A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) realizou um evento cultural na semana passada que contou com três lançamentos: dois livros e um CD. O evento foi organizado pelos professores Teresinha Prada e Roberto Victorio e aconteceu no auditório do Instituto de Linguagens/Faculdade de Comunicação e Artes.

Os livros que foram lançados são “Música Ritual Bororo e o mundo mítico sonoro”, de Roberto Victorio e o “Catálogo Comentado da Bienal de Música Brasileira Contemporânea de Mato Grosso”, de Teresinha Prada e Roberto Victorio. Já o CD leva o nome de “Trilogia Bororo”. Como um bônus foi relançado também em parceria com o site Cidadão Cultura o filme Aroe Jari, média metragem, documentário, dirigido por Eduardo Ferreira, que você pode ver aqui.

vicA abertura do evento contou com um concerto de música contemporânea. O programa incluiu obras de Victorio. Foram executadas, em estreia mundial, as canções “Na-Yucat III” (dois violões e vibrafone), “Prelúdio 32” (soprano declamando o poema de Selma Antunes, e viola), “KinderQuarteto” (Quarteto de violões), “Miniaturas” (quarteto de violões) e Chronos IX (quarteto de cordas). Também fez parte do programa a música ExoMiniaturas VIII (violino, violão e vibrafone). O concerto foi brilhantemente executado por Roberto Victorio, Teresinha Prada, Helen Luce Campos, Oliver Yatsugafu, Zeca Lacerda, Gliciane Chiarelli, Karol Kelly, William Agnelo e Thiago Augusto.

twrezLogo na abertura Terezinha Prada já deu o tom da noite que se seguiria: “Música não é para ser explicada. Música é para se entrar em sintonia…”

rvicE que sintonia! A sala cheia entrou em transe com o som que vinha lá do palco. Música, indiscutivelmente música da melhor qualidade. Destreza, emoção, sons guturais, quebras surpreendentes na harmonia, micro tons, ruídos, dedos ágeis cortando o espaço de cordas pra lá e pra cá, percussões rompendo os limites do ritmo, se estendendo, alongando, corte, violoncelo delirante arremetendo em voos perturbadores, a garganta do índio aprofundando o jogo rítmico da música que vem de dentro, das profundezas, dando saltos pirotécnicos.

Quase um susto na plateia de olhos arregalados e ouvidos abertos. Quase uma síncope! Dissonantes, desconexões, reconexões, a surpresa está sempre a um passo quando se ouve música contemporânea erudita. A matemática é outra. A expansão do conceito leva a caminhos difíceis de se traduzir em palavras.

A Trilogia Bororo contém uma carga de espiritualidade e magia quase incompatíveis com esses dias que vivemos, dias tão estéreis, fora da perspectiva do sonho e das utopias que deveriam nos mover.

É preciso sintonia para captar a música essencial. É preciso se desvestir de conceitos musicais restritivos e abrir a percepção para a música que nos conecta a outras dimensões.

Música é física pura. Somos corpos que transcendem quando travamos um diálogo sensível e criativo com a música. Quando mergulhamos, ou, nos permitimos mergulhar no êxtase que vem das profundidades da alma. Essa coisa que a ciência costuma não reconhecer, esse conhecimento que não está escrito e diagramado em concepções limitadas da ciência do ser.

Um vento que passa e dá um sopro na alma levando a mergulhos ancestrais.

Avante! Para trás, a lá Dionísio, o Silva de todos os Brasis. Cavaleiros sob o sol – que a mística faz poeira onde não já há chão.

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