Lama.

Soterra, soterra, soterra.

Lama.

Afunda, afunda, afunda.

Lama.

Escava, escava, escava.

Lama.

“Parecia um liquidificador”, conta uma sobrevivente.

Drummond poetizou

O rio é doce

A Vale, amarga.

Lama, lama, lama.

Li-qui-di-fi-ca-dor.

Corpos arrastados.

Até agora, 84 para ser mais exata.

Quase 300 pessoas desaparecidas.

“Dessa vez, o dano humano será maior que o ambiental”, afirma o presidente da empresa.

Trabalhadores, moradores, animais.

O refeitório na trilha da morte.

O azul das águas torna-se vermelho.

Vermelho-sangue, vermelho-lama.

O presidente da república sobrevoa a área

Não pisa os pés na lama

Lama, lama, lama

Afunda, afunda, afunda

Soterra, soterra, soterra

Escava, escava, escava

Mariana, Brumadinho, barragens

Menos indústria da multa

Mais impunidade

Legislações paradas atendem patrões

Populações arrasadas entregam seu chão

A memória esvaziada naufraga na lama

“A cidade que eu cresci não existe mais”, chora outra sobrevivente na TV.

Jornalista narra que não é cenário de guerra

É velório

Talvez nunca encontrem os corpos

Familiares cavam com as próprias mãos

Toneladas de equipamentos de Israel

Tecnologia identifica o calor

Mas os corpos jazem frios

Soterrados

Afundados

Misturados com a lama-vermelho-sangue

A vida escorre

Pelo vale

Da morte

Lama, lama, lama.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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