Glauber Lauria

“…álcool tremendo em olhos imortais, Fitzgerald e Keroauc chorando na terra uma vez…”    

Allen Ginsberg em um poema do livro: A Queda da América, citação de memória.

Salto de dentro da casa com olhos ávidos céleres cintilando em busca de ermos amplidões horizontes atravessando grandes avenidas com a velocidade meteórica de quem busca algo indefinido e o que se me depara são frias arquiteturas desconjuntadas destituídas de estética quando ao lado caem em ruínas desabitadas os belos ornamentos de outrora são almas dilaceradas derruídas esmagadas por gigantescas horas de tédio em que contemplavam a própria desgraça com o fausto de um rei meditabundo são corações asfixiados por máscaras mais ou menos contaminadas enquanto com júbilo por sobre o mórbido asfalto meu coração bruxuleia pelo trigal com corvos incendiado por horas de leitura literatura para fazer da vida algo minimamente louvável e não a parafernália tóxica eletrônica tragando os rios do mundo por aparelhos cada vez mais finos para alimentar o oco vazio abismo onde sobrenadam o espaço artifício das coisas sem nome ou sentido suando e com fome cada vez mais rápido impulsionado por miríades de imagens poderosas o bastante para estremecer a ausência de deus os amontoados de barbearias pet shop conveniências inconvenientes apartamentos desconfortáveis e clínicas especializadas em todos os tipos possíveis de mazelas e infelicidades físicas psicológicas traumáticas espirituais inventadas sofridas criadas e ardentemente reproduzidas como o medo da morte de cães de moradores de rua e músicas que não gritam o óbvio para divertir seres que não sabem o que isso significa corro fendendo de poesia a cidade em busca de um porto papel livros enquanto em silêncio sorrio execrando carros carros carros árvores cortadas flores invisíveis e pessoas que não possuem mais visão regozijante de uma vida em que só a Arte alimenta eternamente amem amém amem…

Glauber Lauria é poeta e publica regularmente aqui na Cidadã(o) Cultura. Nascido em 1982, publicou de forma independente o livro Jardim das Rosas em Caos, já participou de três antologias em diferentes estados brasileiros e possui poemas publicados nos seguintes periódicos Sina, Acre, Fagulha, Grifo, Expresso Araguaia e A Semana.

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