Sozinho dirigindo, ninguém ao seu destino. Poderia ter a ideia de levar ao meu próprio, pois sou motorista e como todo motorista, estou à disposição de quem precisa. Eu me levo! Se não tem alguém pra ir, gasto combustível pra ir comigo.

Motorista ou passageiro? Motorista sem trabalho, motorista-caroneiro dirigindo na pandemia. O dinheiro é preciso. O dinheiro não é o suficiente contra o mutante covid.

Não recebi uma chamada. Sentimentos aos que amam.

Esses dias dirigindo, com minha patroa, sob a neblina dessa tragédia com dias e corpos contados pela ciência, vivendo nesse filme de terror, resolvi tomar um porre. Quebrei a cabeça estudando.

Dirigir não é uma oportunidade. Isso é vida real (a maior das ilusões). Teatro, cinema, literatura são oportunidades. Como soa na banda Vanguart de seus poetas: é uma ne ces sidaaaa deee. Macaco Bong sabe dessa diferença, inclusive poetiza pra valer: Artista é igual Pedreiro.

– Magão! (Ela me chama)

– Eis-me aqui. Gastei todo dinheiro com cultura comprando livros, discos e fitas cassetes. Respondo.

Safrinha

– Larga de mentira, guri, gastou tudo na cervejaria Xaraiés e com as cervejas do Alessandro Americano.

Eu gosto do perigo. Pra quem tem carro o perigo é constante. Isso significa que não sou mais o herói, e sim as mulheres. Explico: essa hora da bebedeira eu não dirijo. Mulheres são melhores ao volante!

Tenho medo de cemitério e cemitério piscando a luz é ainda pior. Safrinha sabe. Pisca-pisca da porra aquele conjunto catatúmbico. Parar o carro pra filmar é por amor ao cinema; celular na mão e uma ideia na cabeça, mesmo. Agora, como que faz pra arrumar a lâmpada do cemitério? É só filmar. Paramos pra filmar o cemitério à noite. A luz piscava incessantemente, e quando ligamos a câmera a luz voltou ao normal. Foi assustador, confesso que arrepiei. Safrinha corajosa filmou. Isso foi em Chapada dos Guimarães e ao voltar pra casa, a todo momento olhava para o banco de trás, como não se faz ao ser motorista de aplicativo, porém depois de parar diante do cemitério talvez uma carona fantasmagórica tivesse aproveitado a oportunidade.

Uma carona inesperada. Uma não chamada.

Ê, gurizinho medroso!

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