Nada melhor que conhecer pessoas que estão em atividade constante, com asas nos pés e arte na cabeça. Pessoas que vão abrindo caminhos nos movimentos da vida. Que tem fome de vida, não se intimidam. Fiquei sabendo do trabalho da Kaká, através do Fabrício Chabô. Amigo e parceiro de décadas, ele falou dela com entusiasmo, você precisa conhecer, é uma figuraça. Mandei ver e fiz o contato. Daí para uma entrevista foi um zap.

Kaká, UFC na veia

Mulher, comissária de bordo, lutadora de MMA, apresentadora de programa de rock na TV – Crash TV, estradeira com um projeto solo, Tour Rock Brasil, rodando e vivenciando a música pelos mais distintos recantos do país. Descobrindo músicos e bandas, apresentando-as e criando conexões e circulação. Ela revela que deseja figurar no Guinness World Records quando atingir a marca de mil entrevistas com bandas. Bisneta do famoso criador dos pianos Schwartzmann, ela tem muita história na bagagem. Vamos deixar rolar que a fala é dela.

Como foi o início dessa relação com a música?

Minha história começou desde pequena, né? O amor pela música. Eu sou bisneta dos criadores dos pianos Schwartzmann no Brasil. Tenho tios que tocam e assim vai… E, sempre, sempre, apaixonada pelo rock. Eu era comissária de bordo, e, de repente, me demitiram por que fizeram um corte muito grande na empresa. Daí, resolvi fazer um curso de piloto, sou pilota de avião monomotor, e sou também, lutadora de artes marciais. Isso atraiu a atenção de vários canais que me entrevistaram, uma mulher que luta, que pilota avião, apaixonada pela música, sou gaitista também. Toco gaita há muitos anos, já subi em grandes palcos. Uma vez fiz uma canja com metade da banda Barão Vermelho e metade Kid Abelha, outra vez fiz uma brincadeira com Cole Ray, então, sempre respirando música.

E como apresentadora de TV? Já era um desejo seu?

Numa dessas entrevistas que dei, numa TV a cabo de Florianópolis, TV São José, o entrevistador me perguntou se eu não gostaria de ter um programa de música? Respondi que.. Ahh nunca fui pra esse lado de ser apresentadora e tal, e ele falou: Que tal você ter um programa de música? A gente podia começar já, nessa semana. E eu?!! O quê?? Foi tudo muito rápido. Pensei, quer saber? Eu tô desempregada mesmo, tinha sido demitida, vou ver qual é a disso aqui! E comecei…

Kaká entrevista Kid Vinil

Acontece que o programa começou a dar audiência. Foi ao vivo meu primeiro programa na vida. Três câmeras, não sabia nem pra onde olhar direito. Sorte a minha que o cinegrafista já tinha anos de televisão e me ensinou muita coisa. Daí em diante começou a dar audiência mesmo, consegui levar vários nomes da música pra emissora, depois disso recebi o convite pra ir pra TV Band, Santa Catarina, pegava em uma parte do Paraná e Rio Grande do Sul. E começou a dar audiência também. Um dia, pensei: Por que não tentar uma TV Nacional? Um belo dia um amigo falou: Eu tenho uma vontade de conhecer a galera do rock! Estávamos em Florianópolis. Falei: Nossa juntou a vontade de dois aqui, eu quero muito ir pra São Paulo pra tentar minha carreira. Eu não tinha muito dinheiro, pegamos carona de caminhão pra chegar em São Paulo. Depois de um dia e meio de viagem, chegamos, com apenas uma mochila e meu port fólio, umas roupas, com o mínimo.

 Pé na estrada…

Quando chegamos em São Paulo, como eu tinha sido comissária, falei pro amigo, vamos tentar ficar na casa do pessoal que eu conheço, mas não rolou… Nesse primeiro dia ficamos na roubada, aquele bairro ali, Campo Belo, tinha muitas casas com placa de aluga-se, invadimos uma casa, dormimos ali mesmo e no dia seguinte saímos para conhecer a galera do rock. Foi uma aventura bem louca! Meu amigo foi embora depois de alguns dias e eu fiquei, continuei em São Paulo. Na roubada pura, fiquei uns dez dias na Rodoviária, tomava banho lá, me arrumava, batia nas portas das emissoras e nada, nada, nada. Um diretor de uma delas falou: Esquece, você não tem potencial para isso”. Mesmo assim continuei lutando!

