Paulo de Tarso*

Minhas memórias me levam a Londres no remoto ano de 1965 quando de fato conheci, via meu amigo Millos Schinelver, uma banda que causava espanto naquele ano tomado pela chamada beatlemania, o nome dos jovens sonhadores: Rolling Stones.

O nome Rolling Stones, inspirado em uma canção de Muddy Watters, foi usado pela primeira vez em um concerto de bandas inglesas no Marquee Club em Londres no dia 12 junho de 1962.

Tudo começou com os amigos Mick e  Keith em um casual encontro em uma pequena estação de trem de Dartford  onde descobriram interesse comum pelo rock and roll.  Começaram a pensar em uma banda e imediatamente consultaram o pianista Ian Stewart, grande amigo da dupla, que seria o co-fundador da banda, mas por sua feiura seria rebaixado a gerente de palco, ótimo músico gravou com o grupo, mas em nenhum momento pousou para fotos pelo motivo acima colocado.

Brian Jones, contrabaixista e amigo também é incorporado a banda.

Bill Wiman, músico das noites e antigo frequentador do mundo musical, seria incorporado a banda pois tinha um amplificador e isso era motivo de sobra para ser analisado no momento de dureza. Em janeiro de 1963, Charlie Watts era convidado a assumir a bateria. A boa repercussão nas primeiras apresentações ao vivo e o falatório no mundo do rock, levou a banda a um contrato com a Decca Records, empresa que na época em Londres era ridicularizada pelo fato de ter vetado a presença dos Beatles em suas fileiras.

Estava lançada a banda que tinha por slogan a pergunta:”Você deixaria a sua filha se casar com um Rolling Stones?”

Os primeiros trabalhos (gravados) foram, um cover de uma canção de Chuck Barry que se chamava “Come On”, e uma gravação de uma dupla de compositores que despontava e prometia grandes êxitos, John Lennon e Paul MC Cartney, a canção “I Wanna be your man“. O trabalho embora gravado modestamente foi muito bem recebido por crítica e público. Imediatamente começaram a produzir o primeiro álbum que se chamou simplesmente “Rolling Stones“, isso em abril de 1964, vale destacar que esse álbum tinha somente uma canção de Jagger e Richard, a música chamada “Tell me“(You’re coming back), álbum esse que gerou muito material e a aceitação foi de grande sucesso. Estava aberta a porta para a definitiva consagração que veio em 1965 com o lançamento do maior sucesso da banda “I can’t get no Satisfaction”.

Logo a seguir, no ano de 1966, os Stones começariam a viver uma fase de músicas mais elaboradas, era a chamada fase de rock psicodélico e experimental, fase essa que teria seu grande momento em “Aftermath“ e “Satanic Majesties Request” (67). Com o álbum “Beggar’s Banquet” (68), os Stones voltam ao velho estilo mais próximo de sua origem R&B. São dessa época dois grandes sucessos que marcam a trajetória dos Stones “Jumpin Jack Flash”, lançada na Inglaterra como um compacto, quando também é lançada a controversa “Sympathy for the devil“, música essa que colocou a banda sob acusações de satanismo.

No ano de 1969, quando tudo parecia caminhar para o sucesso tão almejado pelo grupo começa a chamada era das desgraças, explico: neste ano Brian Jones é oficialmente demitido dos Stones, sendo, para a surpresa de muitos, substituído por Mick Taylor que havia passado pela banda Bluesbreakers de John Mayall’s. Para muitos Mick Taylor era um músico bem razoável para o que se esperava em termos de sonoridade dos Rolling Stones. Mas vida que segue. Poucos dias depois de ser demitido Brian Jones é encontrado morto em sua casa em Sussex, em circunstâncias até hoje envolta em mistérios, drogas ou assassinato?

