Não é novidade que Mato Grosso passa por um momento de bastante movimentação cultural e artística. São muitas expressões que despontam em um cenário de graves dificuldades com pouca, ou quase nenhuma, atenção dos poderes públicos. O que vem confirmar: a independência que a criatividade e a cultura experimentam pode muito bem nos salvar do desinteresse geral e do marasmo que assolam nossos pobres poderes. Há muito defendo a ideia de se desvencilhar da dependência de recursos públicos e criar alternativas para bancar sua produção e bancar sua vida. Viver de arte é quase heroico quando não temos um mercado consolidado, quando vivenciamos uma descrença dos consumidores de cultura com a produção local, os canais de mídia retraídos com pouquíssimas exceções, tudo levando a crer em uma impossibilidade ou dificuldades quase intransponíveis para quem opta por esse tipo de vida.

Conversando com o escritor Santiago Santos em entrevista para a TV de Quinta(l), aqui no portal Cidadão Cultura, pudemos comemorar o bom momento pelo qual passa a literatura em Mato Grosso. Mas comemoramos mais ainda a inclusão de um conto dele em uma antologia nacional que pretende traçar um retrato da produção literária brazuca na ficção-científica e literatura do fantástico, ou de fantasia. Dividida em três momentos distintos, a coletânea traça uma linha histórica, ou um percurso em ondas temporais – de 1961 a 1980; 1981 a 2000; e a atual, de 2001 a 2020.

Editado em papel de primeira pela SESI-SP editora, capa adequada e bem criativa, o livro trás um título muito pertinente “Fractais Tropicais” e é organizado por Nelson de Oliveira – escritor e colaborador do Rascunho (excelente suplemento cultural, em que pese isso parecer remédio, é desse tipo de medicamento que o brasileiro anda precisando) que sobrevive desde o ano 2000 como um jornal de literatura 100% independente. Vale a pena conhecer o Rascunho que traz ensaios, resenhas, entrevistas e textos de ficção – contos, poesias, crônicas e trechos de romances -, e a participação de nomes como Affonso Romano de Sant’Anna, Alberto Mussa, José Castello, Fernando Monteiro, João Cezar de Castro Rocha, Nelson de Oliveira, Raimundo Carrero e Tércia Montenegro.

Santiago Santos em foto de Fred Gustavos

Santiago vem despontando por aqui já há algum tempo, apesar de fazer parte de uma novíssima geração que vem animando as letras do mato ele já tem uma produção bem considerável. Já publicou dois livros solo e agora figura honrosamente nessa antologia ao lado de feras como Fábio Fernandes, Fausto Fawcet, Bráulio Tavares, Ronaldo Bressane, Octávio Aragão, André Carneiro, Jeronymo Monteiro (considerado o precursor da ficção científica brasileira), dentre outras feras. Romper as barreiras geográficas em tempos de geografias virtuais é uma possibilidade hoje muito mais plausível pois somos todos vizinhos virtuais, estamos a um click do outro, e isso possibilita ser visto mais facilmente. Santiago é um desses blogueiros que caiu nas graças de pessoas certas, em seu devido tempo e gerou uma interação muito bacana. Nada disso porem vai acontecer se a literatura não tiver qualidade. Fábio Fernandez o saúda como um dos melhores escritores brasileiros dessa nova geração ficcionista. E isso não é exagero não, você pode constatar pelo blog dele: Flash Fiction. Narrativas curtas pra todo gosto, faroeste caboclo, ficção-científica, policial, fantasia, fantástico, a escolha sua…vale a pena mesmo dar uns cliques e viajar nas letras inventivas do San San (San tiago San tos).

Publica-se muito hoje em dia, até em excesso, mas vos digo, daí é que vai sair o suprassumo. Desse caudaloso rio, saltarão gotas de excelência, como o Santiago já vem demonstrando.

 

 

 

 

 

Comentário

  1. Adorei esta coletânea, mas é desapontante ver como tem poucas mulheres nelas. São todas fantásticas, como a Cris Lasaitis, a Sybylla (maravilhosa), mas devem ser meia dúzia contra outros tantos caras. Precisamos valorizar muito essas mulheres, seja da FC, seja da Fantasia e do Terror, pois elas lidam diariamente com todo o tipo de machismo deste meio e tão aí publicando, lutando, botando seus textos na rua.

    Mas e as que desistiram e se cansaram da misoginia? Quantos talentos não perdemos por conta de autores desta mesma coletânea? Uma pena.

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