Por Geni Nuñez*

A colonialidade sempre sonha com um jeito ~bom~ de permanecer oprimindo.
Almeja um cristianismo bom, uma polícia militar não violenta, uma monogamia saudável, um estado democrático e por aí vai.

É fazendo essa conta emocional que a branquitude, a cisgeneridade, a monogamia, a misoginia e etc reconciliam-se consigo mesmas.

Uma das fantasias brancas é imaginar um mundo em que se possa manter os próprios privilégios e não haver mais racismo. Ou um mundo em que se mantém privilégios hetero, cis, sem transfobia, bifobia, lesbofobia. Não veem que sendo identidades dependentes, os privilégios que sobram a uns são justamente fruto da exploração, do desprivilégio de outros. Não dá pra reformar algo que se construiu e se mantém através da dominação de outros grupos.

Mas o que fazer então, acabar com a branquitude, com a cisgeneridade, heterossexualidade, com a riqueza? SIM. O primeiro passo é o reconhecimento desses sistemas como opressores, o segundo é a reparação dos danos.

Ex: um mundo sem pobreza é um mundo sem riqueza.

Ex: heterossexualidade não é sobre práticas sexuais, é sobre dominação cultural, religiosa, política, simbólica.

Ex: branquitude não é cor da pele, é um (im)posição no mundo.

Não é possível construir saúde com o território corpo, em suas infinitas teias com outros seres, desde identidades hegemônicas.

Geni Núñez, Guarani, ativista no movimento indígena, sapatão, não monogâmica. Mestre em Psicologia e Doutoranda em Ciências Humanas (UFSC). Pesquisa colonialidades.

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