Fui ao lançamento do livro Algazarra do meu amigo Santiago Santos. Belíssima coletânea que ele mesmo selecionou do Flash Fiction, site/blog que abriga seus escritos e obriga o escritor a criar uma frequência de postagens e escrever como esforço diário, ou quase isso. Taí uma leitura altamente recomendável, a coletânea Algazarra, publicada em livro, deu ares de importância e pareceu fixar de forma diferente aqueles deliciosos contos curtos. Tem pra todo gosto, violência, humor, cotidiano, faroeste, ficção científica, enfim, esse cara, o Santiago, tá com a escrita afiada, e isso não é conversa fiada. O fato de mostrar mais importância aos escritos realçam o poder mágico que o livro ainda carrega nesses tempos tecnológicos. Mas o papo aqui é outro, depois vou resenhar Algazarra, visto que, é das boas coisas produzidas em Mato Grosso atualmente.

Capa de Algazarra com Santiago Santos ao fundo.

Mas quero falar da editora que publicou o livro, e do editor visionário que idealizou a Editora Patuá. Caramba, de cara, já gostei dele. E olha que ele é difícil, mas curtimos a cumplicidade espontânea, um gostar mais que natural, de reconhecimento, empatia, ou seja lá o que for. Fato é que foi amizade à primeira vista.

Saímos do Sesc Arsenal, após algumas cervejas e cigarros, e partimos rumo ao Chopão para brindarmos o resto da noite. Aproveitar os últimos momentos do Eduardo Lacerda, o nome da fera editorial, em terras cuiabanas. Nada melhor que o Chopão. Ô lugar aconchegante e charmoso.

Santiago e os Eduardos. Conversa fluiu solta e leve. Falamos das coisas que mais gostamos, principalmente livros, é claro. A sintonia foi fina. Edu Lacerda queria muito saber do Dicke. O Ricardo Guilherme, escritor mato-grossense gigante, com o qual mantive uma amizade por pouco mais de doze, treze anos, com intensidade, quase que diária. Levei presentes para o Lacerda, o prato principal servi com o livro do Ricardo, Deus de Caim, que republicamos lá pelo início dos anos de 2000, pela editora Fábrika de Letras.

Difícil demais publicar livros no Brasil, imagina em Mato Grosso, coisa de heróis. Mas os números da Patuá são impressionantes. É coisa de louco. São cerca de 800 títulos em mais ou menos dez anos. Com impressionantes 80 títulos por ano. Tudo através de um sistema inteligente e dinâmico de publicações que eles inventaram e que permite – com as tecnologias atuais – produzir livros em baixa escala, quantidade – imprime dez, vinte, trinta, qualquer tiragem por vez, e vai vendendo, distribuindo em sistema de parceria com autores. Aliás existe um boom de autores novos no Brasil, que a galera costuma brincar: tem mais escritores que leitores no país.

Mas, sob a aura mágica e notívaga do Chopão, contei muitas histórias do nosso escritor maior, das conversas que mantínhamos, de suas manias, seus saberes, sua história maravilhosa. Você pode conferir um pouco do Dicke AQUI.

Eduardo Lacerda. Foto: Fernando Donasci / Agência O Globo

Acabo de ler no Facebook a expressão da felicidade pelo reconhecimento, do editor, da editora, dos caras que levam o livro na frente. Quem leva o livro na algibeira com certeza tem garantia de viagem bem melhor e com mais possibilidades de êxito na vida: palavras do Eduardo Lacerda: “Parabéns aos finalistas do Prêmio Jabuti, a Editora Patuá consta com dois livros finalistas, Enfim, Imperatriz, de Maria Fernanda Elias Maglio (contos) e Mecânica aplicada, de Nuno RauÉ claro que não estamos pensando muito em literatura, mas é uma alegria ter 4 livros de 4 autoras e autor amados finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura (e mais dois finalistas do Prêmio Jabuti). Fica nosso convite para conhecer os livros Todos os abismos convidam para um mergulho, de Cinthia Kriemler; O peso do coração de um homem, de Micheliny Verunschk; Entre lembrar e esquecer, de Mauro Paz e O enterro do lobo branco, de Marcia Barbieri.

Isto realmente é fantástico, o valor imensurável do trabalho desses caras das chamadas editoras independentes, e que vem sendo reconhecido em todas as premiações literárias. Inclusive tiveram direito a espaço paralelo na Flip a feira de livros, evento mais importante do país, em Paraty. Em que pese contestações e críticas à espetacularização da grande feira na bela Paraty. Mas vamos lá, antes o livro que o fuzil, mesmo com festa a literatura não diminui em importância. Aliás, gosto da ideia da festa, como celebração, como rito de alegria e descompromisso, como a literatura deve ser, livre e criativa. A despeito das regras e das imposições elitistas que sempre buscaram a elevação e sublimação da obra de arte. Isso é balela. Gosto do gosto da festa e das ruas.

Prêmio São Paulo, Prêmio Jabuti, e várias outras indicações, são exemplos claros da força desses movimentos independentes, apesar de, eu sempre questionar: independente de que? De quem? São termos já velhos apesar de que ainda estão em permanente afirmação de seus métodos e processos. Como modelo de negócio é inovadora a postura da Patuá, ao trazer o autor como parceiro na mesma empreitada, na mesma luta pelo livro e pela leitura como afirmação de autonomias e liberdade de expressão e criação.

A gente vive dando voltas em torno da questão do livro e a coisa não se resolve, não se descobre um jeito de aumentar a massa de leitores. Trabalhar nas escolas? Nos bares, implementando bibliotecas? Nas redes sociais? São muitos os fatores a serem levados em conta mas uma coisa posso afirmar, editar livros e distribuí-los, mesmo que em um trabalho de formiguinha, é grande fator de agregação e despertares de novos leitores. Tirar do limbo a escrita, imprimir, circular por aí, aos poucos, vai crescendo e gerando um novo tipo de ser, e isso não tem volta. Essa é a volta que a gente quer.

Em tempo: do dicionário informal: Patuá: Objeto que pode ser vivo ou inanimado ao qual se lhe atribui o poder mágico de proteger seu portador de qualquer tipo de desgraças, guardando-o de aflições e malefícios.
Do slogan: livros são amuletos

 

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