Por Paulo de Tarso*

Hoje nosso destaque vai para uma das mais populares vertentes de nossa história musical, a chamada música brega.

Inicialmente, o termo designava um tipo de música romântica, com arranjo musical sem grandes elaborações. Com o passar dos anos o brega foi se sistematizando de uma forma menos rígida em relação ao outros ritmos. A partir de 2008, em Recife, surgiu um Brega Funk, ritmo que se originou da mistura entre o ritmo angolano Kizomba, o Zouk, das Antilhas Francesas, e as mesmas baladas românticas usadas durante o tempo de seu auge com bastante apelo sentimental, fortes melodias, letras com rimas fáceis e palavras simples, em outras palavras, uma musica supostamente de “mau gosto” ou “cafona”.  Vamos começar nossa viagem ao universo da música brega com um dos pioneiros do gênero. Orlando Dias, que  canta, “Tu és o grande amor da minha vida“.

Tu és o grande amor da minha vida – Orlando Dias

Não se sabe ao certo a origem musical do “brega”. Críticos apontam alguns precursores do “estilo” em cantores das décadas de 1940 e 1950, que seguiam, através do bolero e do samba-canção, uma temática mais “romântica”. Entre os quais, Orlando Dias, Carlos Alberto e Cauby Peixoto. E com ele continuamos nossa viagem.

Conceição – Cauby Peixoto

Durante a década de 1960, a música romântica de artistas oriundos basicamente das classes mais populares passou a ser considerada cafona e deselegante. Isso foi especialmente reforçado pelas grandes transformações vivenciadas pela música popular do país naquele período, com o surgimento de inovações estilísticas dentro do cenário musical que agradavam principalmente aos jovens do meio urbano. Nome de destaque no cenário brega, é hora de ouvir Carlos Alberto, com seu grande sucesso “Aquece-me esta noite”.

Aquece-me esta noite – Carlos Alberto

De um lado, surgiu uma geração oriunda da classe média universitária e que se consolidaria, na década seguinte, sob a sigla MPB, nada menos do que “música popular brasileira”. Por outro, o movimento tropicalista – inspirado em correntes artísticas de vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira e por manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais – e o Iê-iê-iê – que capitaneou o Rock’N’Roll estrangeiro, dando-lhe uma roupagem nacional, e que transformou-se num grande fenômeno de venda e aceitação popular. Exemplo disso foi o grande sucesso de Wanderley Cardoso “Bom rapaz“

Bom rapaz – Wanderley  Cardoso

E foi a Jovem Guarda que abriria caminho para novos artistas que desafiaram os padrões de bom gosto da classe média brasileira na década seguinte, já que alguns dos artistas que tiveram uma ligação com o movimento vieram se tornar populares cantores “cafonas” na década seguinte. É o caso, por exemplo, do pernambucano, Reginaldo Rossi que vamos ouvir aqui, cantor que sempre foi fiel ao movimento brega.

Garçom – Reginaldo Rossi

Em princípio da década de 1970, acentuava-se as estilizações dentro da música brasileira. O meio musical predominante definia os nomes da chamada MPB, gênero cada vez mais distante de outras vertentes populares da música brasileira, como o samba, a música caipira, além do rock feito no Brasil e da música romântica, já com ares de sertanejo moderno. João Mineiro e Marciano são exemplos desta música.

Ainda ontem chorei de saudade – João Mineiro e Marciano

A chamada musica romântica teve em  Roberto Carlos o seu maior representante. O cantor capixaba era um dos poucos artistas que fazia música romântica sucesso de crítica e de público. Prova disso é seu grande sucesso “Amada amante“

Amada Amante – Roberto Carlos

A música brega  também teve seu momento de humor com grandes destaques para os sucessos de Falcão e Os Mamonas Assassinas que monopolizaram o país. Para a maioria dos artistas brasileiros românticos populares, mesmo que grandes vendedores no mercado fonográfico brasileiro, sobrava a alcunha nada positiva de “cafona”. O termo passou a estigmatizar artistas como Paulo Sérgio, Altemar Dutra, Odair José, Reginaldo Rossi e Waldick Soriano, dentro do amplo leque da música brasileira. O rei do chamado brega… Waldick Soriano em a Dama de Vermelho !

A Dama de Vermelho  – Waldick Soriano

Na segunda metade dos anos setenta, uma “nova vertente cafona” surgia com destaque. Era um estilo de roupagem “moderna”, bastante influenciado pela discotéque e o pop dançante em voga à época, e que enfatizada danças e gestos sensuais (para alguns, no limite do vulgaridade). Este “novo cafona” foi capitaneado por artistas como Marcio Greik

Aparências – Marcio Greick

A partir da década de 1980, o termo “brega” passou a ser cunhado largamente na imprensa brasileira pelos meios-de-comunicação para designar, de maneira pejorativa, música sem valor artístico. Embora sem uma conceituação aprofundada, a pecha servia para designar uma “música de mau gosto, geralmente feita para as camadas populares, com exageros de dramaticidade e/ou letras de uma insuportável ingenuidade”. Era o caso por exemplo do trabalho de cantores da linha romântica “cafona”, como os ainda populares Amado Batista, Gilliard, Fabio Junior, ou de outros cantores românticos constantemente presentes em programas de auditório da TV, como Wando.

Moça – Wando

A escolha das palavras e o significado que é dado a elas tornam os enunciados mostras de julgamentos de gostos que rebaixam um determinado gênero musical. Nos discursos da crítica, a música “romântica” é representada como algo da ordem da inferioridade, “como se a produção musical desta geração de cantores/compositores não tivesse nada a ver com a nossa realidade social. Grande exemplo, um dos maiores sucessos de vendas e execuções em radio, é Amado Batista, que é sucesso de norte a sul do país com suas músicas que falam das carências e problemas da maioria do povo brasileiro. Música sempre música, seja qual for sua vertente sempre terá que andar de braços dados com o povo. E a chamada música brega sem duvida é uma paixão nacional.

Secretária – Amado Batista

Preconceitos a parte, a música chamada brega conseguiu sobreviver e ser mais popular do que nunca, tornando-se um elo importante entre artistas e grande parte da população brasileira que canta uma realidade que nem sempre conhecemos. Exemplo maior é  Odair José que é reconhecido como um dos mais populares artistas do gênero.

Eu vou tirar você desse lugar – Odair José

Ainda hoje, mais do que nunca nossa música popular vive de seus ídolos e suas raízes, independente de críticas e, ou, manifestações de agrado por todo o Brasil, ouve-se a chamada música popular abraçando seu povo e fazendo de norte a sul a consolidação de nossas raízes populares.

 

*Paulo de Tarso é jornalista, radialista, pesquisador e produtor musical, locutor e 
apresentador na Rádio Assembleia, 89,5 FM. Ah! é palmeirense e jura que tem 
mundial!!!!

 

2 Comentários

  1. Bom dia, Boa Tarde ou Boa Noite, Paulo de Tarso.
    Excelente temática e uma boa explanação a respeito desse tema, que infelizmente ainda perpetua o preconceito em relação a musica brega. Estou graduando em História e gostaria de fazer pesquisa a respeito desse tema, que acho incrível. Se possível, poderia informa as fonte da sua pesquisa? Também se tive alguma indicação seria de grande ajuda, faço algumas pesquisa, mas sempre falta algo a mais a ser abordado.

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