Por Paulo de Tarso*
A Bossa Nova surgiu no Brasil no fim da década de 1950. Considerado uma nova forma de tocar samba — sob influência do jazz — foi concebido por João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e jovens cantores e compositores de classe média da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. Tem seu marco inicial em 1959 com o lançamento do disco e canção homônima Chega de Saudade, no qual João Gilberto cria uma nova batida de violão e canta de modo particular a música composta por Antônio Carlos “Tom” Jobim e Vinicius de Moraes. O maestro Tom Jobim, cantor e instrumentista de renome, viria a se tornar o compositor e arranjador dos maiores sucessos do gênero.
Garota de Ipanema – João Gilberto e Tom Jobim
De início, o termo era apenas relativo a um novo modo de cantar e tocar samba na época, ou seja, a uma reformulação estética dentro do moderno samba carioca urbano. No final do ano de 1957, um show realizado por Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Roberto Menescal e Luiz Eça no Clube Hebraica (Rio de Janeiro) já era anunciado como “… grupo bossa nova apresentando sambas modernos”. E um dos grandes momentos desta reunião é a interpretação de João para o clássico de Dorival Caymmi.
Doralice – João Gilberto
Com o passar dos anos, a bossa nova tornou-se um dos movimentos mais influentes da história da música popular brasileira, conhecido em todo o mundo. Um grande exemplo disso é a canção “Garota de Ipanema”, composta em 1962 por Vinicius de Moraes e Tom Jobi – consagrada também pela interpretação magistral de João Gilberto
Wave – João Gilberto
Afinal, quem foi João Gilberto ?
João Gilberto do Prado Pereira de Oliveira, nasceu em Juazeiro – Bahia em 10 de junho de 1931, desde cedo sempre foi voltado para os ritmos e canções de sua região, fã de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro. Joãozinho da Patu como era conhecido em sua cidade as margens do São Francisco, tocador de banda escolar, João teve a música como sua fiel companheira. Sempre criando e montando conjuntos vocais como o seu primeiro grupo que tinha por nome “Enamorados do Ritmo”, daí seguiu para o Rio de Janeiro onde veio a conhecer o sucesso junto com os novos nomes da música popular que buscavam novos rumos. Junto a João, destaque para Carlos Lira, Roberto Menescal, Jonnhy Alf, Vinicius de Moraes, Sergio Ricardo, Nara Leão, Dick Farney, Lúcio Alves e tantos outros desbravadores de sons, acordes, letras e batida da nova música.
Eu vim da Bahia – João Gilberto
Considerado um artista genial, revolucionou a música brasileira ao criar uma nova batida de violão com influências do jazz para tocar samba: a “bossa nova”. O jeito suave de cantar também foi visto como inovador. Para a revista Rolling Stone Brasil, foi o segundo maior artista brasileiro de todos os tempos, segundo Tom Jobim, que foi arranjador dos maiores sucessos da carreira de João Gilberto.
Samba de uma nota só – João Gilberto
Desde o lançamento do compacto que continha Chega de Saudade e Bim Bom, munido apenas da voz e do violão, começou uma revolução na música mundial. Dono de uma sonoridade original e moderna, João Gilberto levou a música popular brasileira ao mundo, principalmente para os Estados Unidos, Europa e Japão. Tido como um dos músicos mais influentes no jazz americano do século XX, ganhou prêmios importantes nos Estados Unidos e na Europa, como o Grammy.
Após o lançamento do LP “ Chega de Saudade” a nova batida do violão tornou-se moda entre os jovens músicos encantados com o violão e a sonoridade da batida de João Gilberto. Esse disco tem tal importância na MPB que influenciou toda aquela geração e também uma nova geração que se destacava, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, Edu Lobo, Francis Hime, Roberto Carlos, sim, Roberto Carlos, que começou sua carreira imitando nada mais nada menos que João Gilberto, Jorge Benjor, Paulinho da Viola, entre outros. Esse disco criou a mais completa reviravolta na música popular não só no Brasil, mas de todo o mundo, afinal foi gravada e reverenciada pelos maiores artistas de todo o planeta. Hora de ouvirmos uma das muitas vozes que prestam homenagem ao Mestre João Gilberto.
Qualquer coisa – Caetano Veloso
O mais interessante de toda essa revolução musical é que João, e seus parceiros de Bossa Nova, sintetizou a MPB em seus termos fundamentais: ritmo, harmonia, e a batida de violão e técnica de canto. Além disso, seu estilo inovador, não rompeu com a música do passado, uma vez que sempre reverenciou e gravou velhos compositores como Ary Barroso, Geraldo Pereira e Dorival Caymmi.
Aquarela do Brasil – João Gilberto
Chamado de recompositor, João transformou velhas canções em novas, segundo sua concepção. Jobim definiu o estilo de João como uma forma leve, extensível a qualquer música brasileira. João Gilberto definiu, como marca harmônica inédita, a economia. Os arranjos de Tom Jobim, por exemplo, usam como guia o violão de João, que concentrava a fluidez rítmica e melódica. Introduziu-se, nesse LP, o uso de acordes invertidos, executados em bloco. A canção Chega de Saudade, inicialmente, era um chorinho, e João a transformou num samba enxuto, com o violão deixando de ser mero acompanhamento e dividindo o primeiro plano com a voz.
Pra que discutir com madame – João Gilberto
Em 1962, João participou do mais aclamado concerto da nova MPB no Carnegie Hall em Nova Iorque, concerto esse que tinha como objetivo promover a Bossa Nova nos Estados Unidos, Alem de João, participaram Luiz Bonfá, Oscar Castro Neves e seu conjunto, Augustinho dos Santos , Carlos Lira, Sergio Mendes, e nosso querido Tom Jobim.
No dia 21 de novembro de 1962, três mil pessoas lotaram o Carnegie Hall, para ver aqueles músicos brasileiros que revolucionariam a moderna música. Dizzy Gillespie, Peggy Lee, Tony Bennet, Milles Davis, Errol Garner, Herbie Man, e a imprensa americana, todos aguardando a grande novidade. Resultado: a Bossa Nova conquistou os Estados Unidos e o mundo, pois, os principais meios de comunicação de todo o planeta abriram generosos espaços para a nova Bossa… a Bossa Nova.
Lobo mau – João Gilberto
Neste sábado dia 6 de julho, João nos deixou mais pobres, mais tristes e muito mais cientes de nossa perda.
A morte de João Gilberto repercutiu no mundo da música e da arte, com todos lamentando a partida do pai da Bossa Nova, que levou nossa música aos quatro cantos do planeta.
O Brasil, a Bahia, e Juazeiro, estão de luto. Mas, vamos ouvir João Gilberto, e chega de saudade.
Chega de saudade – João Gilberto
Paulo de Tarso, ama a bossa nova e o Palmeiras. Jornalista, radialista e pesquisador.
