As mudanças de hábito em busca da liberdade, nos fazem trilhar caminhos desconhecidos, mas que tem um grande potencial para ser inspiradores. Nos primeiros passos, há a insegurança do novo, a vergonha e até o autojulgamento sobre si mesmo. Como se fossemos incapazes e não merecedores deste lugar, onde é possível se expressar livremente e ser feliz consigo mesmo.

É assim que muitas pessoas, em seus diferentes corpos, se sentem quando decidem adotar um estilo novo de vida. Como começar a dançar com movimentos mais sensuais, que dão uma energia nova ao corpo e ao pensamento. Os quadris, os braços e as pernas entram no ritmo de pulsão, no descer e no subir das costas, e tudo em cima de um salto fino e elegante. E nesse caso, estamos falando do Stiletto.

Stiletto tem conquistado o seu espaço em Cuiabá

Em Cuiabá, essa vertente tem motivado (e movimentado) pessoas de todos os gêneros e silhuetas a explorarem esse lado desconhecido, que muitas vezes foi reprimido. Seja por religiões, conservadorismos e até de si mesmos. A dança mostra que o propósito maior do movimento é o de aceitação e empoderamento sobre o seu próprio corpo.

E uma das precursoras dessa vertente em solo cuiabano, é a professora de dança Aline Fauth. Ela, que desde muito nova sempre esteve em busca desse movimento, percorreu por diversos caminhos – que por muitas vezes, não foram fáceis -, até se encontrar com o Stiletto. Esse estilo, que tem como objetivo quebrar padrões de beleza com muita naturalidade, até o verdadeiro eu chegar ao topo da vida em cima do salto alto. Confira:

Stiletto e eu

Desde quando começou a se profissionalizar na dança, Fauth se sentia diferente entre a turma que andava. Na época, com 11 anos de idade, ela frequentava a Igreja Batista e estava sempre à frente da produção de eventos da instituição. No entanto, era repreendida pela pastora, pois as danças não eram ‘religiosas’ o bastante para fazer parte do lugar.

Aline Fauth equilibra o próprio ritmo em cima de um salto alto

Até que foi colocada para escolher entre os ‘palcos do mundo’ ou da igreja, para que a fácil resposta viesse à tona. “E aí foi a minha ruptura com esse lado religioso dentro da igreja. E eu decidi pela minha carreira, pela minha vida, pela minha dança. E continuei estudando até me encontrar dentro do que eu amava fazer”, disse.

E em meio a tantas inseguranças e desafios, conseguiu construir o seu próprio castelo profissional, e se destacar no cenário local através do balé, jazz, dança de rua, entre outros. Começou, então, a dar aulas dessas diferentes vertentes, até se encontrar e nomear com o que estava em busca há anos: o Stiletto.

Ruptura para os encontros prósperos

O ‘ter’ que se redescobrir exige persistência e foco de qualquer pessoa. Assim como ocorreu com a principal personagem desse texto, que teve que se reinventar para encontrar no seu íntimo, a melhor forma de se expressar. Que pudesse ser de uma maneira leve e que, ao mesmo tempo, fosse totalmente livre das amarras do passado.

Aline Fauth se encontrou na dança e hoje é professora de Stiletto

Pode-se dizer que esse episódio da vida da nossa entrevistada, se espelha bastante com a maioria de seus alunos. Uma vez que grande parte de nós temos a busca incessante da perfeição inalcançável. “A grande maioria das pessoas que me procuram querem resgatar o que deixaram para trás. Extrair no seu íntimo o que elas acreditam não ter, que é essa sensualidade, essa forma de se movimentar com sensualidade”, relata.

Sensualidade essa, que poucos sabem, mas que todo mundo tem. Tudo é uma questão desse reencontro consigo mesmo, por meio de diferentes caminhos a serem explorados. “É inegável, todo corpo sabe ser sensual. O que difere é que cada um se mostra de uma forma específica. Mas todo corpo é sensual, sim”, destaca.

Os corpos se libertam das opressões sociais impostas

“É uma dança que ajuda em todos os aspectos, tanto na vida pessoal, emocional e até sexual. Porque tem muita gente que tem esse bloqueio, sexualmente falando. Às vezes de uma criação, imposta por questões religiosas, familiares, tradicionais. Onde não se permite tocar no próprio corpo, descer e subir até o chão, pois fala fala que é feio, vulgar”, completa.

Fora dos moldes é o novo padrão

Quando se pensa em uma técnica de dança, é bem comum padronizarmos os corpos de uma forma geral. Se o passo será alcançado, se a roupa ficará curta ou até se o movimento é apropriado para determinada pessoa. E dentro do Stiletto, isso é totalmente quebrado.

“Eu tenho alunas que são plus size, alunas baixas, muito magras e muito altas. Estereótipos totalmente diferentes. E quanto a técnica, muito se julgaria que determinada pessoa não poderia dançar. E o Stiletto vem para fugir disso”, destaca.

Prova disso – além da própria história -, é que uma de suas alunas teve um progresso considerável na autoestima com a ajuda da dança. Aline conta que, antes de iniciar as aulas, a aluna buscava anular a própria feminilidade com roupas largas, cabelo preso, além de demonstrar timidez extrema. Até que um terapeuta, que conhecia os trabalhos da professora, decidiu indicar o Stiletto como parte da consulta.

Liberdade dos movimentos no Stiletto é um dos propósitos de Aline Fauth

“Ela chegou como um ‘caramujinho’. Mas eu sempre falo, que se a pessoa tiver um bloqueio muito grande, seja ela uma limitação física ou emocional dela, dessa autoconfiança que ela precisa, ela pode começar de tênis, não tem problema nenhum. Até que a pessoa se sinta confiante no salto”, relatou.

Após os primeiros passos, dentro do tempo da aluna, o processo foi se desenvolvendo com bons resultados. “Eu tenho uma lembrança muito boa dela, pois o próprio psicólogo falou comigo e disse que a cada sessão que ela vinha após as aulas, ela vinha diferente. E disse o quanto isso foi melhorando na autoestima dela”, contou.

Aline Fauth segue em busca de ajudar outras pessoas a se reencontrarem consigo mesmas

E diante a um processo tão vigoroso dessa dança, há uma reflexão sobre a própria técnica aplicada. O salto alto, fino e elegante, pode também propor o desconforto. No entanto, esse misto de inquietação nos faz analisar os obstáculos para chegar ao mundo ideal.

“A forma que eu aprendi dentro dessa dança e nessa nomenclatura – pois existem outras várias, hoje em dia -, é ter essa apresentação de bastante presença, de uma forma que tire o corpo da zona de conforto. Uma forma de se transformar do alto do salto”, finalizou Fauth.

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Simone também é Sika. Jornalista e artista visual (não necessariamente nessa ordem). Ex-cinéfila que gosta de estudar música e seus personagens, assim como outras vertentes da arte. Feminista, mistura de asiática com paraguaia e cearense, natural de Rondonópolis (MT). Mora em São Paulo, mas leva Cuiabá sempre no coração e no 'djeito'.

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