Entrei ébrio no meu carro e percebo que desta vez posso te iludir e talvez te enganar curios@ leitor@.

Atividade é mais importante que o dinheiro. Quando o rito da grana não acompanha o fazer humano, o desafio político é estabelecido. Assim qualquer príncipe maquiavélico pode ser superado.

A monstruosa e opressora realidade do moralismo perde espaço para a superlente da arte e da imaginação do papi Nietzsche.

No verão tenho pesadelos. Dias chuvosos no coração, leitores. As tempestades tranquilizam: bora pra mais uma corrida.

Recebi uma chamada.

Meti o loco, cancelei a corrida e bati o meu carro na sede da Uber de Cuiabá. Quebrei a vidraça da mediana frente e desci quase ileso, apenas com um corte na cabeça:  não aceitamos mais 45 por cento para o aplicativo, isso é desvalorização dos motoristas. Com duas dinamites, uma em cada mão, gritei enlouquecido por justiça e distribuição de renda. Xinguei os poderes executivo e legislativo que adoram morder parte da grana em nome de causas públicas, xinguei a sociedade que inventa atividades absurdas de tão tediosas como a de porteiro e professor universitário. Quando realmente perceberam que eu era uma ameaça vieram oito seguranças de encontro a mim. E aí que o jogo mudou, mais dez carros romperam o hall de entrada da empresa, desceram cinco motoristas de cada carro, com coquetéis molotov nas mãos, todos enfurecidos por serem lesados pelo Estado, pelas empresas e pelos passageiros arrogantes que entram em seus carros diariamente. Infernal. A polícia chegou rápido. Uma explosão e fumaça foram sentidas. Uma explosão generosa.

Eu estava levando Graciliano Ramos: ˜Nada é mais inverossímil que o real”.

Recebi uma chamada.

Rodoviária da capital. Uma moça com malas e caixas. Baiana do interior, gente boa e generosa. Numa corrida que custou à passageira 5 reais, recebi mais 5 de gorjeta. A conversa rápida girou entorno da comida baiana, a falta que faz.

Deve ser por conta do tempero, pensei. Lembrei também de Encaixotando Shakespeare, peça escrita pelo irmãozinho Péricles Anarcos, onde os personagens rebelam contra a “tirania” Shakesperiana. Pro meu deleite fui (ainda me sinto) o ator do pai de todos (o próprio Shakespeare). Fúria, fúria, fúria!

Eu, pra temperar um pouco esta crônica, não informei à Uber sobre minha gorjeta com receio de ser mordido pelo governo municipal e pela empresa de mobilidade. Devo estar errado de achar que seria cobrado. Que minha ignorância seja exposta e que a minha vontade de contar histórias prevaleça sobre impostos e lucros exorbitantes.

 

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