Por fauno guazina*

eu fracassei em tudo que planejei.
não houve nada que eu não tivesse tentado que não tivesse dado errado.
juro, foi assim todas as vezes, me levantei e cai, várias vezes.
me contentei sim, me contentei com as migalhas do caminho.
não é fácil rejeitar o pouco quando se tem nada.
é muito difícil não se humilhar quando se deseja tudo.
as vezes parece que é pouco, mas quando se vê, já está ali, em muita merda.

mas isso tudo não é um desabafo, uma ordem depressiva, uma onda de lua cheia.
isso não é um canto ébrio e forasteiro, isso não é, nem tenta ser.
haja visto que seu eu quiser que fora, em minha sina, ele bem provável falhará.
por isso não sei o que é isso, só sei ser isso. tenho sido assim e tem sido melhor.
vc viu não viu? no parágrafo anterior eu não era bem algo a se ter como exemplo de sucesso.

termos escorregadios, há muito eles vem envenenando minha sina, me separando do que eu sou. se vc me perguntar eu te respondo. eu faço aquilo que amo e só sei fazer isso, de resto deixo a roda viva arrastar pra lá. aprendi que tenho poucas, bem poucas possibilidades de escolha neste vasto mundo de raimundos e dandaras. eu não busco o sucesso, busco o aprendizado. um caminho que tenha coração.

não posso mudar o outro, mas permito o quanto ele tem poder e vontade sobre mim.
não posso mudar quem sou, a menos que eu queira de fato isso, por mim e não pelos outros. posso não me aceitar jamais, mas só sofrerei mais e mais, até que encontre paz em ser quem eu sou. paz é quando vc sente que mesmo em meio a adversidade de pontos de vistas e cosmovisão, vc sabe ela. não adianta fugir, todas as suas fugas vão te fazer girar e trazer de volta. cara a cara com seus fracassos, abrace-os. faça a faxina em você antes que todo o seu mundo seja baderna e não se ouça mais em meio a tanto de si mesmo. centre em você, sua consciência é seu guia, sua voz a direção.

parece sozinho, mas meus fracassos me levaram a caminhos que eu escolhi.
tenho certeza que eles me pertencem, pois minhas rugas não os negam.
meu caminho, cheio de poetas e aprendizados, de gente aclamada e gente bem comum.
ele é recheado de outros fracassados que não se cobram mais do que podem dar, propriamente nada. todos perdidos, mas juntos encontrados. ninguém vaga sozinho, mas cada um tem o que merece.

tudo isso eu traduzi assim, quase que numa ladainha, a minha caravela:
– A cada dia fracassar, fracassar mais, então fracassar irremediavelmente, até que fracasse melhor, o melhor dos fracassos, o fim.

*fauno guazina é produtor cultural, designer e professor universitário.

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