Por Fábio Pinheiro

na avenida escura das vértebras enfileiradas
um relâmpago.
nos espelhos embaciados que a refletiam não havia nada
de justiça.

mas o que é a justiça?
um nervo arrepiado nos flancos de quem procura doçura
enquanto se espezinha entre detritos algum simulacro de cura?

mas o que é a doença?
eu e você, e João e Maria, e José e Jesus,
todos os treze apóstolos,
as sete trombetas,
a sarça ardente no cu dos fascistas,
um prego eterno na alma esvaída dos justiceiros,
o rígido código de ética dos guaxebas,
dentre tantos saudosos idílios
esta macabra nostalgia,
e acima de todos
suma santidade
ardendo em cada conta deste rosário de pústulas,
a pele como uma bainha de desculpas,
um preto em um cadafalso.

 

*Fabio Pinheiro é poeta, professor e cidadão do mundo, daqui até Hades

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