Por Sika*

Já se passaram um ano e dois meses da morte do ‘rei do blues’, no entanto, sua arte está mais viva do que nunca! De origem pobre e humilde, este (que não é simplesmente um guitarrista, mas um guitarrista de blues) emocionou gerações e inspirou grandes artistas mundiais, como Eric Clapton, John Lennon, Jimi Hendrix e tantos outros. Ao lado da sua inseparável Lucille (como ele apelidou o seu amado instrumento), ele soube dizer exatamente porque veio para este mundo. Estou falando de B.B. King.

Em março de 2010, tive o prazer enorme de ir ao show deste grande astro. Penúltima vez da vinda dele ao Brasil. O show foi bem intimista – embora o Via Funchal estivesse completamente lotado.

Lembro que em um momento da apresentação, um fã sentado bem em frente ao palco gritou aos berros ao King, pedindo para ele tocar ‘The Thrill is Gone’, pois essa música fez com que ele conhecesse o amor da sua vida há 20 anos. Com os seguranças se aproximando e o cara naquela situação, o rei não deixou de ser rei. Ele simplesmente pegou a velha Lucille e soltou os riffs da música que marcou época (e também a noite). Foi arrepiante e o povo foi à loucura! Mas infelizmente não consegui registrar o diálogo, mas vocês podem ver a música sendo tocada no vídeo a seguir:

Por algum motivo, não citei este trecho no meu texto que escrevi na época. Mas queria dividir com vocês um pouco da emoção que havia sentido naquele dia inesquecível, no qual pude sentir a energia deste astro do blues, que tanto inspirou bandas, artistas ou pessoas de forma geral. O material está na íntegra. Espero que gostem 🙂

Que seja eterno o seu som, B.B, King! <3

O rei do blues no Brasil

(publicado no dia 23 de março de 2010)

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É engraçado como certas realizações na vida acontecem de forma tão inesperadas. Conheço o blues há alguns anos, mas tive interesse – e um certo envolvimento “íntimo” – há alguns meses, através do repertório da banda cuiabana Expresso Vinil (com apresentações em stand by até meio do ano por estarem se dedicando a projetos pessoais). Foi verdadeiramente um “amor à segunda vista”. Algo cativante que me fez ter aquela ânsia de pesquisar mais sobre este estilo e seus precursores.

Em meio a tantas músicas – daquelas em que você precisa sentar e relaxar para apreciá-las – escutei B.B. King, cujo os dois “B” significam “Blues Boy”. Um garoto de 84 anos de idade. Norte-americano, nascido no Mississippi – um dos pontos onde se originou o blues -, guitarrista e cantor, começou as suas primeiras dedilhadas musicais na esquina de uma igreja para ganhar alguns trocados.

Muitas vezes é citado como Rei do Blues e diferente de muitos guitarristas famosos, B.B. King usa poucas notas em suas músicas. Certa vez, o mesmo teria dito que poderia fazer uma nota valer por mil, e isso não discordo de jeito nenhum.

Tive certeza disso e pude me deslumbrar ao vivo, assistindo o show do próprio, sábado passado, em São Paulo, no Via Funchal. A grana era curta, mas a vontade era muita. A começar pelo espaço, não me decepcionei: Ele era glamuroso, com suas mesas e cadeiras divididas em camarotes. Foi em um destes que fiquei. E pasme: a mais ou menos 20 metros do palco. Foi emocionante, e melhor, nada foi planejado. Comprei o ingresso um dia antes, logo quando cheguei na “terra da garoa”. Isso foi muita sorte, pois havia apenas 13 restantes. O preço foi meio “salgado”, mas naquela hora valia tudo.

