Por Antonio Torres Montenegro*

Marcel Proust se tornou conhecido por meio de sua obra Em Busca do Tempo Perdido, constituída de sete livros, uma das referências no debate acerca da memória. O filósofo francês Gilles Deleuze e o alemão Walter Benjamin lhes dedicaram estudos significativos abordando essa temática.

No entanto, Proust me parece que também pode trazer grande contribuição a história e, sobretudo a análise política. Este constrói uma metodologia de análise que tem como uma das regras básicas não se prender a evidência, ou mais propriamente aos significados que o senso comum estabelece como advindo dos objetos, dos acontecimentos, das pessoas. Muito ao contrário, desenvolve ao paroxismo uma forma de leitura ou mais propriamente de deciframento dos signos que emanam das pessoas e coisas ao nosso redor. Só que para efetivar esse deciframento ou leitura do mundo, a memória ou as aprendizagens – pois para ele são quase sinônimas – que foram sendo construídas ao longo da vida se apresentam como fundamentais. E essas não se realizam sem coação, ou nas suas próprias palavras … “Não apenas a educação das crianças, mas também a dos poetas faz-se a custa de bofetadas.” Espero que leitor não entenda essa afirmação do escritor no sentido literal, mas metafórico, ou seja, sem os limites, as frustações, as derrotas ou em sentido vulgar as “porradas da vida”, nada ou talvez pouco se aprende. No entanto, aqui também a memória é fundamental para que não produza um lugar de vítima do mundo, que impede os reveses e as ‘bofetadas’ se transformarem em aprendizagens.

No entanto, o retorno a Proust aqui relatado foi motivado ao ler no jornal na seção de cartas, o texto de uma professora afirmando que a reportagem do Jornal do Commercio do dia 18 de agosto, apontando a falta de professores de português, realmente mostrava a realidade das escolas estaduais. E concluiu afirmando que o desconto pela greve não deixarão marcas irreparáveis, mas com certeza deixará alerta mais uma vez para as falsas promessas. Em O Tempo Redescoberto, Proust quando narra a vida dos salões Parisienses durante a Primeira Guerra Mundial registra: Ao tempo em que eu acreditava nas palavras, ouvindo a Alemanha, depois a Bulgária, depois a Grécia, proclamar as suas pacíficas intenções, teria tido a intenção de lhes dar crédito. Mas depois que a convivência com Albertina e com Francisca me ensinara a desconfiar de pensamentos e projetos informulados, nenhuma expressão aparentemente sincera de Guilherme II, de Fernando da Bulgária, de Constantino da Grécia conseguia iludir-me o instinto graças ao qual lhes advinhava as maquinações.

Nesse sentido, é que fico a imaginar que talvez os professores ainda não tenham aprendido com ‘as Albertinas’ e ‘as Franciscas’ que têm se deparado ao longo dos anos, que no mundo da política a verdade não é da ordem da ética, mas sim da força. E após tantos anos de greves seguidas e de pouco ou quase nenhum resultado prático, pois os salários dos Professores em Pernambuco são um dos piores do Brasil, é hora de construir outras maneiras de reivindicar, que ao menos agregue para o lado dos professores toda a sociedade. Pois é indiscutível que o salário dessa profissão, esvazia completamente seu valor e importância social/cultural/econômica além de fazer com que algumas disciplinas nem sequer tenham professores habilitados. Mas, na minha avaliação as greves já partem esvaziadas ao terem as famílias e os próprios alunos como os maiores prejudicados. E a memória das greves de todos esses anos, não nos engana quando revela que essa insatisfação não é transformada em voto contra o partido no poder. As constantes reeleições estão aí para não nos enganar.

Prof. Dr. Antonio Torres Montenegro. Departamento de História da UFPE. 
Recife 25 de agosto de 2009.

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