Existem diversas versões narrando o mesmo fato. A primeira, que ele (Brian) teria se afogado sob influências de drogas e álcool; outra a de que teria sido assassinado por empreiteiros contratados para realizar obras em sua mansão em Sussex; entretanto em 1993, um empreiteiro chamado Frank assumiu em seu leito de morte ter assassinado Brian Jones através de afogamento. Depois desse drama, próprio dos Stones, foi marcado um show memorável no Hyde Park em Londres, diante de aproximadamente 300 mil pessoas, o show acabou tendo um significado especial, além, claro, da apresentação do novo guitarrista Mick Taylor. Como homenagem a Brian Jones, Jagger parou o show e recitou o poema ”Adonais”, de Percy Bysshe Sheley, em memória do amigo problemático. Três mil borboletas brancas foram soltas do palco para uma platéia em delírio. Os Stones acreditavam que as pedras continuariam a rolar sem saber que a próxima tragédia estava bem mais próxima do que se poderia imaginar.

Altamont Speedway Free Festival

Em 6 de dezembro de 1969, o grupo chega a Altamont na Califórnia para o que seria a sua maior apresentação ao ar livre, para uma platéia de 800 mil pessoas. O show estava sob a proteção de um bando de “Hell’s Angels de São Francisco, uma conhecida gang de motoqueiros que estava lá para criar problemas… e eles vieram. Qualquer um que tentasse se aproximar do palco era agredido covardemente com tacos de sinuca. Durante a apresentação do grupo californiano Jefferson Airplane, que abria a esperada jornada dos Stones, o caos foi impossível de se conter, pois quando os Rolling Stones finalmente subiram no palco a situação ficou incontrolável. Jagger começou com a canção “Under my Thumb“ e quase ao final um jovem chamado  Meredith Hunter ataca os seguranças (Hells Angels), que reagiram tornando o ambiente uma verdadeira batalha campal. O problema ficou pior quando uma jovem foi apunhalada e outras três pessoas foram mortas. Tudo isso é retratado no Filme Gimmer Shelter de 1970. Pouco antes, as Pedras rolavam e lançavam o álbum “Let it Bleed”, álbum que fazia uma sátira a “Let it Be“ – esse disco dos Stones por problemas técnicos só seria lançado seis meses depois.

O ano de 1971 foi marcante para as Pedras rolarem para outros cantos, primeiro foi a criação do próprio selo que se chamou Rolling Stones Records, o que possibilitou trabalhos criativos, destaque para o clássico “Sticky Fingers” – cuja capa original foi concebida por Andy Warhol com uma foto que se dizia ser de Jagger. Este álbum também foi o primeiro a mostrar a icônica língua imortalizada na obra dos Stones  que é criação de John Pasch – diretor de arte britânico.

Em 1980 outra grande surpresa para Os Rolling Stones vem do fisco britânico, com arrecadação brutal e sem nenhum cuidado com seus deveres os rapazes de Londres são obrigados a um exílio na França, começa a nascer a ideia de se fazer um novo álbum para tentar pagar as obrigações com o fisco de sua majestade.  O álbum começou a ter forma e chamou-se “Exile on Main St.“, gravado totalmente em Los Angeles.  Com ele lançado a ideia foi fazer uma grande turnê para os Estados Unidos. Além de todos os problemas Keith e Anita são acusados de tráfico de drogas e intimados a saírem imediatamente de terras francesas. Vale lembrar que esse álbum é considerado, pela dupla Jagger e Richard, o melhor trabalho feito pelos Stones pela sua criatividade, plasticidade e consistência (controvérsias a parte).

Dívida paga com sua majestade e repercussão do álbum, lá vai os Stones mais uma vez para o estúdio e lançam o álbum “Goats head Soup“,  que é conhecido pelo grande sucesso de “Angie”, e muito mais pela polêmica faixa  ‘Star Star‘.  Outro fato interessante sobre esse álbum é a faixa “Waiting on a friend“ que, gravada para as sessões deste álbum, só foi lançada dez anos depois no disco “Tattoo you” (1983), um hit que se tornou outro grande sucesso da banda.

