Por Flamarion Scalia*

Nas duas últimas semanas que antecedem o dia de hoje, tivemos três eventos envolvendo mortes de pessoas com imensa notoriedade outras nem tanto: o falecimento do poeta brasileiro concretista Ferreira Goulart, a morte do cubano guerrilheiro revolucionário Fidel Castro e também um trágico acidente aéreo envolvendo os jogadores da chapecoense. No nível de importância que atinge o conceito humano, creio que todos eles perante ao olhar da maioria da nação, tem seu valor e o mesmo peso. Não me refiro a simples análise de pertencer a um partido ou outro, de jogar para um time ou da divisão que participa; o sentido da abordagem vem do nível de importância que tem cada um que se foi entre cada um de nós e a visão que a própria mídia estabelece.

Lembro-me perfeitamente da primeira vez que ouvi falar de Roma, o grande império romano, que matou Cristo, inventou os aquedutos, o aquecimento de casas até a loucura de um certo imperador que deitou-se com sua própria mãe e que depois manda matá-la, envenena seu meio irmão, incendeia Roma e observa a cidade ardendo em chamas ao som da lira que tocava, lembrando que o imperador Nero era aluno do notável filósofo Sêneca. Sim, existiu um imperador que cometeu isso e outras coisas que não convêm falar, em 14 anos de governo, se matando depois aos 30 anos. O ponto de discussão não é necessariamente as atrocidades e excentricidades cometidas por um ou outro imperador romano e sim a política do pão e circo. Muitos historiadores desconfiam da ideia de que a política do pão e circo seja para distrair a população com intuito de distorcer a visão no que diz respeito a política da época. Mesmo com tais considerações, abordaremos a visão de que a política do pão e circo seja para fins de manipulação de massa. Existe um ditado taoista que diz: “quanto mais instruído o povo, tanto mais difícil de o governar”. Partindo dessa lógica, sem mais redundância, analisando o atual momento sócio político que estamos atravessando, existe uma possível política de pão e circo em nosso país?

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Releitura do poema de Ferreira Goulart – Flamarion Scalia – óleo sobre tela (2016)

O Galvão Bueno narrando em horário nobre na maior emissora do Brasil, o velório dos jogadores da Chapecoense. A cobertura que atravessa as noites e os dias nas emissoras abertas e algumas da TV paga, a comoção diante do trágico acontecimento que tivemos recentemente, entrevista com todos os membros possíveis dos jogadores mortos, não respeitando o luto das famílias. O avião caiu no dia 29, no mesmo dia 29 de novembro ocorria, no Senado, a votação da PEC 55; qual foi o ocorrido com maior cobertura da mídia e qual obteve maior importância e notoriedade?

Muito interessante, não me recordo de ver o mesmo acontecimento midiático no velório de Ferreira Goulart, uma notinha rápida entre o noticiário de economia e as notícias do tempo. A importância que a mídia e a população dá para cada evento diz muito a respeito desses cidadãos. Foi possível ver nas coberturas dos jornais a população de Cuba esperar dias debaixo de sol escaldante para ver seu líder morto, dar seu último adeus ou ver que se livrou de alguém que tinha tamanho ódio e pavor. Seria, no caso de Cuba, a ida para o velório de Fidel, por amor ou ódio, uma proposta midiática de manipulação que condenaria sua nação ao extermínio diante da ignorância e do controle mental emitido por um forte posicionamento do governo, ou um patriotismo congênito, visto que seus antepassados também admiravam a figura do líder cubano que fez a revolução em 1959? Os dois eventos têm, sobretudo, um forte apelo de comoção de massa. O evento dos jogadores da Chapecoense tendo fim para uma exploração midiática programada com direito a velório narrado com choro ao vivo e velas; ou por apelo da nação diante de um herói nacional cubano morto ou uma simplória notinha de rodapé que reclama: hoje meus amigos, a poesia brasileira morreu.

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Poeta Ferreira Goulart

 

14021686_1091795530910694_8286884284358915762_n*Flamarion Scalia - Jornalista (colunista), 28 anos, 
morador de Goiânia. Permaneço,desde criança, imerso na filosofia 
e atualmente na deliberação da reestruturação das diretrizes 
fundamentais da epistemologia tradicionalista que para mim, 
é demasiadamente reducionista. Estudante de Artes Visuais (UFG), 
design gráfico e um aprendiz nas artes plásticas. 
Entusiasta da proposta surrealista e da crítica Dadá.

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