A cidade vibra e pulsa. As cores, luzes, letreiros, inundação de marcas, logotipos, desenhos animados, super-heróis, a cultura pop, o hip hop, colagens, mixagens, imagens sobrepostas, materiais diversos, murais extensos e intensos, paredes grafitadas, pichadas. A cidade vibra, pulsa, suas ruas estão ocupadas. A arte de vanguarda, a contracultura, Nova York na década de 70 e 80, as misturas, a diversidade. É neste ambiente de múltiplas possibilidades criativas que Jean-Michel Basquiat encontrou o terreno fértil para transformar a noção de arte até então estabelecida.

Com traços ora infantis ora refinados, com rascunhos que revelam sua brevidade no momento, ou cores intensas que se mesclam em um cuidado para transmitir o que se encontra dentro de si na dimensão concreta da tela. Parte desta produção – da coleção Mugrabi – está em exposição no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) em São Paulo até 7 de abril.

Autodidata, o desenho o acompanha desde a infância e Basquiat rompe com a noção daquilo que é considerado esteticamente “belo” ou “correto”.

Sua ousadia artística o fez ganhar o mundo. Aos 19 anos já era considerado um dos artistas mais importantes da nova geração. Um de seus parceiros nas artes foi Andy Warhol, com quem criou mais de cem quadros.

Basquiat soube beber da fonte de toda a arte produzida antes e uniu referências variadas para a sua produção, que vão das ruas até os livros de anatomia. Mistura inglês e espanhol, grafita na tela, pinta e apaga tudo com um tom forte por cima, é caótico, esquizofrênico, poético, verdadeiro. É uma enxurrada de imagens, leituras e sentidos.

“Muitas das imagens de Basquiat eram apropriações poéticas e intuitivas: palavras e imagens extraídas de livros de história, anatomia e ciência e logotipos de propagandas. Incorporava instantaneamente as imagens, com sua mão e gramática visual diferenciadas. Ele estava imerso na cultura pop: ligava a TV em desenhos animados infantis enquanto trabalhava, e a fusão de texto e imagem em histórias em quadrinhos foi outra provável influência. Seus quadros misturam imagens de alta e baixa culturas, subvertendo hierarquias artísticas convencionais”, explica o texto da exposição.

Sua arte crítica não tinha apenas o intuito de romper essas barreiras do que é aceito esteticamente, mas de colocar questões, reflexões, provocações. Basquiat jogou luz no racismo e no preconceito contra negros. O negro estava no centro de sua arte e ele ocupava o seu espaço com a devida noção da importância de se abrir os caminhos, de tornar a arte o que deve ser: livre e de todos.

“Basquiat era um dos poucos afro-americanos em um mundo artístico predominantemente branco. Sua arte profundamente política trouxe à tona a negritude, chamando atenção para os traumas experimentados pelos negros nos Estados Unidos, para a falta de diversidade no mundo artístico. Retratava músicos de jazz, pugilistas e heróis revolucionários negros”.

A identificação com o universo visual de Basquiat é direta e espontânea. Suas referências seguem em nosso cotidiano. As ruas ainda pulsam e vibram. O colorido do grafite abre a poesia no concreto cinza. O caminho é longo e estamos distantes da inclusão social, cultural e artística almejada por ele durante sua vida. Aos 27 anos despediu-se do mundo e entrou para o seleto time dos gênios que nos deixam cedo demais. O que ficou em mim após essa experiência é que a arte permanece naqueles e por aqueles que resistem.

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