Algo me chamou a atenção naquele sarau, o som que emanava do palco me atraiu até sua proximidade. Ao final, cheguei perto e comentei: Confesso que só agora ouvi e senti seu som pra valer! Até então não tinha sentido uma presença tão boa no palco. Foi assim que falei para Rogê Além e Robson Resner, na beira da ribalta do Sarau das Artes Free, na Praça da Mandioca, no dia do lançamento do Cidadão Cultura. O evento pegando fogo e eles mandando um som leve, meio blues, com uma poética convincente saindo da boca do Rogê. Um violão seguro e a gaita fluindo bem da boca do Robson. Uma dupla sem muito barulho, que vem chegando e vem chegando cada vez melhor.

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Salvo engano vi um show de sua banda das antigas, Engenho de Dentro que me deixou meio avoado, não consegui captar bem sua essência, achei um pouco solto. Mas hoje relembrando, parecia uma proposta bem interessante, com leitura de poemas, sons experimentais, artes plásticas, dança, era forte o movimento de música autoral indie, com a explosão de festivais Brasil afora. Engenho de Dentro durou um bom tempo com, Roger Além (vocal), Robson Resner (gaita), Dewis Caldas (contrabaixo), Carlos Gontijo (teclado), Igo Bandeira (bateria) e Marcos Maia (guitarra).

Mas hoje a pegada é outra, um som mais intimista, mais leve, romântico. Segundo Rogê, suas composições deram uma virada-guinada depois de uma história de amor que culminou em um casamento que mexeu com suas estruturas internas. O homem se apaixonou e daí derivou canções em que o tema principal é o amor. Coisa difícil de lidar sem cair na pieguice. A um passo do precipício, provoquei-o entre risos.

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Os caras vieram do sul do país, como tantos outros brasileiros que para cá vieram em busca de oportunidade. Primeiro moraram no interior de Mato Grosso, se conheceram em Nova Mutum, de cara já se tornaram amigos e parceiros, rolou uma identificação extra. O destino os trouxe para Cuiabá e até hoje dividem música e poesia. Mas eles têm outros projetos com outras pessoas. Fazem parte desse grande caldeirão musical contemporâneo que vem embalando a cidade, criando trilhas sonoras autorais.

Rogê veio do Paraná e Robson de Santa Catarina.

Um dos projetos do Rogê é o DoAlém Estúdio, com sessions live, onde filma, grava som e divulga a galera independente. Busca parceiros, já gravou com nove músicos locais. O projeto faz parte de sua cota de doação, quer contribuir com os colegas, está abrindo as portas para parcerias e isso é bem bacana.

Sem título

Profissionalmente é aquele sufoco, na ausência de um mercado vem se desdobrando em múltiplas atividades para bancar a própria carreira que vem fomentando com pockets shows, fuçando aqui e ali, se apresentando em eventos, festas, encontros, saraus, enfim, passo a passo conquistando seu lugar no caldeirão mix cuiabano. Rogê está disposto a percorrer o país com sua música, recentemente saiu para uma breve excursão, no estado do Maranhão e em Santa Catarina. Circular é a palavra chave que Rogê vem utilizando para abrir novas portas.

Robson é fã da gaita desde moleque. Pesquisa bastante, busca ouvir as principais referências da gaita blueseira. Dentre as referências musicais Robson destaca o blues brazuca do Blues Etílicos, que tem uma gaita de primeiro mundo com Flávio Guimarães, que é a principal referência na gaita de blues no Brasil. E a inevitável citação, Sonny Boy, que na opinião de muitos foi e ainda é o maior gaitista de blues de todos os tempos. Soma-se aí, John Hammond, Magic Dick e outras feras. Robson leva muito a sério a pesquisa musical e o trabalho árduo para conseguir criar seu próprio espaço musical, DNA próprio.

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Os dois ouviram muita música desde a infância, nasceram em ambientes musicais com influência do rádio e da comunicação em suas vidas. A poesia faz parte de suas rotinas, Robson mantém uma página no Facebook com suas criações, da qual pincei esse poemeto aqui, pra fechar o texto e brindar essa dupla que vêm abrindo portas para novos caminhos:

Afirmo-me,

Como obra prima

Do meu próprio

destino

 

 

 

 

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