Tudo continua a rolar com os pedras até que em 1974 os Stones gravam outro super clássico “It’s only Rock’n Roll”  nos estúdios de Ronnie Wood até então guitarrista da banda “Faces“ liderada pelo cantor Rod Stewart. Com a saída de Mick Taylor para seguir seu sonho de carreira solo (fato que não aconteceu), Wood assume a segunda guitarra, embora só tenha sido oficializado como membro dos Stones a partir da turnê de 1975 – sua primeira participação com a banda ocorreu em 1 de junho do mesmo ano, Baton Rouge (Lousiana) através dos acordes de “Honk Tonk Women“.

Embora tudo acertado para a turnê de 1975 que foi batizada de “Tour of Américas“, pois estava acordada apresentações nos Estados Unidos, Canadá e países como, México, Venezuela e Brasil, vetaram a presença em seus territórios alegando estarem preocupados com a imagem de desordeiros e drogados que a banda poderia passar alem de em nada agradar aos antigos regimes.

July 9, 1975: Rolling Stones’ Mick Jagger flies around The Fourm during concert.

Os Stones lançam então, Black & Blue, um disco totalmente intimista e cheio de convidados. Destaque para Billy Preston que ao gravar com os Beatles também passou a figurar em todos os álbuns dos Stones desde “Stick Fingers”, de 1971 – e ainda teria a confirmação de Ron Woos como a segunda guitarra dos Stones. A seguir veio “Love you live“, tirado da turnê européia, em 1978. Um disco influenciado pelo movimento punk “Some Girls”, e em 1980 lançam mais um, “Emotional Rascue“, quando voltam a circular de forma avassaladora no mundo do rock.

Nos anos 80 definitivamente os Rolling Stones começam a fazer os chamados Mega Shows, com duração de três horas, palcos móveis, desmontáveis e toneladas de equipamentos de som e luz. Neste embalo lançam o álbum ao vivo “Still life“ (American Concert) e também emendam com o filme “Les’t spend the night together”. Esses trabalhos mostram o vigor dos Stones e ainda a total recuperação de Keith das drogas, alem de mostrar um novo formato para as apresentações de futuras bandas.

O ano vai tranquilo (81) até os primeiros boatos de uma possível separação da banda, no final de 83 reunidos a força pela gravadora lançam o álbum  “Undercover”  disco que fez que aumentasse ainda mais os rumores de separação dos Stones, além do mais a turnê do disco foi cancelada e o silêncio dos Stones vinha acompanhado de seus trabalhos individuais.

Ian Stewart, pianista, gerente de palco e um dos fundadores da banda, morre em 1985 em virtude de um ataque cardíaco. Ian tido como o sexto Stones teve seu nome perpetuado e homenageado com uma faixa no álbum de 1986 “Dirty Work”.

O relacionamento entre os Stones estava longe de ser bom. Frequente brigas entre Jagger e Richard levavam a trabalhos individuais e cada vez mais os rumores de fim da banda era assunto no mundo das fofocas.  Porém, mesmo com as frequentes brigas que duraram seis anos, o trabalho continuou aos trancos e barrancos.

Sua formação agora com Jagger, Richard, Wood, Wylman e Wats, adentram a década de 90 em nova gravadora, a CBS, em meio a cada dia mais rumores de brigas irreconciliáveis de Jagger e Richard. Isso tudo ajuda a levantar e divulgar a turnê do álbum “Steel Wheel” que, com isso, coloca a banda como a maior de todos os tempos até então. Com o sucesso estrondoso da turnê os problemas pessoais foram colocados de lado e a banda voltou a pleno vapor, reflexo disso é o badalado lançamento do álbum “Flashpoint“ de 90 que traz os Stones de volta ao palco sete anos depois.

