Regina Penna, salve, salve! Nossa troca de afetos mais intensos aconteceram tão recentemente. Foram uns quatro ou cinco meses de correspondência. Aconteceu em meio à pandemia de forma virtual, sabia já que você estava vivendo na cama, impossibilitada de se mover, mas vi que continuava a fazer sua arte pelos meios que dispunha, uma adaptação aos meios tecnológicos, digitais, que explodiu numa arte belíssima, perturbadora, impactante.

Obra de Regina Penna

Eu já era seu fã há tempos, mas tivemos poucas e boas oportunidades de troca presencial, com muito respeito e carinho. Você recebeu tão bem a mim e Anna Marimon, em sua casa na aldeia velha em Chapada a convite da Verônica Boscov. Passamos um final de semana maravilhoso. Fato que ficou marcado. Fiz uma violada arretada pra você(s). Depois disso tivemos um ou outro encontro e o tempo passou. Quando soube de sua enfermidade e impossibilidade de mobilidade fiquei arrasado. Mas você não esmoreceu, não parou, sua inquietude criativa foi mais forte. Escreveu poemas em livro, arriscou-se com bravura e rara sensibilidade poética. Desenvolveu uma arte digital de extrema perturbação e beleza.

Obra de Regina Penna

Sabe, Regina, nunca mais esquecerei quando me convidou para conversar pelo Instagram. Queria falar de minha arte que estava borbulhando. Sim, na imobilidade do isolamento presencial social a arte foi minha tábua de salvação. Já fiz mais de 100 trabalhos, um sobrepondo o outro e você gostou do que viu, e quis falar e começamos a trocar essa correspondência afetuosa e criativa. Você foi comentando a evolução dos trabalhos que eu estava fazendo, me estimulou, provocou, me empurrou para esse fazer visual de uma forma definitiva. Você, Anna Amélia, Wlademir Dias-Pino, me empurraram para essa forma de arte. Visualidades prenhes de vida e inquietações.

Obra de Regina Penna

Você não era triste, mas serena, impressionantemente serena e sabedora de sua condição difícil. Não reclamava. Um ou outro dia que dizia estar cansada. Mas nunca desanimou e pintou até o derradeiro instante que a consciência permitiu. O legado que você deixou é de quem viveu uma história rara e de crença absoluta no poder da expressão artística. Sem rancores, sem pudores, sem mágoa! E uma criação pulsante que seguirá sua trajetória de reconhecimento na história da arte.

Minha amiga tardia, descubro agora que nunca é tarde para descobrir as pessoas, para conhecer e trocar impressões de vida, de conhecimento, de arte, de afeto.

Obra de Regina Penna

Estou cansado de tantas mortes. Muitos amigos e artistas partindo. A tristeza contrasta com a admiração que sinto por essas histórias de vida que nos inspiram a continuar resistindo e criando com alegria e devoção suprema. É uma obrigação continuar. Depois de você, Regina, ninguém tem o direito de reclamar. Sua força é reluzente, ilumina caminhos e nos impulsiona, não deixa esmorecer.

Obra de Regina Penna

Um vento intenso uiva pelas frestas produzindo música para sua partida heroica.

Caramba, minha amiga, quanta resistência e amor pela arte! Nunca me esquecerei de você!

2 Comentários

  1. Oi, Eduardo. somente hoje eu li o seu belo texto sobre a Regina Pena. Venho fazendo um documentário sobre ela, que comecei em 2018. A primeira ideia surgiu depois de uma exposição que fui na galeria Arto. Anos depois começamos a gravar algumas entrevistas, que na verdade, eram mais conversas, la na clínica. Agora, com um empurrãozinho da lei Aldir Blanc, estou dando prosseguimento ao trabalho.
    Abraço.

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