 Desistir jamais?

Passei um tempo assim… mas não desisti. Sempre falo pras pessoas,”nunca desista”! Acabei conhecendo um empresário na Expo Music. Quando contei toda a minha história, ele disse: Você tá louca, volte para Floripa. Falei: Ah é? Virei as costas e fui saindo. Ele me chamou: Vem cá, eu vou apostar em você. Ele fez toda a correria e conseguiu colocar o programa na Rede TV, para todo o Brasil.

Quando estreei, na Rede TV, convidei o Luis Carlini, que eu já conhecia, que tocou com a Tutti Frutti, tocou com a Rita Lee, convidei ele para apresentar o programa comigo. Na hora, o Carlini aceitou. Depois chamei o Clemente, dos Inocentes, Plebe Rude, aí chamei o Siang, o Trovão, que teve um programa com o João Gordo na MTV. O Trovão aceitou imediatamente também. Aí eu tava com um time bem forte e no programa passaram vários nomes bem fortes do cenário nacional. Nós estreamos com Ultraje a Rigor. É preciso dizer que o Ultraje ainda não tinha voltado para a mídia. Eles estavam um pouco afastados e foi muito legal, por que a minha plateia tinha jovens de 16 a 20 anos, mais ou menos 150 pessoas de público e eles não conheciam Ultraje a Rigor, e que naquele dia ficaram eufóricos com a banda. Foi muito legal poder levar isso aos adolescentes.

Kaká entrevista Paulo Ricardo no Crash TV

Daí veio Dead Fish, Kiko Zambianchi, Paulo Ricardo, e o programa começou a dar muita audiência. Saímos até no jornal, que nos criticou, jornal O Globo, na coluna da Patrícia Kogut, que nos criticou falando que o programa merecia nota zero. Aquele dia levei um choque e falei: Caramba, críticas assim tão fortes…A gente foi conferir no IBOPE, o programa tinha dado uma audiência forte e isso meio que estava provocando a outra emissora, pois nosso programa estava dando uma audiência mais forte naquele horário. Aconteceu que a Igreja foi lá e comprou nosso horário. Nesse momento saímos da Rede TV. Mesmo assim não desistimos. Depois tive um programa na RBI e nunca desisti do Crash TV.

 Os projetos não param nunca? 

Como tive problemas com patrocinadores, com as dificuldades que surgiram, para não interromper o site e não ficar parado, resolvi criar o Tour Rock Brasil, que é outro projeto. Criei o Tour bem no dia que eu me separei. Pensei, nossa, que vida é essa que estou levando, casada, sempre no mesmo lugar. Vendi tudo que tinha. Acabei ficando só com o carro e roupas. Peguei meu equipamento, já tinha feito curso de cinegrafista, sabia filmar, sabia editar, falei: vou sair pelo Brasil adentro entrevistando novos talentos. Sem pretensão nenhuma, só que, quando eu estava lá pela centésima banda já estava chamando a atenção e dando entrevistas para os jornais. Em todas as cidades por onde passava despertava a curiosidade. Eles perguntavam: Como uma mulher sai sozinha de carro por essas BRs, entrevistando várias bandas de rock, sem patrocínio, sem saber onde ficar, sem saber que tipo de banda iria achar na cidade? Foi uma loucura. Passei várias roubadas e sempre a música me fortaleceu.

 Histórias da vida, na estrada…

Certa vez cheguei numa cidade que só tinha dois hotéis e estavam lotados. E agora? Pra onde eu vou? Achei um circo, conversei com o dono, expliquei a situação, mostrei meu material de trabalho e ele permitiu que eu ficasse ali por uma semana. Morando esse tempo no circo fiquei observando a vida circense. Fiquei triste com a falta de apoio para o circo, sua desvalorização e comecei a apoiar o pessoal do circo pra valer, com o que eu puder fazer.