Com esse sucesso todo a banda passa a gerir seus negócios e se torna uma empresa de lucros astronômicos, colocando em definitivo a marca Rolling Stones como referência no show bussines.

Mais uma mudança nos planos dos Stones acontece em 1993, Bill Wyman, baixista, deixa o grupo substituído por Ron Wood que assume temporariamente o baixo.

Em 1994, após um longo período de total inatividade, é lançado o disco ‘”Voodoo Lounge“, logo seguido pela turnê. A viagem começou em julho no Canadá, se encerrou em agosto de 95 em Rotterdan, Holanda, e marca outro recorde de faturamento, pois os Stones arrecadam mais de US$ 400 milhões. Com isso, todas as gravações da banda são relançadas em CDs com versões acústicas. Em 95 lançam “Stripped” com versões de grandes sucessos e uma gravação homenageando Bob Dylan para  “Like a Rolling Stone”.

No ano seguinte uma grande celebração é feita com o lançamento do “The Rock And Roll Circus“, trilha sonora do filme feito em 68 – incluindo diversos artistas como Jethro Tuu, The Who, e uma pré versão do Plastic Ono Band. Ainda em 1997 sai “Bridges of Babylon“, outro grande êxito na carreira dos Stones.

Para comemorar os 40 anos da banda, em 2002 lançam um icônico álbum duplo de nome “Forty Licks” com sucessos de 1962 até 2002. Esse é o primeiro de uma série de resumos da longevidade da banda. Inicia uma longa turnê que passou por todos os continentes do planeta, e tendo seu final em 9 de novembro de 2003 em Hong Kong. Essa turnê mais uma vez comprova o titulo de maior Banda de rock&roll de todos os tempos. Com o final da excursão lançam o espetacular DVD quádruplo “Four Flicks“, mostrando que as pedras continuavam a rolar.

Mais uma vez as pedras vivem com o infortúnio. Devido a um câncer na garganta do baterista Charlie Watts (totalmente curado), os Stones voltam e mostram ao mundo o vigor do quarteto. Isso faz a banda produzir um de seus melhores álbuns de estúdio de todos os tempos. Lançado em 2005. “A Bigger Bang“ que traz seu som totalmente voltado as raízes do rock and roll, novo retumbante sucesso e mais uma turnê na estrada. Jagger, Richard, Wood e Watts mostram que as pedras não podem parar.

Em fevereiro de 2006, Os Rolling Stones aportam no Brasil para mostrar a famosa “A Bigger Bang”. O show é feito nas areias de Copacabana e marca mais um espetacular Record da banda, pois o público foi estimado em mais de 1,5 milhão de pessoas, entrando para a história como o maior acontecimento do pop de todos os tempos

Em 2012, depois de varias excursões nos últimos seis anos, os Stones completaram 50 anos de plena atividade. Como parte das comemorações lançaram em junho de 2012 um livro histórico “The Rolling Stones 50“ e, para variar, organizaram um retorno no fim de ano entre novembro e dezembro de 2012.

Em fevereiro de 2016 a banda  começou uma turnê pela America Latina que terminou em Cuba com mais de meio milhão de pessoas. Na ocasião Mick Jagger falou ao povo cubano a frase que levou a multidão ao delírio “Os tempos estão a mudar”.

Ainda em 2016, voltando totalmente a suas raízes a banda lança 12 covers de artistas de blues.

Já pensando em novas investidas em álbuns, filmes e futuras turnês, as pedras com 56 anos  prometem continuar a rolar.

JUKEBOX

1 – Tell Me

2 – Sympathy For The Devil

3 – Under my Thumb

4 – Angie 

5 – (I Can’t Get No) Satisfaction

 

 

Paulo de Tarso, Paulinho, pode ser, dependendo da intimadade, é radialista e 
jornalista, pesquisa, pensa, escreve sobre música e afins. Sabe um bocado de 
futebol, é palmeirense.

 

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