Por Flamarion Scalia*

Na década de 50, o EUA passava por uma imensa transformação política e econômica. Após a segunda guerra mundial que teve seu fim em 1945, o país se estabelece como primeira potência econômica mundial, o fato é, a distribuição de renda não era igualitária, e entre outros motivos houve uma imensa insatisfação da população e nos jovens em específico. O movimento de contracultura dentro da filosofia hippie surge basicamente opondo-se a essa condição de consumo, de acúmulo de bens, da ideia de família, ter um bom emprego, etc.

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O movimento hippie sofreu grande influência de um movimento que o antecede, chamado Beatnik, ou simplesmente Beat. A geração Beatnik, assim como é chamada, foi um movimento literário que teve sua origem nos EUA em meados dos anos 50. A ação do movimento origina-se no âmago do descontentamento da juventude, e como não poderia ser diferente, parte de um grupo de jovens que subvertem o padrão literário enferrujado estabelecido, tendo em vista uma esfera de magnitude antes não alcançada. O grupo pretendia ampliar sua visão de mundo na vertente literária, artística e musical, muitas vezes com uso de drogas, álcool, sexo em grupo ao som do jazz. Um resgate das festas dionisíacas de um passado remoto. Talvez os nomes mais conhecidos deste período sejam Allen Ginsberg (1926 – 1997) e Jack Kerouac (1922 – 1969). Ginsberg foi muito influente na geração beat, hippie e também na música de sua época. O cantor, Jim Morrison da banda The Doors era seu fã assumido, dizia que quando ia compor suas músicas lia poemas de Ginsberg. Bob Dylan, The Clash, The Cult e aqui no Brasil Cazuza, eram admiradores de seu trabalho. Ginsberg escreve em 1956 seu poema “O Uivo”, uma maravilhosa obra da época. Um pequeno trecho da obra diz.

“Eu vi os expoentes da minha geração, destruídos pela
loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
hipsters com cabeça de anjo ansiando pelo antigo
contato celestial com o dínamo estrelado da
maquinaria da noite,
que pobres esfarrapados e olheiras fundas, viajaram
fumando sentados na sobrenatural escuridão dos
miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando
sobre os tetos das cidades contemplando o jazz…”.

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Jack Kerouac, que por muitos é considerado o “pai dos beats”, também escreve uma maravilhosa obra chamada “On the road”, que para a tradução do nosso idioma seria “pé na estrada”. Kerouac escreve a obra em prosa espontânea, uma técnica que ele denomina como fluxo de consciência, característica que a geração beat tenta adaptar a sua produção artística. O livro parte da ideia de liberdade, viajando pelas regiões do EUA e do México. A obra de inspiração autobiográfica transporta o leitor para uma profunda análise perceptiva de valores, conceitos, indagações, filosofia, antropologia entre outras questões, imerso no mais profundo hedonismo utilizando álcool, drogas e apreciando os prazeres sexuais. Conceito tal que seria incorporado a geração hippie e ao festival de 1969 chamado Woodstock, o lema era “Sexo, Drogas e Rock n’ roll”.

Huxley, um autor inglês também segue esse desmembramento mental, da consciência e da percepção, escreve no seu livro mais conhecido ’As portas da percepção’: “Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo pareceria para o homem tal como ele é: INFINITO”.

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De fato, a linha de pensamento filosófico que pautava tanto a geração beat e hippie, era de completo descontentamento da política e da sociedade vigente e propõe uma inovação do pensamento e de produção artística. Nessa mesma época fervilhava também um movimento de oposição com o passado artístico, o modernismo. O modernismo quebrava com o conceito do passado histórico artístico, com o propósito de inovação e abrangência no ideal de arte. Nos anos 70 o movimento punk também rompe com o passado musical existente e cria uma nova vertente, com seus três acordes e temática política, o movimento de rebeldia cria um conceito exótico nos padrões musicais, comportamentais e de aparência.

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Deste modo, o movimento beat e hippie, constituiu um avanço e um abalo que a literatura e a arte como um todo jamais tinha concebido como possibilidade real e empírica. Do hedonismo, da vivência com a natureza, da imersão no seu eu interior, da larga inspiração criativa no âmago da existência humana, dos extremos com drogas, álcool e sexo. É fato que tais abusos na Grécia antiga e no império romano também eram comuns e totalmente aceitáveis como prática. Será que o século XX passou por outra era dionisíaca como Nietzsche afirma ser possível em sua obra “ O nascimento da tragédia”?

O mergulho para dentro de si, o autoconhecimento, o povoamento do deserto do cérebro, o registro autoral da potencialidade individual, o impulso bêbado literário, a razão de existir apenas naquele instante para simplesmente produzir arte, o uivo descontente na névoa de tabaco, da incapacidade intelectual produtiva da elite diante da fúria artística dos plebeus, o vômito intelectual, a angústia musicada.

 E como diz Ginsberg: “ dançaram sobre garrafas
quebradas de vinho descalços arrebentando
nostálgicos discos de jazz europeu dos anos 30.

14021686_1091795530910694_8286884284358915762_n*Flamarion Scalia - Jornalista (colunista), 28 anos, 
morador de Goiânia. Permaneço,desde criança, imerso na filosofia 
e atualmente na deliberação da reestruturação das diretrizes 
fundamentais da epistemologia tradicionalista que para mim, 
é demasiadamente reducionista. Estudante de Artes Visuais (UFG), 
design gráfico e um aprendiz nas artes plásticas. 
Entusiasta da proposta surrealista e da crítica Dadá.

7 Comentários

  1. O texto está uma maravilha, mas eu concordo com a opinião acima, já que existem erros na colocação das vírgulas. Seria isso “desconhecimento gramatical” ou uma “ruptura” com o padrão vigente? kkkk

  2. A passagem ‘Huxley, um autor inglês também segue esse desmembramento mental, da consciência e da percepção, escreve no seu livro mais conhecido ’As portas da percepção’: “Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo pareceria para o homem tal como ele é: INFINITO”’, diz respeito a William Blake, que inspirou Huxley.

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