Mas não é fácil pegar várias estradas assim, sozinha, as vezes fazer 600 km num dia. Ir para lugares desconhecidos sem saber se vai achar uma banda para entrevistar.

 Como bancar tudo isso? 

Em todo lugar que chego faço permutas com restaurantes, com redes de hotéis, grandes marcas já nos apoiaram e ainda apoiam hoje, como a Rede Íbis, apoiam muito a arte, a música, são sensacionais. Agradeço ao Mercury também. Em cidades com média de pessoas em torno de quatrocentos mil fica mais fácil fazer parcerias. E alguns patrocinadores que sempre acreditaram na gente.

 O Brasil por dentro do rock 

Banda cuiabana, The Xomanos

Já cheguei com o Tour Rock por cidades de 15, 20 mil habitantes. Impressionante como têm tantas bandas pelo Brasil. Em Bituva, no Paraná, foram 17 bandas, numa cidade que tem 15 mil habitantes. Isso fortaleceu bastante, por que além de estar descobrindo talentos, várias bandas têm dificuldades de mostrar seu trabalho fora de sua cidade, de seu estado. Então,o Tour Rock Brasil conseguiu fazer várias conexões no Brasil inteiro. Conectamos banda do Rio Grande do Sul com Fortaleza, com Salvador. Por exemplo, aí de Cuiabá, a banda The Xomanos está se destacando muito no projeto, pelo seu profissionalismo, pela garra. O Renato é sensacional, ele é uma pessoa em que a gente vê a paixão pela música nele! Tanto que hoje em dia ele está começando a ser bem conhecido pelo Brasil. Temos representante em cada estado do Brasil agora. Todos conhecem o Renato e a banda The Xomanos, que passa a ter essa visibilidade para o mercado nacional. Nossa intenção é conectar essa galera independente com o mercado nacional.

Circulação agora em meio à pandemia. Como fazer?

Com esse problema da pandemia não estamos conseguindo circular e nem gravar também. Estamos realizando a live do Crash TV todos os sábados. Misturamos bandas do cenário nacional com bandas independentes. Como já aconteceu, com Casa das Máquinas, pessoal do Kaza, do Ira B Negão, Di Mello, um dos grandes nomes do samba rock. O programa vai do pop, samba-rock ao heavy metal.

O que tá salvando a galera nesse momento difícil são as lives. Muita gente tá passando por dificuldades. O Crash TV tem contribuído. Estamos fazendo lives de apoio a produtores e artistas que de uma hora pra outra perderam tudo. Temos alguns patrocinadores que não abandonaram nossa marca que nos permite somar forças e apoio para os artistas.

O rock é resistente?

Apesar de o rock ter perdido muito espaço na cena estamos negociando um retorno do Crash TV para a TV nacional. O programa é focado em apoiar o skate, tatuagem, bandas, motociclismo e Djs. Vai dar uma abertura muito grande para essa galera. O Tour Rock Brasil está aí junto para trazer novos talentos para o mercado. Tá sendo muito positivo poder conectar essas bandas. Eu trabalho com bandas como The Xomanos de Cuiabá, The Stakeholders de Mogi das Cruzes, Bellini que é um músico solo, espetacular, tá se destacando bastante no cenário, a banda Duque de Arake do Recife, banda Neurônica de Fortaleza, enfim, todas essas bandas estão se conectando pelo Tour Rock.

Kaká Schwartzmann continua firme e forte, não desisti!

 

24 Comentários

  1. Luiz Carlini, pelo amor de Deus! Uma lenda! E o que vc quer dizer com “voltar à mídia”, como se vc fosse responsável por nossa carreira? É cada uma…

    • Roger meu nobre digno representante de uma história do rock, você é um cara que tenho profundo respeito e sou um fan aliás de seu legado com a banda. Mas não desdenhe a mídia pois você mesmo está nela, ou vai me dizer que o programa do Gentilli não o ajuda a permanecer com a permanência de uma história que você construiu nós anos 80? E a Kaká é uma força do rock que não se cansa de fazer de sua vida todos aqueles que fazem parte desse gênero, estilo e por muitos até uma religião!

