Paulo de Tarso

Fiquei totalmente arrasado com a morte do poeta da vida, meu querido Aldir Blanc! Pensando cá comigo: como estaria nosso visionário herói que viu “caindo a tarde feito viaduto e um bêbado trajando luto a lhe lembrar Carlito“?

Imagino, Aldir Blanc com camisa do Vasco, cotovelo no balcão, e a esperança de vitória que nem sempre veio, mas, sempre foi motivo de orgulho do bravo escriba, compositor, bom de papo, e além de tudo médico do corpo e da alma.

Quem melhor para escrever sobre as vielas cariocas, a cultura das ruas, o carnaval, aquela vizinha gostosa, o malandro e principalmente a maravilhosa gente de nossos subúrbios deste país?

Tudo isso, e muito mais, forma o maravilhoso mundo de Aldir Blanc, mundo das palavras e rimas daquele que, para mim, é um dos maiores (para muitos, o maior) letrista deste país, que anda, mais do que nunca, precisando de mais gente como ele e não gente transitando vestida de poder por aí.

Lembro muito bem no ano de 1978 quando Aldir escreveu as mais deliciosas crônicas  com cenas vividas do cotidiano e mais do que nunca com o lírico humor que de muito tempo vem desaparecendo e que agora creio que se vá com o mestre sala das palavras. Me refiro a “Ruas dos artistas e transversais”

Meu querido vascaíno, meu nobre general de pijamas que entre uma e outra cunhava frases que de Vila Isabel marchavam soberanas pelo planeta da arte e da cultura.

Quem não conhece “Esmeraldo Simpatia é quase amor”, personagem tão marcante que acabou virando nome de bloco, a mais simpática manifestação de humor, crítica e diversão deste único momento onde nosso calado povo grita…grita…grita!

Aldir Blanc e Joao Bosco, parceria de longo tempo

Aldir genuíno, Aldir brasileiro, Aldir porta voz de todos nós. Aquele que soube como ninguém projetar seus personagens, bêbados, prostitutas, sambistas, domésticas e patroas que se entrelaçam no chamado dia a dia. Esse era Aldir, nossos olhos e megafone, que nos alertava para a beleza que está em todo lugar, basta ter olhos para vê-la.

Certa feita, ouvi falar que Aldir bradava aos quatro cantos sobre a grande “putaria”, a grande escrotidão daqueles que se escondem e se intitulam donos da verdade e do mundo. Simples de explicar, por que em seus sambas, crônicas e atitudes demolidoras, Aldir, nunca poupou os Manés de ontem e de hoje em dia.

Revolucionário desde o Pasquim e tantas outras publicações onde trabalhou, Aldir Blanc sempre será o meu tipo inesquecível e poeta maior da cultura de nossa gente.

Descanse em paz, meu querido amigo e bom de papo eterno dos segredos da bola cruzmaltina. Vá se encontrar com Ademir Queixada, Lelé, Jair da Rosa Pinto, Beline, Almir e tantos outros, que, como você, fizeram a alegria de geraldinos e arquibaldos (permita-me, Gonzaguinha). Como você, Aldir falou… “Desde pequeno contrai a doença de torcer pelo Vasco da Gama!”

Como disse o eterno Dorival Caymmi “Existem milhares de cariocas, mas ninguém igual a Aldir Blanc.”

Pronto falei:  “Agora não me falta nada“.

 

 

Paulo de Tarso é radialista, pesquisador musical, produtor, palmeirense e 
torcedor amigo do Vasco da Gama.

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