Em 2014 conheci o Marcelo Sant’Anna e a conexão foi imediata. De lá para cá construímos uma amizade e parceria profissional. Sinto emoção quando vejo o que ele produz. Já li seus textos, vi seus vídeos, e agora, suas fotos me arrebatam. A evolução da sua arte é perceptível aos olhos de quem o acompanha. Quando me procurou para mostrar o seu novo projeto, me senti honrada de ser uma pessoa com a qual ele confiou compartilhar os primeiros passos em uma nova empreitada. Eu o incentivei da melhor maneira possível, pois o que os meus olhos encontraram tocou meu coração. E essa busca pela arte, pela imagem que compõe sonhos e poemas, é parte de quem ele é, e abraçar isso é essencial. Fico feliz de saber que posso dividir esses mundos possíveis com o Marcelo e vice-versa. Criamos mundos possíveis e jogamos luz sobre as questões que sentimos necessidade de refletir. Esse impulso interno que nos leva a lugares até então desconhecidos, mas que quando chegamos lá, percebemos que é para onde deveríamos ir, desde sempre. Sem mais delongas, fica aqui o registro deste novo momento da sua arte, em uma entrevista pingue-pongue, que nos dá vontade de saber mais e mais. Por enquanto, acompanhamos e nos encantamos com suas fotografias. (Ah, aos desavisados, Marcelo é um dos gênios que assina os incríveis materiais audiovisuais produzidos por este portal! Vale a pena assistir ao acervo que criamos aqui, é um baú com pessoas dividindo suas vidas e ideais).

Como surgiu a ideia para o projeto?

A ideia é fruto da evolução da paixão que eu tenho por imagens e narrativas há muito tempo. Meu envolvimento com a prática audiovisual começou aos 16 anos, e o fascínio pelo cinema já vinha ainda de antes. E entre todas as artes que o cinema reúne a fotografia foi sempre a que mais me impressionou. Paralelamente a isso, outro motor que me moveu na idealização do projeto foi um crescente interesse no que se refere a relação das pessoas com suas próprias imagens. E cara, observar essa relação e tudo que a atravessa é muito louco. Acho que a primeira coisa é perceber que a relação que nós criamos com as imagens, incluindo a nossa, é ensinada. Não pelos pais ou pela escola, mas por todo um contexto cultural e social, um imaginário que se sustenta através da reprodução da subjetividade do coletivo geração por geração. Se dar conta disso levanta ainda mais perguntas. Que ideias são essas que nos estão ensinando? Quem decide isso? Quais os critérios? Quem tem esse poder? Quais os interesses de quem tenta nos enfiar os padrões goela a baixo? Acredito que vivemos em um mundo que cultua cada vez mais a imagem, que cria enquadramentos estéticos que aprisionam e são raízes de muitas angústias. Aprendemos a ser críticos ferozes de nós mesmos, a odiar e sofrer com o que vemos no espelho. Chega, né? Eu acredito sim que a beleza existe muito além dessa caixinha. A percepção do que é bonito ou feio é subjetiva e individual, e é dentro dessas diferenças que todo mundo pode ser (e é!) bonito.

No final das contas acredito que o projeto é o resultado do encontro do meu fazer profissional com minhas convicções ideológicas e filosóficas.

Qual foi o impulso necessário pra colocar em prática a sua fotografia?

Eu já estava com 4 ensaios produzidos, todos com amigos convidados, antes de abrir as contas nas redes sociais e começar a divulgar o trabalho. Até aquele momento ainda não tinha decidido quantos ensaios faria antes de tornar o trabalho público. Eis que um dia eu acordo, entro no instagram e me deparo com um post de uma amiga, uma das que aceitou o convite de posar pra mim. Lá estava uma das fotos do nosso ensaio e um texto, lindo e super sensível, falando sobre como aquela experiência havia atravessado questões que ela tinha com autoestima, autoaceitação, e como aquilo pesou e foi importante no processo de desconstrução que ela estava vivendo naquele momento. Aquilo me tocou de uma forma tão profunda e, pra além da satisfação profissional, me fez perceber o quanto o projeto por si só já era maior do que eu, do que as minhas incertezas e inseguranças sobre estar pronto ou não pra dar a cara e me apresentar como fotógrafo. Fez eu me dar conta que eu sou apenas parte de um processo, um processo que eu escolhi fazer parte.

Nada do que eu estou fazendo é absolutamente novo. É fruto de muita pesquisa, estudos, referências, de muitas discussões que me antecederam, e de como minha subjetividade dialoga com tudo isso. Tudo isso me fez concluir que aquela era a hora de começar, por um motivo muito simples: eu podia. Toda minha trajetória me trouxe até aqui e fez de mim quem eu sou hoje, alguém com as habilidades, o conhecimento e a motivação pra realizar o projeto que nasceu dessa história toda.

Quais são as suas referências?

Minhas referências se baseiam em esculturas que exploram a forma humana e o trabalho de outros fotógrafos que também se interessam pelas possibilidades de pose que o corpo oferece. Acho que os principais nomes que me inspiram hoje são Matt Haber, Sylvie Blum, Gab Dias, Belovodchenko Anton e Thomas Holm.

O que te inspira?

Poesia, música, os trejeitos espontâneos das pessoas queridas que me cercam, as possibilidades do corpo de suscitar formas geométricas e orgânicas ao mesmo tempo, simetria, desequilíbrio, observar a luz. Tudo isso e mais um pouco de um mundo de coisas me inspiram.

Qual expressão você busca trazer ao mundo através da fotografia?

Eu ainda sinto que não cheguei no fundo dessa questão, talvez por medo de uma resposta definitiva enquadrar meu trabalho e correr o risco de deixar algo pra fora. Mas respondendo de onde eu estou hoje, diria que o objetivo é mostrar que o corpo humano é lindo. Que de todo corpo flui beleza sem precisar de nada para ser bonito. Quero fazer retratos da beleza como ela é, crua e única.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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