Meu coração é verde mata, minha alma uma onça ferida pelo solo em chamas.

Uma onça que já não pode andar. Que chora e rasteja entre as cinzas do chão.

Que observa o movimento das aves que fogem pelo ar incandescente.

Na terra seca estende seu corpo.

Não tem mais a água limpa das nascentes das Inhumas de buriti frondoso. Nem o córrego manso que cortava o campo de capim nativo.

No horizonte as chamas vermelhas ameaçam um céu carregado de dor.

A chuva deixou de cair há longo tempo.

Assim me vejo entre os dias de assombro, estarrecida com o incêndio cruel, rubro e intenso como um diamante de sangue.

Nas madrugadas insones em que olhando para oeste vi o clarão do fogo na planície.

Depois, um silêncio de morte.

E o cheiro.

Ah! O cheiro da carne queimada espalhando-se na atmosfera aquecida.

Então, fechei os olhos, e num suspiro cansado vi a vida perder-se no instante da sutil ilusão de eternidade.

 

 

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