Ah como ele é leve. Quando eu o vi, no centro da sala, o sorriso aberto, iluminado com o vermelho da sombra marcada no rosto, aquela pegada glam que remete imediatamente ao deus Bowie, pensei que Jaloo era uma entidade. E instintivamente o abracei. Ele me abraçou de volta como se fossemos velhos amigos.

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É música e artes visuais se integrando para compor todo um universo que é a sua arte, chega a ser sensorial. Durante sua apresentação em Cuiabá senti a vibração do palco, do público que cantava todas as músicas e das luzes coloridas que o faziam brilhar. A lua cheia iluminava o jardim e embalava as pessoas, o som. Jaloo deixou seu corpo se levar pelas mãos que o faziam subir em direção ao céu. Uma divindade banhada pela luz da lua. Ele volta para o palco com mais energia e todos dançam.

Conseguimos uma entrevista com ele (a ideia era gravar para TV de Quinta(L), porém tivemos problemas técnicos com o áudio), e agora eu narro aqui como foi dividir uns minutos com este paraense de 25 anos. Começamos a conversar e ele me conta que está envolvido em todos os processos da sua arte. Com uma equipe que concretiza as imagens em realidade, Jaloo acompanha todo o trabalho para que sua visão seja a mais próxima da que carrega na imaginação.

“O legal é que eu já era apaixonado por música eletrônica, e para quem tem uma visão fechada da coisa é só uma maneira de como a música é composta, que é no computador, por isso é música eletrônica. Mas isso não quer dizer que seja a rave, essa cultura. A partir dessa paixão pela desconstrução da música eletrônica eu comecei a fazer música e virou um vício no começo. Hoje é uma terapia, algo que faço para sobreviver. Preciso acordar e ficar criando, tenho essa necessidade criativa”.

Jaloo está em busca da sua liberdade de criar.

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“Quando eu comecei a me apaixonar por certos artistas, uma delas é Karin Dreijer que era vocalista do The Knife, e hoje tem um trabalho solo, lembro de ler uma entrevista dela onde fala da liberdade que a música traz. Você cria uma música e já criou uma história, um universo, uma série de coisas acontecendo ali e isso te dá uma liberdade enorme. Dessa liberdade que ela fala que eu me encantei e acabei atraindo pro meu trabalho. Gosto de criar uma música, um disco junto com um universo imagético. Eu penso na música e já estou pensando no que pode trazer de fantástico, de um mundo novo, até de uma fuga”.

“As músicas de amor e sofrimento, elas são muito complicadas por que você volta, tem aquele sentimento de novo, as novelas repassam na sua cabeça, mas também é uma maneira de extravasar, de tirar isso e seguir em frente. Gosto muito do yin e do yang, de ser triste para saber o que é ser feliz. Essa ideia de quanto a vida do início, ao fim, ao meio, tudo é importante”.

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“Você quer ser perfeito e dar 100% de si, ao mesmo tempo que você reconhece que isso não é possível, você também reconhece que deu o seu melhor. Eu parto muito dessa ideia, de que se quero fazer um clipe, eu vou suar, ficar com dor nas costas uma semana, ficar dias sem dormir, mas vai ser o melhor que eu pude dar naquele momento”.

“Estou envolvido em todos os processos, desde os meninos que tocam comigo na banda até quem produz os videoclipes, mas não é como alguém chato que vem para cobrar, mas alguém que vai pra tentar acrescentar junto nesse caminho”.

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“Eu sempre acho que é um aprendizado, que não vai chegar no fim nunca e que é constante e inconstante também. Por que você tem sua vida pessoal, suas coisas que você faz, a fuga que você precisa e ao mesmo tempo sabe da necessidade que tem como artista de se mostrar nas redes sociais e fazer disso uma arma para agregar valor no seu trabalho. Ao mesmo tempo tem caminhos que são bons de se seguir e tem caminhos que talvez não sejam. Tive muitos erros que cometi, por exemplo, não posto selfie, é raro. Meu instagram quase não tem selfie. Tem registros da carreira. Comecei a perceber que a selfie traz uma negatividade no sentido das pessoas quererem ver teu rosto toda hora.

Na história do instagram você abre e só tem a sua cara. Afinal que cultura do eu é essa? Que necessidade tão grande é essa? Eu sou um músico, fiz um disco, trabalho com som, a imagem é importante mas se não existisse a música, não tinha nada. Eu coloco a minha música na frente das coisas, dos discursos. Tentaram me envolver em questão de política de gênero, mas eu sou um artista que vive a minha liberdade. Não quer dizer que eu saiba ou entenda, então quando eu me vi como um artista-embaixador, um precursor, eu não era, eu tenho uma experiência de vida mas não quer dizer que eu seja sábio a ponto de aconselhar a vida dos outros”.

Por que fazer arte? 

“No meu caso é tipo uma droga, não consigo ficar sem. Até se fosse para uma rehab artística, eu ia fugir de lá, pular o muro e fazer alguma coisa. Eu preciso para sobreviver, se não fosse isso não teria vontade nem de existir”.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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