*Por Alessandra Marimon

Mesmo escutando argumentos de que é uma forma de minimizar a dor da família, de não expor a vítima e de não influenciar outras pessoas a cometerem o ato, ainda não vejo sentido no silêncio da mídia perante ao suicídio. É engraçado como casos de violência extrema são noticiados todos os dias com um sensacionalismo e espetacularismo quase natural e inerente. Homicídios, latrocínios, estupros seguidos de morte e tantos outros casos horripilantes são frequentemente acompanhados por imagens tão impactantes e desnecessárias que acabam nos causando um mal-estar e um desconforto indescritíveis.

suicidio-bullying_thumb5A verdade é que a violência (que integra as editorias policiais) é parte tão fundamental desses veículos que muitos deles sequer sobreviveriam sem tal “espetáculo”. No caso do suicídio, não dá para negar que é um fenômeno social e – arrisco dizer – crescente. Aqui em Campo Grande, eu mesma já presenciei duas tentativas perto da UFMS, nos refletores do estádio Morenão. São casos que sempre acabam vindo à tona nas redes sociais e, às vezes (também) acompanhados por aquelas tais imagens.

Então por que os veículos de comunicação ainda insistem em se omitir? É lógico que casos de suicídio são muito mais complexos e eu não tenho formação suficiente para discorrer sobre o assunto. Segundo o “pioneiro” no estudo, Émile Durkheim, “o suicídio é um ato essencialmente individual e que pode ter motivações bastante íntimas e particulares”. Mas não é possível que ainda se fecham os olhos para ele, como se não tivesse importância, como se não fosse função primordial do jornalismo de noticiar todo e qualquer fenômeno social.

Para mim, tratando-se do suicídio, os meios de comunicação de massa se mostram hipócritas, e acabam encarando o ato como um TABU SOCIAL. É evidente que um dos meus medos é de que, se tal tabu acabasse, o suicídio fosse banalizado, tratado de forma espetacularizada e sensacionalista. Mas não sei se é muito utópico da minha parte, só que acredito que os veículos de jornalismo poderiam contribuir, e muito, para o compartilhamento e fluxo de informações, além de promover um debate mais aprofundado e maior compreensão sobre o tema.

E, por que não, também oferecer ferramentas e conhecimento necessário sobre como auxiliar essas pessoas, explicando que não estão sozinhas, reafirmando que esse tipo de morte não é uma forma menos digna de morrer, etc? A falta de informação, de auxílio profissional, de “coragem” para falar e desabafar sobre o tema com amigos e entes queridos é, na minha opinião, uma problemática social muito maior. Como as pessoas podem se sentir livres para falar sobre a vontade de se suicidar se são julgadas e silenciadas pela sociedade e, consequentemente, pela mídia? Essas pessoas podem estar mais perto de você do que imagina, já pensou nisso?

suicidio

E mesmo com esse silêncio todo, as pessoas continuam se matando, outros continuam compartilhando conteúdos ofensivos e de ódio (como foi o caso do estudante da Uniderp e seus amigos, que fizeram questão de ridicularizar uma mulher sobre seu SUPOSTO, porque não foi provado, suicídio) sobre isso, mas e aí, vamos continuar calados, amiguinhos jornalistas? Eu simplesmente não acredito que o suicídio seja algo “contagioso” que vai passar pra qualquer pessoa que ver uma matéria sobre o assunto. Por favor, as pessoas têm o direito sim de se informar a respeito e acredito que já está mais do que na hora desse tabu ser quebrado!

(Com informações complementares extraídas deste artigo)

*Alessandra Marimon é jornalista, aspirante a escritora, feminista, gosta de rabiscar desenhos e adora seus três cães salsicha, além de ser devoradora de filmes e séries.

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Jornalista mato-grossense formada pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e aluna de mestrado no programa de Divulgação Científica e Cultural da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

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