O relógio marcava 4:30 da manhã. As nuvens ainda estavam escuras no céu. Fiel à rotina, levantou-se, pé por pé, quase que supersticiosamente. Abriu os olhos miúdos, um pouco cegos devido à idade avançada, mas com a teimosia de companheira, não procurava médico e nem queria saber de óculos, cirurgia, nada. Queria viver religiosamente seus dias.

5:00 da manhã. O cheiro de café inundava todos os cômodos da casa. Silenciosamente, sentou-se em sua cadeira de fio, com uma xícara grande em uma mão e um pedaço de broa de milho na outra. Este momento o remetia à sua infância, quando brincava no chão ao pé da mesa de madeira, enquanto os pais conversavam sobre o movimento que crescia na cidade.

Nestes breves momentos lembrava-se da infância com nitidez, e sua mente divagava, a conjecturar se estas memórias sempre estiveram ali, guardadas, e até então esquecidas. Só podia ser a idade – continuava a insistir. Com os chinelos velhos nos pés lentos, voltou até o seu quarto. A cama era baixa, antiga, o colchão era fino, assim como os lençóis. Um espelho pequeno refletia a janela que estava fechada. A casa mais antiga que a cama velha, era um casarão de esquina na rua que subia para o centro.

Parou diante do espelho, perdido alguns segundos na própria lembrança de si, o rosto marcado pelo tempo revelava traços de uma solidão ingênua.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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