãe, me enterre com um celular carregado, devidamente pago, desligado (pra bateria não acabar). Se acordar, pimba, um telefonema e pronto, estarei salvo!

Nisso vem um outro colega e rebate na hora: o duro é se, ao você ligar de dentro do caixão, alguém atender e responder:

– Ah é? O João Azevedo? Rapaz, inventa outro trote, enterramos o João no final da tarde de ontem, deixe o morto em paz meu irmão, passar bem!

E em seguida, diante da insistência daquele número em ligar mais de cinquenta vezes, a pessoa que atendeu, de saco cheio, desliga o telefone, deita e pensa com piedade na pobre  da mãe do João que saiu pra passar o fim de semana na chácara e por acaso esqueceu aquele celular ali.

-Isso lá é hora de passar trote!

Resmunga, vira pro lado e vai tirar um cochilo!

 

 

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