Uma discussão que sempre alimentou debates calorosos nos apaixonados por cinema é sobre a questão do valor do som para a produção audiovisual, “Ah, o som é tudo”, “Depende”, “O som é 40% do filme”, “Imagem sem som mata o cinema”, “Na época do cinema mudo era diferente, os caras já criavam adaptado para isso”, “Hoje avaliam que o som é 60%…”. Bom, é uma discussão interminável. De uma forma bem simples, o que seria da vida sem as trilhas sonoras que marcam os melhores (e os piores) momentos da vida? São indispensáveis nas memórias de praticamente todas as histórias pessoais, sem a música com certeza a vida seria bem menos interessante.

Quem não se lembra de um momento marcante na vida, seja uma festa, uma despedida ou encontro, um amor perdido, um amor conquistado, através de uma música? E o que é mais incrível, a sensação do momento marcante parece vivíssima quando ouvimos aquela música bem depois, em outro tempo e circunstância. Outros como o compositor, maestro e regente, veem a música como algo físico, necessário, que habita camadas mí(s)ticas de uma essencialidade material. Nessa entrevista aqui você pode conferir o Roberto com suas próprias palavras e sons!

O poder da música no cinema é inquestionável a ponto de influenciar até mesmo na estética de filmes como no documentário, por exemplo, Eduardo Coutinho não costumava utilizar trilha sonora em seus filmes, só o som direto, ambiente, pois acreditava que o som intencional podia interferir na realidade de uma forma que superdimensionava determinada característica ou fato, alterando o sentido da realidade. Uma espécie de fidelidade ao real, utilizando apenas da captação do som ao redor, do ambiente. Mas são discussões intermináveis.

Cito um exemplo bem antagônico (será?), quando produzimos um filme documentário, Roberto Victório e eu, o Aroe Jari, sobre o ritual funerário Bororo, que você pode conferir aqui, a música era o próprio roteiro. O nosso filme partiu de uma peça musical, composta pelo Roberto, que pesquisou por anos a relação simbiótica da música dentro do ritual, altamente complexo. A música tem uma função primordial na condução do evento de longa duração, pode durar até três meses dependendo da importância do morto.

A música de Victório,  dividida em três partes, ou movimentos, era o roteiro, então apelidei a obra de Ópera doc, inventando uma nova categoria, talvez. Roberto Victório participou da montagem e finalização na mixagem final e explorou bastante os sons diretos, ambientais, num mix maravilhoso com a música que vinha em primeiro plano. Essa experiência elevou muito a minha percepção da função do som no trabalho audiovisual.

Bom, demorei a chegar aqui, o motivo de toda essa introdução: idealizado por Leonardo Djan, o som e a música são protagonistas do projeto Ouvido Pensante.

O curso online será realizado entre os dias 22 de março e 27 de abril. Transitando por princípios da música e sons funcionais, abordará ainda, técnicas de trilha sonora, sonoplastia, composição, estética, canto e canções. No pacote de conhecimento, tem ainda conhecimento sobre processo criativo e os desafios e soluções técnicas para criação e execução de uma obra artística.

As inscrições, assim como o curso, são gratuitas. Interessados devem acessar o site www.ouvidopensante.com.br

O idealizador do projeto, Leonardo Djan, explica que os alunos serão conduzidos a um processo de reflexão da importância do som e música para uma obra artística. “Serão constantemente provocados a pensar, escutar, analisar, interpretar e debate-los”.

O curso será online

O curso é indicado a profissionais e estudantes de artes cênicas, cinema e música. Tem 12 aulas com 3 horas de duração cada e ocorre toda segunda e terça-feira, sempre às 18h30 (hora local e 19h30, de Brasília). As salas serão abertas na plataforma Zoom e para troca de material e experimentos artísticos será feita via Moodle.

Para compartilhar conhecimento, Djan, que é professor de Sonoplastia da MT Escola de Teatro, convidou ainda o compositor, pesquisador e professor doutor da UFMT, Roberto Victório e o regente especialista em Canto Coral, Jefferson Neves.

O projeto Ouvido Pensante tem incentivo da Lei Aldir Blanc, tendo sido selecionado em edital realizado pelo Governo de Mato Grosso via Secretaria de Estado de Cultura e Lazer (Secel-MT) e em parceria com o Governo Federal, via Secretaria Nacional de Cultura do Ministério do Turismo. Conta ainda com apoio cultural para certificação, suporte e divulgação, da MT Escola de Teatro, Unemat, Grupo Cena Onze e SP Escola de Teatro.

Os formadores

Jeferson, Leonardo e Roberto

Leonardo Djan é artista Docente de Sonoplastia na MT Escola de Teatro, produtor/diretor audiovisual, editor de áudio, vídeo e mixador. Fez música para Cinema e TV no Conservatório Brasileiro de Música- CBM- RJ e orquestração também no Conservatório Brasileiro de Música- CBM-RJ (incompleto). Compôs peças contemporâneas, trilhas musicais e como sound designer, produziu e trabalhou com gravações e mixagem em estúdio, curtas metragens, longas metragens, documentários, filmes institucionais e está em processo de criação da sonoplastia da peça Agulhas com estreia para maio de 2021.

Roberto Victório é compositor, regente e professor e pesquisador da UFMT. Doutor em Etnomusicologia pela Uni-Rio. Mestre em Composição pela UFRJ. Membro da Sociedade Brasileira de Música Contemporânea. Seu catálogo reúne mais de três centenas de obras executadas nos principais eventos de música contemporânea, recebendo trinta e um prêmios de composição no Brasil e no exterior. Tem 14 CDs gravados, sendo que dois premiados pela Tribuna da Unesco.

Jefferson Neves é formado em Educação Artística – Habilitação em Música pela Universidade Federal de Mato Grosso. Desenvolveu inúmeros trabalhos no universo da música, foi fundador, diretor, maestro, arranjador, pianista e cantor dos coletivos Coro Experimental MT, Boca de Matilde, Alma de Gato e Mesa Pra 6. Além de ter atuado em grandes produções da Orquestra e Coral da UFMT, como cantor e solista da Ópera “A Flauta Mágica”, de Mozart ou da Cantata Profana de Carl Orff, “Carmina Burana” e arranjador, orquestrador, cantor e regente em diversas temporadas de concertos da Orquestra do Estado de Mato Grosso.

Serviço

Ouvido Pensante, curso online entre os dias 22 de março e 27 de abril

Indicado para estudantes e profissionais da música, artes cênicas e cinema

Inscrições até 19 de março

Formulário disponível no www.ouvidopensante.com.br

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