Por Diego Callazans*

Há 35 anos eu nasci.
30 dos quais, eu moro em Aracaju.
após 23 meses de chegarmos,
desviveu minha mãe. E meu avô
seguiu-a – tanta dor! Nós conversamos,
no Dia de Finados, sobre eles,
no cemitério, por quase três horas.
Não houve pranto (benditos remédios!).

Disseste algum pai-nosso em tua cabeça,
eu pus pra baixo a face das minhas mãos
e pedi proteção dos ancestrais.
Sob o olhar discreto de dois deuses,
deixamos debruçados, sobre a lápide
com nome da família, uns crisântemos
cuja cor – amarela – escolhi
porque achei que era a pertinente.

“O céu é nosso pai. A terra, mãe.
A vida nos irmana”. Caminhamos,
olhando os patos presos à lagoa,
trazendo ali de volta à colina
o ar da antiga chácara que fora.
“A morte deve vir com alegria”,
disseste-me, “melhor é celebrá-la
tal sempre bem fizeram os povos sábios”.

Na despedida, deste-me uma bênção
tradicional, à qual responderia
“Que Hermes te conduza a belos prados”,
pudesses tu me perdoar. Calei.
“Ainda mais que os mortos, honra os vivos”,
ouvi de alguém que zanza entre os mundos.
Usei já 35 de meus anos.
Qualquer idade a mais é um presente.

 

 

*Diego Callazans nasceu em Ilhéus, em julho de 1982, e mora em Aracaju desde abril de 1987. É autor dos livros A poesia agora é o que me resta (Patuá, 2013) e Nódoa (7 Letras, 2015), além do minilivro Blasfêmias (7 Letras, 2015). Tem poemas incluídos nos livros  É  agora  como  nunca:  Antologia  Incompleta  da  Poesia Contemporânea  Brasileira  (lançado  no  Brasil  pela  Companhia das Letras e em Portugal pela Cotovia, sendo ambas as edições de   2017)   e   Naquela   Língua:   Cem   poemas   e   alguns   mais: Antologia da Novíssima Poesia Brasileira (lançado em Portugal pela Elsinore, em 2016).

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