Há muito venho falando que a bela e aconchegante Chapada dos Guimarães precisa repensar a forma de realizar eventos culturais e turísticos como forma de atrair pessoas. Um exemplo disso foi o Geodésica in Blues Festival que aconteceu no dia 10 de novembro de 2018. Eu diria que foi perfeito. Passamos exatas oito horas na cidade e apreciamos boa música, bebemos e comemos, encontramos pessoas bacanas e pudemos sentir aquela atmosfera mágica que o lugar oferece com fartura. Não esquecendo que tivemos direito, ao anoitecer, a um breve show de neblina com umidade típica e visual estupendo.

Saímos de lá convencidos de que o evento foi bem próximo daquilo que podemos considerar ideal para as dimensões e estrutura que a cidade oferece. A quantidade de pessoas que compareceu, o perfil de consumidor ligado à boa música, de comportamento pacífico e acolhedor, deixou uma impressão muito legal e vontade de repetir. Claro que digo isso pensando em alternativas para a ocupação de nossa estrela turística maior com atrativos variados, mas de forma educada e prazerosa. Não consigo mais subir a serra com o modelo de evento que é o Festival de Inverno por exemplo. Não funciona esse tipo de festa de massa e que leva milhares de pessoas para o desconforto da falta de água, da falta de paciência, da falta de educação, no simples mas devastador gesto de jogar lixo nas ruas, da falta de espaços livres para caminhar em paz e respirar ar puro, das atrações de mau gosto que costuma imperar com programações culturais de gosto duvidoso e mais uma infinidade de faltas que complicam muito a imagem do local.

Agora, vamos falar um pouco de música que foi a motivação para subirmos até Chapada. Prestem atenção no blues que vem sendo tocado em Mato Grosso. Nas palavras do maravilhoso Décio Caetano – para quem não conhece, ele é referência nacional do blues brazuca – que toca e interpreta um blues pra americano e europeu verem, e que no meio do show tascou essa: “Já toquei em todo o Centro-Oeste brasileiro e posso afirmar que Mato Grosso tem hoje o melhor blues da região e um dos melhores do Brasil, sem dúvida nenhuma!”. Dito isso, ele emendou mais uma canção com maestria, o cara toca demais, foi um show para abrilhantar ainda mais a tarde que se estendeu pela noite com apresentações dignas do melhor do blues que já vi por essas bandas. Todos os shows agradaram, mas fiquei particularmente encantado com as apresentações do Silver Guy, apresentado como a revelação maior dessa música por aqui; Camila Fidélis também arrasou, acompanhada pela banda Stone Flower Blues, mostrando uma potência vocal transcendente e um amadurecimento bastante perceptível; a vocalista da The Free Blues Band, que não sei o nome mas que levantou a plateia, uma banda de Rondonópolis; Allan House e Mississipi Jr. e todos, literalmente todos, foram muito bem, não deixaram margem para dúvidas, não deixaram a bola cair em nenhum momento. Infelizmente perdemos o show do Fidel Fiori e Blend Blues Trio. Esse evento precisa se repetir todo ano, com louvor. Eles estão empenhados em fazer o festival crescer, se consolidar, entrar definitivamente em nosso calendário cultural anual de forma a abrilhantar nossas festas e encontros. Mas, quem são eles? Xisto Bueno, Luiz Brizuela e Marcos Sguarezi, os organizadores, que estão fazendo o blues do mato crescer e aparecer.

Quero fechar aqui com uma referência ao rei do blues de Mato Grosso do Sul, o grande homenageado do Festival, Renato Fernandes, uma lenda cuja música ainda pulsa cá entre nós. Eternamente blues. Sua presença pairava sobre tudo, senti isso o tempo todo.

 

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