Wlademir,

Não pude me despedir de você. Peço perdão por não ter te ligado quando você pediu, por ter sido absorvida pelo ritmo frenético da rotina e deslocado o real sentido de urgência: o da própria vida. Carregarei essa “culpa”, mas isso não é só o que carregarei. De todas as coisas que você me proporcionou, eu só posso agradecer. Só posso agradecer por ter transformado a minha visão de mundo, mais de cinco anos atrás, quando tive meu primeiro contato com você. Ali, naquele pequeno espaço do tempo, eu ainda não tinha a real dimensão de quem você é. Pouco a pouco, fui te desvendando. Não quero soar pretensiosa, afinal, você é um universo em expansão, com camadas e mais camadas a serem descobertas. Eu conheci a sua superfície e mergulhei. Mergulhei nas suas cores, nas formas, na maneira de ver o mundo, as pessoas, a arte. Mergulhei na sua imensidão, tentei em textos longos demonstrar um pouco de tudo o que me fez sentir. Você me despertou. Sua arte me invade. Sempre. Lembro de você sereno, humilde, ereto. A fala simples e potente. Como atravessava todos os assuntos do mundo para cair na poesia. Não vou me esquecer dos dias coloridos na casa da Regina Pouchain, das conversas animadas que eu tive a honra de presenciar, no modo como se olhavam felizes só por existirem lado a lado e compartilharem esse amor pela arte, pela poesia, pela vida. Não vou me esquecer de como abriu as portas desse imaginário criativo, de olhar relances, sombras, recortes, fragmentos e vislumbrar milhões de possibilidades, que só a arte é capaz de trazer à realidade. Digo que é pouco o que dizem sobre você, é pouco. Poucas pessoas sabem da sua imensidão, mas as que sabem meu amigo poeta, essas, não te esquecerão jamais. Só posso te prometer uma coisa: vou lutar até o fim para levar a sua poesia, para que o mundo sempre se lembre. Não vou deixar esquecerem quem é Wlademir Dias-Pino. Cuiabá, mesmo nas brenhas da sua solidão, está com o solo marcado pela sua poesia. Não vou dizer que o mundo hoje fica mais sem graça, com menos cor ou que a poesia se foi. Não. Eu vou te dizer que o seu poema, o seu processo, permanecem em aberto. Sem conclusão, assim como a vida.

Perdemos o poeta, mas não a poesia.

Continuo descendo a espiral de Dias-Pino, e não vou parar.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

8 Comentários

  1. Marianna, que linda essa conversa sua com o Wlademir. Faz bem à nossa alma ouvi-la que dirá à dele? Obrigada por compartilhar conosco seus sentimentos que transcendem de uma certa maneira a se tornarem nossos. Você foi no cerne do conceito: – perdemos o poeta, mas não a poesia.

  2. Lindo texto, Marianna. De sinceridade comovente. Certa vez, ele me disse que “a abertura do círculo é a espiral”. Enquanto você nela desce, materializando sua criatividade pulsante, ele nela sobe pela Estrada Azul do Espírito de onde Freire lhe sorri esperando-o para continuarem com suas travessuras verbais e também de naturezas mais astrais. Viva Wlad! Saudades, amigo!

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