A voz que canta a emoção, os sentimentos, a luta. Muitas vozes em uníssono reivindicam. “A multidão avança como vendaval”. Sua voz rouca que canta a dor conclamou todas as vozes a se unirem a sua, porque senão ninguém ouve, ninguém acorda. “Eu quero é grito. Mais barulho nessa cidade. Se não fizer muito barulho ninguém acorda”. Eu vou até o fim cantar. Elza Soares cantou.

“Eu quero é litros de revolta. Revolta, minha gente. Vamos mudar e lutar, lutar, lutar. Eu quero é democracia”.

A Virada Cultural em São Paulo foi marcada por atos políticos, por protestos da população, de artistas, de todos que em algum momento cantaram juntos um sonoro “Fora Temer”. Uma virada política na maior cidade do país.

Foto: Eduardo Martins - AgNews
Foto: Eduardo Martins – AgNews

Além de Elza Soares que cantou com a multidão, o rapper Criolo também incitou a união das pessoas. “O que eles querem é nos colocar uns contra os outros”. Enquanto isso, um “Temer Jamais” brilhava no painel do palco.

A descentralização dos palcos na Virada Cultural, espalhando programação gratuita por toda a cidade, não diminuiu a intensidade dos protestos. Todos os tipos de pessoas, jovens e velhos, em algum momento entoaram o coro “Fora Temer”.

O retrocesso em apenas duas semanas de governo é sinônimo de preocupação em todas as esferas sociais, principalmente às mais vulneráveis atingidas em cheio com medidas arbitrárias como a extinção do Ministério da Cultura (MinC) e cancelamento de diversas políticas públicas sociais, como o recuo no programa Minha Casa, Minha Vida.

Foto: Flavio Moraes G1
Foto: Flavio Moraes G1

E a cultura resiste. Os artistas promovem movimento em todo o país com ocupações de prédios e espaços públicos, com atos culturais, música, teatro, performances, todas as expressões artísticas que sigam o mesmo propósito de restaurar a democracia no país.

O show de Elza Soares no sábado foi inflamado. As vozes ressoaram pela avenida São João, como sua canção da mulher do fim do mundo.

Foto: Flavio Moraes G1
Foto: Flavio Moraes G1

E Criolo no domingo inflamou a todos no palco da Praça Julio Prestes. Deu exemplo de cidadania, de resistência, de amor. “Quem vem da favela tem mãe também”. Falou no microfone para lembrar que todos somos humanos, não importa de onde viemos, caminhamos juntos para o mesmo inevitável final. “Só da gente estar vivo já é um protesto”.

O aspecto político da Virada Cultural já é alvo de manifestação de vereadores paulistas do PMDB, que acusam a Prefeitura de São Paulo de utilizar o evento para incitar o público aos protestos. A Secretaria de Comunicação se posicionou que todas as manifestações são de responsabilidade dos artistas e do público.

Foto: Flavio Moraes G1
Foto: Flavio Moraes G1

Artistas são sinônimo de resistência, principalmente em tempos de incerteza como o que vivemos atualmente. Este movimento tem crescido em todo o Brasil, com o posicionamento e união dos segmentos culturais em defesa da autonomia das políticas públicas implementadas com muita luta. E vai ter luta sim, porque esta luta é maior do que uma guerra entre os partidos políticos que se digladiam para permanecer no poder. Esta luta é para dar voz aos oprimidos, aos sonhadores, que continuam a resistir.

É revigorante e emocionante participar de um evento como este, que reúne pessoas de diferentes credos, classes sociais, que revelam toda a incoerência deste sistema político que vivemos. Recarrega nossas baterias e nossas forças. Para encerrar seu show, Criolo pediu que abraçássemos o próximo, quem estava do nosso lado. E foi lindo. Todo mundo trocou energias e se convenceu, de que juntos somos fortes, e fazemos toda a diferença.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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