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Apesar do aviso de “proibido tirar fotos”, eu e mais dezenas de presentes na plateia colocamos nossas máquinas a postos. Comecei a tirar fotos do local, inclusive do palco que tinha um banner gigante com o nome da atração da noite, e sobre ele estavam todos os instrumentos, prontos para serem tocados. E em meio a estes, em especial, estava a Lucille, nome de “batismo” de uma das guitarras mais famosas do mundo. Uma Gibson ES-345 azul escura, que acompanha B.B. King desde a década de 1950. Ela estava lá, brilhante e encantadora, paradinha em cima do suporte.

De repente as luzes se apagam, e toda a banda aparece fazendo um solo excitante, mas só de aquecimento. Tomando como ponto de partida o início do movimento blues, com os escravos nas lavouras de algodão, me senti nessa era, ao perceber o time que acompanhava: músicos negros, todos no alto de seus 50 ou mais anos. Me remetia aos artistas seminais do blues.

Depois de um super aquecimento, o Rei do Blues, logo após uma breve apresentação de um dos saxofonistas, aparece e é recebido com calorosas palmas, vindas do público em pé, este que se misturavam em pessoas mais velhas até os mais jovens, todos prontos e ansiosos para escutar a voz e as dedilhadas clássicas da atração da noite.

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Com o peso da idade e do blues carregado, B.B. King passou o show inteiro sentado em uma cadeira, tocando e cantando para o público. Vale ressaltar, na última vez que veio ao Brasil, havia anunciado que aquela seria sua última turnê.

Ele continua sendo a estrela maior. Com notas e sonoridades características de seus maiores sucessos, o cantor brincava com os riffs e executava seus solos com exatidão. Além disso, não deixou transparecer absolutamente nenhuma dificuldade para comandar a apresentação da noite.

Começou com a romântica “I Need You So”, oferecendo para todos os apaixonados. Nesta primeira música, o som da voz estava baixo, e dava para se perceber alguns estalos vindos das grandes caixas de som comportadas ao lado do palco, além de ruídos saído da “Lucille” toda vez em que não estava sendo tocada. Mas mesmo com todas estas falhas técnicas, o Rei não perdeu o humor. Em vários momentos brincava com os integrantes da banda, beijava o microfone durante músicas românticas, conversava diretamente com o público, arriscava algumas palavras em português e elogiava a todos os brasileiros, principalmente os presente na noite.

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Ainda tocou e cantou junto com a plateia os hits “Everyday I Have The Blues”, “The Thrill is Gone” e “Let the Good Times Roll”, nestas já com um som melhor que a primeira música. Com todo o carisma, ele começou a elogiar a beleza das brasileiras, e ainda comentou que jamais tinha visto mulheres feias no mundo, fazendo todos os presentes caírem na gargalhada. E em homenagem às elogiadas da noite, King tocou “You are my Sunshine”, cantada em uníssono. Para não perder o costume, logo após cantar a música, King ainda arrancou risos “Não quero que vocês vão para casa achando que B.B. King canta country, pois ele canta blues!”. E para os “handsomes” – modo como B.B. King chamava os homens da noite, o que significa “bonito”, em inglês, tocou o sucesso “Rock me Baby”.

Ainda conversando com a plateia, ele começa a enxugar a sua “Lucille” com uma toalha, e diz que a mesma estava chorando, pois tinha que ir embora. Mas depois de muitos pedidos de “mais um!”, B.B. King, como um rei que precisa agradar os seus súditos, termina a noite com hino gospel folclórico bastante conhecido nos Estados Unidos, “When the Saints Go Marching In”, fechando o show, aplaudido de pé. A emoção foi única.

Depois desta, já estou mesmo é à espera da próxima apresentação. Torço mesmo para que ele “não esteja pronto para aposentar” – como o mesmo declarou durante o show -, e que ele ainda demore para anunciar a última turnê, mesmo já tendo o feito. Acredito que pela disposição apresentada, há de vir muitos e muitos shows pela frente, por que o mundo precisa de toda esta alegria e vibração que só o Rei do Blues pode passar.

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*Sika é jornalista, desenha algumas coisas e não acha que Roberto Carlos é rei coisíssima nenhuma!

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