Por Ana Gabriela Santana - Pacha Ana*

Daquelas coisas que nem todo mundo sabe, mas deveria saber: a semana de leitura e literatura do Sesc tá quase aí, e rolou uma prévia dessa jornada incrível que está se aproximando!

Fotografia de Júlia Muxfeldt

“Literatura sem página”, esse foi o nome escolhido pra se referir ao bate papo descontraído entre quatro nomes importantes na cena mato-grossense e nacional da literatura produzida na internet. Mediado por Santiago Santos, o Sesc Arsenal promoveu um debate que recebeu os palestrantes Eduardo Ferreira (Cidadão Cultura), Thereza Helena (Paragrafo Cerrado), Matheus Guménin Barreto (Ruído Manifesto) e Lorenzo Falcão (Tyrannus Melancholicus).

Apesar de serem quatro figuras distintas com personalidades diferentes, os quatro convidados possuem uma coisa muito simples em comum: a necessidade de prestigiar não só a literatura, mas toda arte produzida nos quatro cantos.

Lorenzo, que se intitula “meio analógico”, produz conteúdo pra internet apesar de achar que não se dá muito bem com as redes sociais. Já os outros três afirmam usarem e abusarem das redes como Instagram, Twitter e Facebook, acreditando que o maior alcance vem por meio destas.

O bate papo inicia em forma de descontração, e a primeira dúvida é:
– Lorenzo, por que “Melancholicus”?
Em tom de risada, o jornalista responde: “Minha esposa estudou ornitologia, e eu adoro latim, apesar de não saber falar. Tyrannus é o nome de um pássaro. Meu sobrenome é Falcão, eu moro no recanto dos pássaros, porque não Tyrannus Melancholicus?” Parecia uma boa né, apesar de várias criticas afirmando que o site não seria reconhecido, hoje possui número satisfatório de visualizações.

Foto de Júlia Muxfeldt

Eduardo Ferreira, conhecido pela banda Caximir, idealizador do site Cidadão Cultura junto com sua filha Marianna Marimon, que insistiu bastante pela criação do projeto, é diretor de TV, músico e já foi até dono de pizzaria. Com uma trajetória de muitos anos na militância no meio digital, Eduardo diz que o site tem um comprometimento muito grande com a produção de grande quantidade de material e hoje conta com colaboradores não só do nosso Estado, mas do Brasil todo, na tentativa de fazer um site nacional, aqui, fora do “eixo” onde estão localizadas as grandes mídias, driblando esse “deslocamento geográfico”.

Apesar da mesa ser composta majoritariamente por homens, Thereza logo inicia com a frase que mudou toda a palestra pra mim: “Não se sintam preocupados por só ter eu de mulher aqui hoje, porque o Parágrafo Cerrado está muito bem representado por mulheres”. Com isso, conquistou o ápice da representatividade feminina na noite pra mim. O blog ao qual ela faz parte, faz a chamada “leitura de cena” e coloca autores a escrever. Não necessariamente crítica ou resenha, mas sim uma visão sensível sobre o trabalho do outro, um olhar não imperativo sobre a produção a qual tem contato. E uma das preocupações dos colaboradores são: “pra quem estamos escrevendo?”. “Não dá pra fazer de conta que o preconceito não existe, feminicídio não existe, existe sim, e daí surge a necessidade de outros pontos de vista sobre os acontecimentos”.

Matheus, doutorando em São Paulo, estuda literatura alemã, e é um dos colaboradores do Ruído Manifesto. O que me chama atenção é sua nostalgia mais que poética ao dizer que agradece a sensação de retorno porque a ultima vez que ele esteve ali naquele espaço do cinema do Sesc foi há 10 anos. Defende essa ideia de movimento, fazer com que a literatura não fique restrita a um local só, elas precisam conversar entre si.

Foto de Júlia Muxfeldt

Nesse ecossistema efervescente da internet, o barateamento dos eletroeletrônicos vem pra mudar as questões de acessibilidade ao mundo virtual e isso possibilita que outros perfis de escritores/colaboradores/jornalistas surjam, uma popularização da literatura, o que é incrível, afinal, essas minorias sempre escreveram, sempre estiveram ali, só que sempre foram invisibilizadas e inviabilizadas.

Fugindo da forma convencional da escrita, dos moldes acadêmicos que por muitas vezes são arcaicos e não chegam de fato até o leitor, essa nova onda de literatura busca abranger não só um novo tipo de leitor, mas também uma nova maneira de atingir esse leitor. O jeito é praticar ações e analisar a efetividade delas, fazendo um mapeamento das ações que funcionam, tendo assim uma fuga da padronização. Matheus acredita na horizontalização da literatura “está saindo dos mesmos grupos, e isso deve ser visto com bons olhos, o novo vai vir.”

Mas o ponto crítico da palestra é quando surge esse questionamento: o que fazer pra ser sustentável no ramo onde um site de literatura não se paga? Porque a literatura continua sendo o “patinho feio”, aquele que não é valorizado? É possível ganhar dinheiro com esse meio? Porque algumas pessoas veem com maus olhos a possibilidade de se cobrar por um trabalho assim? São tantas as perguntas que precisaríamos de mais horas. Sem nem perceber, quase duas horas de conversa se vão.

O fim se aproxima, e aquela questão que não podia faltar é: como enxergar a literatura e a arte na nossa atual conjuntura política? Eduardo nos diz que “Toda forma de arte é um ato político, é a expressão do ser humano”, e Thereza já nos questiona “como podemos fazer juntos?”.

Em tempos onde algumas pessoas clamam por intervenção militar, eu clamo por intervenção poética, já!

Fiquem atentos a programação da Semana de Leitura e Literatura porque isso foi só uma prévia, ainda vem muito mais.

Pacha Ana é rapper, compositora, cantora e poeta.

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