deito sob as minhas pernas curvadas,
minha testa encontra o chão
eu respiro;
ali, meu corpo se desfaz
ali, o peso do meu corpo
encontra o peso do chão
naquela postura ancestral,
eu me transformo

eu era uma ave dentro de um ovo,
eu era o próprio ovo,
uma pedra,
uma ameixa fresca enquanto o ar preenchia todo o meu corpo
uma ameixa seca quando o ar se esvaía de todo o meu corpo

eu era tudo
eu não era nada
eu era o todo
eu não era nada
eu estava ali
mas eu não estava ali
eu estava ali
e em toda parte

o peso do corpo.

a testa encontra o chão
e deixa ir
pensamentos, dores, dúvidas,
traumas, medos, ciúmes, ódio
rancor, ilusão, decepção,
covardia

eu respiro
estou e não estou
sou e não sou
me desfaço

chamo meus braços,
não me obedecem;
ordeno que se levantem,
estática
fico

em repouso

o corpo dentro do próprio corpo
eu era um feto
era eu dentro de um óvulo
abrigada em um útero
de bicho ou gente
era todos eles,
não era nenhum deles;

era a pedra, o mar, o sol, a luz, as aves, os peixes,

eu era tudo
e não era nada.

Compartilhe!
Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

Deixe um comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here