    • Meu caro Roger ,acho que houve um erro de interpretação da sua parte.
      A mídia precisa do artista como o artista precisa da mídia.
      Respeito pelo trabalho dos outros é o mínimo!
      Grande abraço!

    • Olá amigos, como assessor de imprensa do Roger Moreira venho informar que o comentário acima é de uma perfil fake, e o mesmo não tinha nenhum conhecimento da citação feito pela Kaká.

  2. Roger Moreira não sei pra que serve teu Q.I elevado, tu não sabe mais nem interpretar um texto cara‼️ realmente vc está com a doença chamada burrice adquirida meu irmão. Vc hoje em dia é a verdadeira “Paumolecência” do rock brasileiro, meus pêsames.

  3. Que bom que existem pessoas como Kaká, que buscam incentivar a cena do rock autoral, tão esquecida pela mídia e tão descartada por vocês “artistas”, que num passado não tão distante lutaram pra ter espaço, mas que num presente resolvem ridicularizar o trabalho de quem da duro pra tentar fazer gerar o rock aqui, pouco agregando e incentivando a nova geração de bandas e artistas de qualidade que temos!

  4. Olha, o animar do auditório do Danilo Gentili apareceu para comentar uma matéria sobre música.
    Achei que depois do acústico MTV tu tinha se retirado do meio musical para entreter platéias com piadas ruins. Mas pelo jeito tu também se especializou em fazer comentários aleatórios desnecessários.
    Que fase. E que chato ler isso num dia tão triste para a cultura nacional.

  5. Kaka!!!Guerreira do Rock Autoral! Ao contrário dos que criticam ela apóia, é humilde e recebe essa linda matéria e homenagem!
    Parabéns Kaka! Vida longa! Siga em Frente!
    Comentários cobertos de inveja e maldade de quem deveria se unir pelo ROCK devem ser desconsiderados! Jamais ofuscará teu Brilho e verdade!

  6. Parabéns Kaká. Vc merece muito respeito. Pessoa humilde e iluminada. Sempre disposta a ajudar. Sempre lutando para manter a arte e principalmente ajudar músicos e manter o rock Pop-Rock em evidência.
    Parabéns e sucesso sempre.
    Tmj.👏👍🤜

  7. Roger o que eu tinha de respeito por você já esta se desgastando a um tempo. Cara você só esta na mídia por causa do Gentilli, no dia que ele der suas contas você vai voltar a viver no underground e ficar ai correndo atrás de shows. Nós que temos bandas de Rock no underground temos que apoiar pessoas como a Kaka que esta ai lutando para levantar nosso estilo aqui no Brasil. Pais esse que vive de moda, que esquece de bandas como a sua por exemplo. Falam tanto de seu Q.I elevado e só abre a boca para falar besteira e provocar os outros. Ao invés de criticar busque apoiar você faz parte desse meio. Passar bem!

  8. Ótima matéria👏🏼
    Parabéns Kaká vc é uma das grandes pessoas que luta pelo rock nacional 🇧🇷 sempre apoiando e lutando pra colocar o rock em destaque nas grandes mídias.
    A galera tá respondendo o comentário do Roger, vai uma dica aí…
    Roger convida a Kaká Schwartzmann pra ser entrevistada pelo Danilo pra ela contar as histórias dela e mostrar o papel dela no rock.
    O rock não morreu. Tá mais vivo do que nunca.

  9. Isso aí Kaká, parabéns pelo trabalho e estamos juntos, quanto ao Roger eu ia ficar quieto más é difícil não comentar, pra aparecer pra falar merda nem precisava, você fica aí na sua praia então e aproveita enquanto tem onda, por que depois dessa vai ficar difícil vc vir farofar na praia do underground, seu mundo é outro.

  10. Kaká, amiga, parceira, irmã, Deus te abençoe nessa caminhada, sou eternamente grato pelas oportunidades que o Tour Rock Brasil tem me proporcionado, beijo enorme, valeeeu….

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